Argentina: fundos de investimento amargam perdas com a exposição ao país

Resultado de prévia eleitoral pegou gestores de surpresa; Exploritas e Vista Capital estão entre as casas prejudicadas

Mariana Zonta d'Ávila Beatriz Cutait

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(Matéria atualizada em 13/08/2019, às 16h10)

SÃO PAULO – “Hoje já vemos os primeiros sinais de estabilização e melhora da economia argentina. Coincidência ou não, as pesquisas já mostram aumento significativo da aprovação do governo.” O trecho anterior foi extraído da carta mensal enviada em junho pela equipe de análise da Vista Capital, aos cotistas do fundo Vista Multiestratégia, e dá uma indicação do quão surpreendente foi o resultado das primárias da eleição presidencial da Argentina neste domingo.

Contrariando as previsões, a dupla Alberto Fernández e Cristina Kirchner superou os 47% dos votos, alcançando 15 pontos a mais que Mauricio Macri, atual presidente e candidato à reeleição. As eleições gerais no país estão marcadas para 27 de outubro, com um eventual segundo turno programado para o dia 24 de novembro. O novo governo vai assumir o país em 10 de dezembro. 

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As eleições de domingo, conhecidas como PASO (Primárias, Abertas, Simultâneas e Obrigatórias), servem para definir os partidos e candidatos habilitados a participar das eleições gerais. O comparecimento dos argentinos foi de aproximadamente 75%. 

Ainda que sejam apenas uma prévia das eleições definitivas, a expressiva diferença entre os principais candidatos fez o nível de tensão no país disparar, com uma apreciação de 30% do dólar em relação ao peso argentino pela manhã de segunda-feira, que levou o banco central do país a subir os juros em 10 pontos percentuais, para 74% ao ano, para tentar conter o movimento. O índice Merval, que representa as principais ações negociadas na Bolsa de Buenos Aires, fechou com queda de 38%.

A maior possibilidade de derrota de Macri preocupa, já que o atual presidente é visto com bons olhos pelo mercado diante de sua agenda liberal, pró reformas e maior abertura, em um país que ainda se vê às voltas de uma grave crise econômica. 

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Até este fim de semana, nada indicava que a ex-presidente e atual senadora Cristina Kirchner estaria tão próxima de retornar ao poder, ainda que na figura “secundária” de vice. 

Não à toa, em sua carta mensal de julho, a Vista Capital informou ter voltado a aumentar a exposição à Argentina. “A estabilidade cambial e os efeitos das medidas políticas e econômicas do governo Macri deram início a um ciclo virtuoso que perdurará nos próximos meses, aumentando as chances de reeleição do presidente. Além disso, como já mencionado em cartas anteriores, a entrada de Pichetto na chapa elevou o upside potencial de uma vitória de Macri.” 

Até sexta-feira (9), o fundo Vista Multiestratégia tinha retorno de 1,33% em agosto e acumulava leve alta de 0,76% em 2019 (ante variação de 3,83% do CDI no período) e de 8,15%, em 12 meses (acima da variação de 6,33% do CDI). Na segunda-feira (12), contudo, o fundo perdeu nada menos que 5,66% e passou a apresentar rendimentos negativos no mês e no ano.

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Ano perdido

Outra gestora que sofreu os efeitos da exposição em Argentina foi a Exploritas. Seu fundo Exploritas Alpha América Latina teve perda de 8,2% no dia 12 e passou a ficar no vermelho no acumulado de agosto. No ano, o fundo ainda tem alta de 5,83%.

Na segunda-feira, o gestor Daniel Delabio já havia dito que o fundo da casa tinha perdido com a posição em Argentina, embora tenha demonstrado confiança de conseguir recuperar as perdas no país “em dois ou três meses”. 

Em sua carta de julho, a casa disse que gostava da assimetria de risco/retorno na Argentina, expressa com “posições compradas na curva em dólares da província de Buenos Aires”. 

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Segundo Delabio, o multimercado Exploritas Alpha tinha, até sexta-feira, uma exposição de 8% em ações da Argentina, além de 15% em títulos do país. Ele se surpreendeu com o resultado das primárias eleitorais, já que enxergava, até ontem, uma chance de 30% de a chapa Fernández-Kirchner ganhar o pleito. 

Após o resultado, Delabio disse que passou a adotar uma posição de cautela: “não é hora de comprar nem vender”. Se, por um lado, não compensa vender os ativos em meio ao movimento de derrocada dos ativos, por outro, não é o momento de aumentar a exposição, já que adicionaria ainda mais risco à carteira.  

No mês até o último dia 9, o fundo Exploritas Alpha América Latina registrava perda de 0,84%, enquanto, no ano, tinha ganhos de 14,72% e, em 12 meses, de 22,84%. 

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Agora os investidores estão à espera de um possível pronunciamento de Alberto Fernández para acalmar o mercado, assim como mais detalhes sobre a equipe econômica caso seja eleito. “Não se espera que ele ganhe a eleição e no primeiro dia declare default“, avalia Delabio. 

Ajuste de posições  

Em relatório, o Morgan Stanley optou por rebaixar a recomendação para bancos argentinos, de “overweight” (acima da média do mercado, equivalente à compra) para “underweight” (abaixo da média, ou venda), após os resultados das primárias, citando o aumento de volatilidade e das incertezas. 

Em entrevista ao InfoMoney, um gestor de recursos que preferiu não se identificar disse que o fundo da casa chegou a ter uma alocação de 20% em ADRs (recibos de ações de empresas estrangeiras negociadas nos Estados Unidos) argentinas no começo do ano, em meio à avaliação de que os ativos estavam baratos e diante da visão de que Macri estava fazendo progressos na economia. 

A gestora reduziu a exposição ao país com a aproximação das prévias e a opção agora será focar em ativos no Brasil. 

Outras instituições também preferiram reduzir os riscos Argentina antes das primárias. Foi o caso do Credit Suisse, que recomendou que os investidores cortassem suas posições, assim como a equipe da Aberdeen Standard Investments.  

No mês passado, se antecipando a “um período de volatilidade prolongada”, a gestora recuou de uma posição “overweight” para dívida em moeda local, enquanto o J.P. Morgan Asset Management afirmou que até o rentável “carry trade” — operações que jogam com a diferença de juros entre os países — poderia ver seus retornos evaporarem a depender dos resultados.

Em relatório publicado hoje, o Goldman Sachs destacou que os resultados das eleições primárias são “praticamente irreversíveis”. De acordo com os analistas da casa, mais do que acompanhar as próximas pesquisas ou estratégias políticas específicas, investidores que insistirem na tese devem focar suas atenções em qualquer dica de uma agenda política de uma possível administração Fernandez-Kirchner. 

Com Agência Brasil

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