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Investidores que deram uma chance para ETFs (fundos negociados em bolsa) com exposição à criptomoeda Ethereum (ETH) se deram bem no mês de abril, com produtos temáticos de criptomoedas mais uma vez superando opções tradicionais disponíveis na Bolsa.
Os retornos de pelo menos quatro ETFs que rastreiam criptomoedas superaram os obtidos pelos populares fundos de índice IVVB11, o maior da B3, que replica a carteira do índice americano S&P500; e BOVA11, que espelha o Ibovespa — o primeiro ficou no zero a zero no mês passado, e o segundo subiu 2,45%.
Ao contrário do que vinha acontecendo até aqui, os ETFs de Bitcoin (BTC) não lideraram a lista de ganhadores, refletindo o melhor desempenho do ETH em abril, mês em que o segundo maior criptoativo do mundo recuperou parte do tempo perdido e avançou mais de 8%, contra apenas 2% do BTC.
A redução da distância entre as duas maiores criptomoedas foi capturada pelos ETFs disponíveis no Brasil. Ainda assim, o QBTC11, produto da QR Asset exposto integralmente ao BTC, superou mais uma vez a “velha guarda” de ETFs, com avanço de 2,70%. Logo à frente vem o CRPT11, da TC Pandhora, que investe em várias criptos, mas tem maior peso em BTC e ETH, com alta de 2,89% no período.
Segundo ETF com melhor resultado em abril, o [ativo=WEB11], produto da Hashdex que investe pesado em Ethereum, saltou 3,13%. A dianteira ficou com um ETF que aposta diretamente no ETH: as cotas do QETH11, da QR Asset, valorizaram 4,91% em abril e foram as campeãs do mês.
A diferença entre o desempenho do QETH11 e o Ethereum se dá por diferença cambial (o ETH é negociado globalmente em dólares, e o ETF, em reais), além de uma falta de padronização da cotação dos criptoativos: existem várias cotações, dependendo do horário escolhido para fechamento da sessão, já que as negociações acontecem 24 horas por dia.
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O produto da QR Asset utiliza como referência o índice Ether Reference Rate, da CME, a bolsa de derivativos de Chicago, que pode diferir de plataformas como CoinMarketCap e CoinGecko, amplamente utilizadas no mercado de criptomoedas.
Otimismo de longo prazo
O resultado vem de uma combinação de notícias positivas para o Ethereum, principalmente depois de uma atualização bem-sucedida no último mês que abriu caminho para a adoção em massa do staking, sua solução de renda passiva nativa.
“Embora o efeito disso no curto prazo seja um estoque maior de moedas se tornando líquidas ou ‘vendáveis’, no médio e longo prazo essa melhoria estimula novos participantes a utilizarem o staking do Ethereum para gerar rendimentos”, avalia Paulo Boghosian, head de research cripto da TC Pandhora.
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O especialista também destacou melhorias futuras previstas para o Ethereum, incluindo inovações nas carteiras para proporcionar experiência similar à de contas bancárias — algo que pode reduzir barreiras de entrada no setor. “Essas melhorias como um todo endereçam diversos gargalos de adoção no mercado cripto e do Ethereum especificamente, e espera-se que tragam mais adoção e utilização do Ethereum”.
Apesar de ter apenas cerca de oito anos de vida, o Ethereum vem ganhando tração na indústria, sendo escolhido como plataforma para tokenização de ativos financeiros, ou como inspiração para o desenvolvimento de soluções próprias de governos, como é o caso do real digital.
Para Cauê Mançanares, CEO da Investo, a crescente adoção do Ethereum por empresas e instituições financeiras têm gerado maior interesse e demanda pelo ativo, o que pode ter impulsionado o desempenho dos ETFs que investem nela. “Esse último ponto se tornou mais evidente após a recente atualização do Ethereum em abril, que destravou o ETH depositado na rede do Ethereum pelos investidores”.
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Riscos regulatórios
O cenário de ETFs de criptomoedas no Brasil é mais avançado que nos Estados Unidos, onde ainda não há fundos de índice com exposição direta à classe de ativos. Os EUA contam apenas com ETFs de futuros de Bitcoin, e não têm listados fundos que compram diretamente BTC e, muito menos, o ETH.
Mas, nos bastidores, investidores estão de olho na pressão de reguladores por conta do sistema de staking, visto pela Comissão de Valores Mobiliários do EUA (a SEC) como tendo características de securities. Paira o temor de que a SEC possa afetar a capacidade das empresas de operar ETFs de criptos e, por consequência, o desempenho desses produtos.
Apesar de o cenário no Brasil ser mais benigno, há receio de que uma repressão maior nos EUA desencoraje o investidor a aportar em produtos regulados no País, temendo turbulências para o ativo no futuro.
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Mançanares, da Investo, acredita que a pressão regulatória pode levar a uma queda na demanda por criptoativos e, consequentemente, por ETFs que investem neles. Ele pondera, no entanto, que incertezas como essas são comuns em um setor nascente como o das criptos.
Confira o desempenho dos ETFs de criptomoedas em abril de 2023:
Nome | Código | Gestora | Retorno em abril de 2023 (em %) |
Retorno em 12 meses (em %) |
Retorno no ano (em %) |
Volatilidade em 12 meses (em %) |
Volatilidade em 2023 (em %) |
QR Ether | QETH11 | QR Asset | 4,91 | -35,25 | 48,46 | 77,55 | 55,73 |
Smart Hash | WEB311 | Hashdex | 3,13 | -55,4 | 58,51 | 92,87 | 76,48 |
Cripto20 Emp | CRPT11 | TC Pandhora | 2,89 | * | 38,46 | 62,11 | 58,81 |
QR Bitcoin | QBTC11 | QR Asset | 2,7 | -26,42 | 64,34 | 58,16 | 56,63 |
Hashdex Eth | ETHE11 | Hashdex | 2,15 | -34,27 | 49,57 | 76,96 | 53,86 |
ETF Galaxy B | BITI11 | Itaú | 1,6 | * | 64,04 | * | 55,98 |
Hashdex NCI | HASH11 | Hashdex | 0,45 | -29,83 | 58,84 | 62,85 | 54,56 |
Hashdex BTCN | BITH11 | Hashdex | -0,78 | -25,86 | 64,7 | 62,31 | 56,35 |
Meta Hash | META11 | Hashdex | -4,68 | * | 33,79 | 79,91 | 73,92 |
Investo NFTs | NFTS11 | Investo | -4,86 | -69,99 | 7,14 | 84,67 | 72,71 |
Defi Hash | DEFI11 | Hashdex | -9,52 | -45,07 | 21,46 | 87,66 | 53,46 |
ETF QDFI | QDFI11 | QR Asset | -12,01 | -47,83 | 22,75 | 80,3 | 64,71 |
*Sem dados para o período
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Fonte: Economatica
Os maiores perdedores de abril: onda DeFi acabou?
As soluções de finanças descentralizadas (DeFi) rodam principalmente no Ethereum, mas seus tokens não tiveram o mesmo desempenho do ETH no mês passado. Os ETFs com exposição ao setor DeFi ficaram no final da fila em termos de desempenho, em movimento puxado pela dominância das criptomoedas de maior valor de mercado em 2023.
“Apesar de ainda haver uma correlação relevante entre criptoativos, nem todos são iguais e, como qualquer mercado, há heterogeneidade de retornos entre diferentes setores e mesmo intrassetorial”, explica Boghosian, da TC Pandhora.
“Foi justamente isso que ocorreu”, conta. “Sob o ponto de vista de fluxo, com pouco dinheiro novo entrando no mercado cripto, os criptoativos de maior capitalização de mercado, como Ethereum e Bitcoin, se beneficiaram mais; enquanto altcoins, como as do setor DeFi, sofreram mais”.
Por outro lado, o desempenho mais fraco dos ETFs temáticos de DeFi também pode ser atribuído a um descompasso entre a velocidade de balanceamento das carteiras com o ritmo de inovação no segmento: protocolos mais recentes ainda não superaram as linhas de corte das gestoras, e projetos estabelecidos que costumam compor os portfólios mudaram pouco e estão ficando para trás.
“Recentemente houve pouca inovação e aumento de market share nos aplicativos mais conhecidos em DeFi, principalmente nas corretoras descentralizadas, como Uniswap, que compõem grande parte do índice do ETF”, aponta Boghosian.
Apesar de ter grande peso nos ETFs de DeFi, a Uniswap (UNI) perdeu espaço no setor, tanto por ser muito visada por reguladores, quanto por ficar devendo na comparação com projetos que, por exemplo, passaram a pagar dividendos aos usuários, como é o caso de Curve (CRV) e GMX (GMX).
Histórico no vermelho
Apesar da alta em 2023, a janela de 12 meses dos ETF de criptomoedas ainda está negativa, algo apontado como repelente para o investidor que olha o desempenho de longo prazo dos produtos nos quais deseja aportar. O pior resultado nesse período é do NFTS11, da Investo, que aposta na tese dos tokens não-fungíveis (NFTs), segmento que sofreu bastante na crise do ano passado.
“Assim como empresas de tecnologia e varejo, o setor de criptomoedas está altamente correlacionado quando falamos de ‘liquidez’ do mercado. Isso é observável quando o S&P e as big techs sofreram junto com as criptos quando o FED elevou as taxas de juros, retirando liquidez do mercado”, explica Victor Marques, planejador financeiro da Planejar.
O cenário de “tempestade perfeita” que foi 2022 não é o único culpado. “A maior razão pela baixa dos criptoativos em geral é a incerteza regulatória de vários países em relação ao setor, em especial nos EUA. Também vale lembrar que além do mercado de criptoativos possuir uma natureza volátil, tivemos uma guerra e uma crise mundial econômica que ainda acontecem”, pontua o CEO da Investo.
“Para investidores que pretendem alocar recursos no mercado de ETFs de criptoativos, é importante avaliar cuidadosamente os riscos e oportunidades envolvidos. Isso inclui a compreensão da natureza volátil do mercado de criptoativos e a avaliação do desempenho histórico do ETF, bem como a consideração da regulamentação governamental e da adoção do mercado”, afirma.
Marques, da Planejar, ressalta que a mesma máxima para ações do value investing se aplica às criptomoedas: desde que a tecnologia tenha fundamento e aplicações relevantes, o investidor deve aproveitar as baixas “para comprar suas moedas e esperar uma valorização no médio/longo prazo”.