Apesar da retomada da Bolsa, gestores de ações descartam bolha no mercado brasileiro

Gestores da Alaska, AZ Quest, Forpus e Brasil Capital mostraram visão ainda otimista para a Bolsa, apesar dos riscos

Lucas Bombana

(Shutterstock)
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SÃO PAULO – Em tempos de juros extraordinariamente baixos, elevada liquidez e forte alta das bolsas, em contraste à economia real ainda bastante fragilizada, invariavelmente surgem discussões a respeito de uma possível bolha nos mercados.

Desde o piso do ano, em 23 de março, até 21 de agosto, a alta do Ibovespa é de consideráveis 60%. Para gestores de recursos com expertise no ramo, contudo, o fôlego ainda está longe de se esgotar.

“Fico extremamente curioso do por que que as pessoas falam de bolha”, disse Henrique Bredda, sócio e gestor da Alaska Asset Management, durante evento promovido nesta segunda-feira pela casa de análise de investimentos Eleven Financial.

Ao considerar o peso do setor financeiro e de commodities no Ibovespa, e os preços com que as ações de seus principais representantes vêm sendo negociados, o especialista entende não haver espaço para discussões a respeito de bolha na Bolsa.

“Imagine se o Bradesco ou o Itaú estão próximos de um valuation de bolha? Acho que é o contrário, ninguém entende o quão barato está e não anda”, afirmou Bredda, que citou ainda, dentro da mesma tese, Vale, Petrobras, e, de forma mais abrangente, os setores de saneamento básico e de energia elétrica.

Em coro ao gestor da Alaska, Walter Maciel Neto, CEO da AZ Quest, entende que o processo de migração do capital alocado na renda fixa em direção à Bolsa, e seu consequente impacto para o fomento do mercado, está apenas no início.

Segundo o executivo, há um “volume gigante” de dinheiro para ser transferido para ativos de risco, e as pessoas estão subestimando o efeito sobre a economia brasileira.

Para o CIO da Brasil Capital, André Ribeiro, a necessidade de realocação de capital por parte do investidor, no novo cenário de juro real próximo de zero, naturalmente remete à Bolsa, e a setores da economia real, como construção civil.

Inflação versus digitalização

Em linha com os colegas, o sócio da Forpus Capital, Luiz Nunes, também vê com bons olhos as perspectivas para os ativos de maior risco, diante de uma conjuntura de juros baixos com alta liquidez, que gera uma natural demanda por novas alternativas de investimento.

Ainda assim, Nunes apontou como um risco no radar o processo de reabertura das economias de uma maneira consistente, pela potencial volta da inflação que o movimento poderá trazer no bojo.

Será nesse momento, observou o gestor, que as autoridades monetárias mundo afora darão início à reversão dos programas extraordinários de socorro financeiro, que, em grande medida, têm sustentado os preços dos ativos de risco nos patamares atuais.

Para se precaver contra uma alta dos preços à frente, a opção da Forpus tem sido a de carregar proteções na carteira por meio de posições nos juros americanos, que tendem a subir de preço com a inflação em alta.

O CIO da Brasil Capital, por sua vez, embora considere que o risco inflacionário tem mesmo de estar entre os pontos de atenção do investidor, avaliou também que o processo de digitalização, fortemente acelerado pela pandemia, mitiga uma volta mais significativa dos preços nos próximos anos.

Entre as posições na carteira, Ribeiro citou B3, XP e BTG Pactual, pela maior sofisticação do investidor brasileiro frente à nova realidade de juros baixos, e pela resiliência para atravessar a crise pelo uso da tecnologia nas operações.

A Natura, e seu exército de revendedoras que migrou rapidamente para os meios digitais após o coronavírus, também foi apontada pelo gestor da Brasil Capital, bem como a Cosan, que Ribeiro acredita que ainda deve se beneficiar por bastante tempo da carência do país de grandes obras no setor de infraestrutura.

“Na Bolsa, temos as empresas mais saudáveis do Brasil, que entraram nessa crise, via de regra, pouco alavancadas financeiramente.”

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