Dívida da Americanas com aluguéis de FIIs já soma R$ 2,6 milhões em 42 dias de recuperação judicial

Nas últimas semanas, fundos reportaram inadimplência parcial no pagamento do aluguel devido pela varejista em janeiro, com vencimento em fevereiro

Wellington Carvalho

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O montante devido pela Americanas (AMER3) a fundos imobiliários que alugam imóveis para a empresa já totaliza R$ 2,6 milhões desde que a Justiça aceitou o pedido de recuperação judicial da varejista, no dia 19 de janeiro.

O valor se refere apenas aos aluguéis em aberto, principal fonte de receita dos FIIs, e não tem relação com outras dívidas incluídas na lista de credores da Americanas – exceto um mês de locação devido para o Max Retail (MAXR11), que acabou entrando no processo.

Pelo menos sete FIIs mantêm alguma ligação com a companhia. O número não inclui os fundos de shopping, que eventualmente têm a Americanas como inquilina.

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Nas últimas semanas, parte destas carteiras reportou inadimplência parcial no pagamento do aluguel devido pela Americanas em janeiro – e com vencimento previsto para fevereiro.

Em termos nominais, o maior valor em aberto – R$ 807 mil – se refere à locação de um centro de distribuição de 82 mil metros quadrados em Seropédica, no Rio de Janeiro, de propriedade do XP Log (XPLG11). Confira os detalhes:

Ticker Fundo Competência/Vencimento Valor do aluguel em aberto pela Americanas
XPLG11 XP Log Jan/fev  R$     807.351,69
GGRC11 e HGLG11 GGR Covepi e CSHG Logística Jan/fev  R$     733.909,76
MAXR11 Max Retail Dez/jan  R$     514.179,37
LVBI11 VBI Logístico Jan/fev  R$     300.000,00
MAXR11 Max Retail Jan/fev  R$     272.515,07
Total  R$  2.627.955,89

Fonte: Fatos relevantes, relatórios gerenciais e gestoras

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Segundo comunicado ao mercado, o XPLG11 recebeu da empresa apenas R$ 509,9 mil do montante de R$ 1,3 milhão que deveria ser pago pela locação do espaço, que representa 9% do portfólio do fundo.

“Sendo certo que resta pendente o pagamento de R$ 807,3 mil”, confirmou fato relevante divulgado pelo fundo no mês passado. “A parcela do aluguel que foi paga é equivalente a 12 dias do mês de janeiro a contar do dia 20, inclusive”, explica o documento.

Na sequência aparece o GGR Covepi (GGRC11), que comprou do CSHG Logística (HGLG11) o galpão de 89 mil metros quadrados locado para a Americanas em Uberlândia, em Minas Gerais.

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O fundo recebeu até agora R$ 1,162 milhão do montante de R$ 1,89 milhão devido pela locatária referente ao aluguel de janeiro – com vencimento em fevereiro. É o equivalente a 19 dias de locação.

Do total recebido, o (GGRC11) teve direito a R$ 925 mil – montante proporcional ao total já pago pelo imóvel. O restante do recurso ficou com o HGLG11, antigo proprietário do espaço.

Atualmente, o galpão em Uberlândia representa cerca de 24% da área bruta locável (ABL) total do GGR Covepi. O vencimento do vínculo está previsto para setembro de 2027.

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A crise da Americanas – que acumula dívidas de mais de R$ 47 bilhões – também alcançou a operação do VBI Logístico (LVBI11), dono de 70% da administradora do condomínio logístico Aratulog, na Bahia.

No final de fevereiro, a empresa responsável pelo imóvel ajuizou uma ação de despejo contra a varejista, que não pagou integralmente o aluguel referente a janeiro. A Justiça chegou a determinar preliminarmente a saída da locatária, mas a decisão acabou sendo revogada na sequência.

Segundo o LVBI11, a Americanas pagou 43% do valor devido, restando um saldo remanescente de aproximadamente R$ 300 mil.

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O fundo de logística da VBI Real Estate lembra que a participação da Americanas na receita total do fundo está na casa dos 7%.

Com uma dependência maior em relação à varejista, o Max Retail (MAXR11) cortou pela metade o dividendo distribuído em janeiro por causa da crise financeira da Americanas.

Dos nove imóveis do fundo, quatro estão locados atualmente para a empresa. Juntos, os espaços somam uma área de cerca de 32 mil metros quadrados dos quase 60 mil metros quadrados de ABL total do fundo – aproximadamente a metade.

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Em janeiro, a gestão do fundo havia sinalizado que não recebeu da varejista o aluguel referente a dezembro. O valor de R$ 514 mil havia sido incluído na lista de credores da companhia.

No mês passado, a carteira reportou ter recebido cerca de 53% do recurso referente ao mês de janeiro. Considerando o aluguel de dezembro – de R$ 514 mil –, o valor em aberto seria de R$ 272 mil.

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Ainda vale a pena investir em FIIs que alugam imóveis para Americanas?

A inadimplência de varejistas como a Americanas merece atenção do investidor, mas não é necessariamente motivo para vender as cotas dos fundos imobiliários que alugam imóveis para as empresas, afirma Marx Gonçalves, sócio e analista da Nord Research.

Ele falou sobre o tema na edição desta terça-feira (28) do Liga de FIIs, apresentando por Maria Fernanda Violatti, analista da XP, Thiago Otuki, economista do Clube FII, e Wellington Carvalho, repórter do InfoMoney.

“O risco de inadimplência é, sim, um ponto de atenção, mas não é determinante para a decisão de compra ou venda de um FII”, confirma Gonçalves. “Claro que é preciso analisar caso a caso, mas, de forma geral, o investidor não deve sair vendendo o fundo [por este motivo]”.

Ele sinaliza que, por enquanto, o impacto na distribuição de dividendos desses fundos é pontual e, caso se mantenha, a substituição do locatário resolveria o problema – especialmente para os fundos que tenham imóveis com boa capacidade de reposicionamento.

“Imóveis que apresentam boa localização, padrão elevado construtivo e que estão inseridos em regiões com baixa vacância tendem a ter uma alta capacidade de reposicionamento, ou seja, facilidade de substituir o inquilino”, explica.

O analista acrescenta que fundos que não têm grande parte da receita atrelada a apenas um locatário também costumam passar por situações de inadimplência sem grandes sustos.

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FIIs que, até agora, não sofreram com o efeito Americanas

Outros três fundos que mantêm ligação direta ou indireta com a Americanas, até agora, não manifestaram problema com a inquilina.

Entre as carteiras está o RBR Log (RBRL11), que tinha a varejista como locatária, mas a empresa comunicou o fundo, no final do ano passado, a intenção de devolver o imóvel locado em Hortolândia, no interior de São Paulo.

“Sendo assim, informamos que para o RBR Log nada mudou, uma vez que as obrigações financeiras devidas pela Americanas ao fundo durante o período de aviso prévio estão sendo normalmente pagas em sua integralidade”, pontua relatório gerencial divulgado pelo fundo nesta quarta-feira (1).

O Bresco Logístico (BRCO11), que aluga 3% do portfólio para a companhia, vai na mesma linha e, até então, não comunicou pendências envolvendo a Americanas.

O mesmo vale para o Vila Olímpia Corporate (VLOL11), que aluga cerca de 3 mil metros quadrados do imóvel para a Bit Services Inovação e Tecnologia e para a Ame Digital – ambas ligadas à Americanas. O portfólio do fundo, aliás, foi vendido para outro FII de escritório, o VBI Prime Office (PVBI11).

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Os fundos imobiliários de shopping classificam como pouco relevante a participação da Americanas nas receitas do fundo, mas prometeram entrar com uma ação de despejo caso a empresa não honre os pagamentos de aluguéis.

Antes mesmo do posicionamento dos FIIs, a varejista notificou os shoppings onde tem lojas físicas de que os aluguéis devidos até a data do deferimento do pedido de recuperação judicial, em 19 de janeiro, não seriam pagos – por conta do efeito de suspensão de cobranças conferido pela Justiça.

Mais informações e análises sobre o impacto da crise financeira das varejistas nas operações dos fundos imobiliários você confere na edição desta terça-feira (28) do Liga de FIIs. Produzido pelo InfoMoney, o programa vai ao ar todas as terças-feiras, às 19h, no canal do InfoMoney no Youtube. Você também pode rever todas as edições passadas.

Wellington Carvalho

Repórter de fundos imobiliários do InfoMoney. Acompanha as principais informações que influenciam no desempenho dos FIIs e do índice Ifix.