As 10 maiores altas e baixas de ETFs no 1º semestre de 2022; fundos de renda fixa e dividendos se destacam

Fundos de índices de criptomoedas e tecnologia, correlacionados entre si, registraram quedas de até 75% entre janeiro e junho

Katherine Rivas

(Shutterstock)
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O aumento global das taxas de juros e inflação e o sentimento de aversão ao risco dos investidores tiveram forte influência no desempenho dos fundos de índice (ETFs) no primeiro semestre de 2022.

Teses de criptomoedas e tecnologia – altamente correlacionadas entre si – sentiram os impactos à flor da pele, liderando as quedas, que chegaram a quase 75% entre janeiro e junho.

Na contramão, os melhores desempenhos foram dos ETFs de renda fixa e daqueles que reúnem empresas que pagam bons dividendos ou do setor financeiro. Também houve espaço para os ETFs que seguem índices de fundos imobiliários.

No balanço de ETFs do primeiro semestre de 2022, o InfoMoney apresenta os fundos de índice com melhor desempenho e os que mais desvalorizaram, segundo levantamento de Einar Rivero com dados da plataforma Economatica.

Os dez ETFs da B3 com melhor desempenho no 1º semestre

ETF Retorno
no semestre
B5P211 7,73%
IMAB11 6,81%
IMBB11 4,93%
DIVO11 4,79%
IB5M11 3,85%
B5MB11 1,55%
IRFM11 1,40%
FIND11 1,16%
FIXA11 0,32%
XFIX11 0,20%

Fonte: Economatica

ETFs de renda fixa foram destaque

A maior alta do semestre foi do ETF B5P211. Este replica o índice IMA-B 5 P2 da Anbima, composto por títulos do Tesouro IPCA+ e Tesouro IPCA+ com juros semestrais, com vencimentos em até cinco anos. O B5P211 acumulou alta de 7,73% no semestre.

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E foi seguido pelo IMAB11 e o IMBB11, que avançaram 6,81% e 4,93%, respectivamente. Ambos os ETFs replicam o desempenho do índice IMA-B, investindo em títulos do Tesouro IPCA+ e Tesouro IPCA+ com juros semestrais, de curto e longo prazo.

Na lista dos melhores desempenhos também foi possível encontrar ETFs que garantem uma exposição a juros prefixados e títulos atrelados à Selic, além de teses relacionadas a títulos de inflação de longo prazo.

Segundo Felipe Paletta, sócio-fundador e analista da Monett, todos estes ETFs foram beneficiados pela aceleração nas taxas de juros durante o primeiro semestre. Os que investem em papéis de inflação acabaram usufruindo também do aumento do preço unitário dos títulos, que, com a proximidade do fim do ciclo de aperto monetário, valorizaram. Paletta destaca ainda que a inflação surpreendeu ao longo do semestre.

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Diante de um cenário de incertezas, ele enxerga como oportunidade ETFs de renda fixa que reúnam títulos atrelados à inflação com vencimento superior a dois anos. “Comprar prazos curtos me parece arriscado, principalmente por uma redução da inflação de curto prazo”, diz.

Dividendos e setor financeiro

Ainda acompanhando o movimento de juros elevados, ETFs compostos por ações de empresas boas pagadoras de dividendos e do setor financeiro também foram beneficiados.

O ETF DIVO11, que replica o desempenho do Índice Dividendos (IDIV), teve a quarta maior alta do semestre, com ganhos de 4,79%.

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Segundo Thiago Gomes, especialista em ETFs e criador da plataforma ETF para Todos, a composição setorial do DIVO11 está dividida da seguinte forma: energia elétrica (38%), bancos (20%), minerais metálicos (9%), seguradoras (5%) e telecomunicação (5%). Outros setores somam 23% da carteira do fundo de índice.

Observando a composição individual, a principal posição é a Eletrobras (13%), seguida de Vale (7%), Vivo (5%), BB Seguridade (5%) e Itaúsa (4%). Gomes explica que a valorização do semestre foi puxada pelo desempenho da Eletrobras, já que ELET6 chegou a saltar 47,04% no acumulado do ano, favorecida pela desestatização.

Levantamento do InfoMoney aponta que nos últimos cinco anos a companhia foi um dos investimentos mais rentáveis, superando o desempenho do Ibovespa.

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Gomes reforça que o cenário macroeconômico desafiador fez com que os investidores dessem preferência a ativos com maior previsibilidade de geração de caixa, em detrimento de ativos de crescimento ou ligados à economia doméstica. “A composição setorial do DIVO11 ajuda a entender sua posição de destaque no primeiro semestre”, cita o especialista.

Ele acredita que o DIVO11 poderia ter apresentado um retorno melhor no semestre, dado que no primeiro trimestre disparou cerca de 18%, mas acabou devolvendo os ganhos seguindo a queda acentuada das bolsas globais.

Outro ETF que valorizou foi o FIND11, com alta de 1,16% no semestre. Este fundo segue o índice financeiro da B3 (IFNC), composto por ações de intermediários financeiros, bancos, previdência e seguros. “O setor financeiro é reconhecido por ser um forte gerador de caixa e historicamente teve um bom desempenho em ambiente de juros elevados, que é o atual cenário brasileiro”, afirma Gomes. Segundo o especialista, o bom desempenho do ETF foi puxado pela alta das ações do Banco do Brasil (BBAS3), que valorizaram 22,11% no semestre.

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Os dez ETFs da B3 com pior desempenho no 1º semestre de 2022

ETF Retorno
no semestre
QETH11 -74,77%
ETHE11 -74,19%
HASH11 -67,10%
QBTC11 -62,87%
BITH11 -62,60%
SHOT11 -54,59%
TECB11 -50,57%
BTEK11 -40,85%
TECK11 -38,68%
DNAI11 -36,67%

Fonte: Economatica

Inverno cripto

Os piores desempenhos do semestre foram dos ETFs de criptomoedas, que replicam o desempenho do Ethereum, Bitcoin ou também de uma cesta de criptoativos.

A maior queda foi do QETH11, ETF da gestora QR Asset, que segue o desempenho do Ethereum. O fundo de índice acumulou baixa de 74,77% no semestre. Na segunda posição também estava um ETF focado no Ethereum, mas da gestora Hashdex, o ETHE11, com queda de 74,19%.

Já na terceira posição, o HASH11 apresentava queda de 67,10%. O ETF é o segundo maior em cotistas da B3, atrás apenas do IBVV11, que replica o índice S&P 500 . Na sua cesta de ativos, o HASH11 reúne 11 criptomoedas de diversos segmentos.

Segundo Ray Nasser, CEO da mineradora de Bitcoin Arthur Mining, a queda dos ETFs de criptomoedas se justifica pela aversão ao risco dos investidores frente a ativos de tecnologia em um cenário de alta de juros. Ele explica que as criptomoedas são vistas pelo investidor como um ativo de risco ligado ao segmento tech e muito correlacionado com as empresas americanas.

Ele lembra que ações como Netflix, Facebook e Amazon apresentaram quedas acima de 40% no semestre, enquanto criptoativos como finanças descentralizadas (DeFi), contratos inteligentes, Web3 e Bitcoin caíram 60% ou mais.

A liquidez também afeta, cita Nasser. “O setor de criptomoedas tem meio trilhão de dólares de liquidez, contra US$ 100 trilhões do mercado de ações global”, aponta.

Para Helena Margarido, analista de criptomoedas da Monett, os ETFs de criptomoedas ainda seguem acompanhando o movimento dos juros e da inflação global, que diminui o apetite ao risco dos investidores.

No curto prazo, a analista não enxerga uma perspectiva de reversão neste movimento de queda. “O problema é macro, mas acredito que o arrefecimento da taxa de juros está próximo por conta da recessão dos Estados Unidos, que deve fazer o Federal Reserve rever as suas políticas”, avalia. Helena acredita que apenas quando os juros iniciaram um movimento de queda os ETFs de criptomoedas devem apresentar chances de recuperação.

Tecnologia ainda sofre

Os ETFs de tecnologia também figuraram entre os dez piores desempenhos do semestre.

Fabio Louzada, analista de investimentos CNPI e CEO da Eu me banco, explica que as ações de tecnologia têm parte dos ganhos projetados no futuro – e por consequência, quanto maiores os juros, menor será o ganho das empresas lá na frente. “As ações de tech estavam com preços mais altos justamente por projetarem ganhos elevados e acabaram sofrendo com a perspectiva de aumento de juros”, afirma. O custo de financiamentos mais caro, afinal, reduz os lucros.

Entre os ETFs de tecnologia que mais recuaram no semestre, o destaque é para o SHOT11 e TECB11 que acumularam perdas de 54,59% e 50,57%, respectivamente.

O ETF SHOT11 replica o índice S&P Kensho Moonshots, calculado pela S&P. O analista cita que entre as maiores posições do ETF estão empresas como MicroVision, Vuzix, ExOne e Immunity, que apresentaram forte queda.

Os papéis da MicroVision, por exemplo, chegaram a recuar mais de 50% em janeiro, um dos piores meses para o índice Nasdaq, por conta da sinalização do Fed (Federal Reserve, banco central americano) de uma alta dos juros a partir de março.

“Olhando para os próximos seis meses, os juros devem seguir em alta. Vimos que o BC está mais preocupado com a inflação do que com uma futura recessão, e isso deve continuar afetando as empresas techs”, afirma.

Já no TECB11, Louzada cita que as principais empresas da cesta são TOTS3, MGLU3, BIDI11, STOC31, MELI34 e PAGS34, que também sofreram pelos juros elevados. Segundo o analista, o período eleitoral deve mexer ainda mais com estes segmentos, logo não seria um bom momento para entrar no fundo de índice.

Confira também os cinco ETFs da B3 com melhor e pior desempenho especificamente durante o mês de junho de 2022:

ETF Desempenho em junho
XINA11 19,47%
BTEK11 18,42%
HTEK11 11,42%
DNAI11 9,89%
GOLD11 8,41%

Fonte: Economatica

ETF Queda
QETH11 -42,37%
ETHE11 -40,98%
CRPT11 -40,75%
HASH11 -36,82%
QBTC11 -34,25%

Fonte: Economatica

Radar ETF

Arthur Maria do Valle, fundador da Trendset e associado à OhmResearch, levantou para o InfoMoney as principais novidades que o mercado de ETFs brasileiros apresentou no primeiro semestre de 2022. Diversos fundos de índices foram lançados, principalmente temáticos e setoriais, de ativos locais e internacionais. A maior parte, segundo Valle, foram ETFs de criptoativos, com taxas de administração bastante superiores às dos ETFs convencionais.

Segundo dados da Economatica, 14 novos ETFs chegaram à Bolsa em 2022, dos quais sete são de criptomoedas, que acompanham teses relacionadas a finanças descentralizadas, NFTs, Web3, metaverso e contratos inteligentes. “A maioria dos lançamentos foram feitos por gestoras que entraram recentemente no mercado, como Investo, Hashdex e QR Capital”, destaca Valle.

A Empiricus também entrou nesse universo em maio, com o lançamento do CRPT11, um ETF de criptomoedas semelhante ao HASH11.

A estreia de novos ETFs de criptomoedas coincidiu com o período de desempenho ruim para a categoria. Segundo Valle, a causa provável é o tempo necessário para criar, aprovar, lançar e distribuir um ETF no Brasil. As gestoras, em sua visão, foram pegas de surpresa pelo mau momento do mercado, enquanto ETFs como o CRPT11, NFTS11 e WEB311 estavam saindo do forno.

Valle também destaca a chegada de novos BDRs (Brazilian Depositary Receipts) de ETFs internacionais, focados em renda fixa e variável, mas com baixa liquidez – e, portanto, menos competitivos se comparados com os ETFs, que possuem maior liquidez, apesar de uma taxa de administração mais alta que a dos BDRs.

Segundo o especialista, ETFs setoriais e temáticos costumam não ter um desempenho melhor no longo prazo do que fundos de índices amplos – que, em sua visão, faltam no mercado local. “Temos muitos ETFs repetidos, que seguem o índice Ibovespa ou o S&P 500, mas ainda não temos mais ETFs que sigam o IBRX ou algum índice de todo o mercado americano”.

Em relação a taxas de administração, Valle lembra que a gestora Investo anunciou uma redução em cinco dos seus ETFs desde terça-feira (28). Vale para USTK11, ALUG11, JOGO11, 5GTK11 e BTEK11, que passam a ter uma taxa de administração de 0,30% ao ano. Cauê Mançanares, CEO da Investo, afirmou que os novos ETFs de renda fixa internacional da gestora, previstos para estrear em julho, terão uma taxa de 0,25% ao ano.

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Katherine Rivas

Repórter de investimentos no InfoMoney, acompanha ETFs, BDRs, dividendos e previdência privada.