Ainda vale investir em commodities ou oportunidades já acabaram? Confira as apostas de Dahlia e Kapitalo

Gestores acreditam que preços ainda podem cair mais no curto prazo, mas visão para o futuro, com retomada da demanda, é "construtiva"

Katherine Rivas

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As commodities, sem dúvida, brilharam na primeira metade do ano – mas nos últimos dois meses sofreram um movimento de correção que preocupou alguns investidores. A recessão será inevitável, segundo Bruno Cordeiro, sócio e gestor da Kapitalo, e deve atingir as três principais economias globais.

Diante deste cenário, o ciclo de oportunidade nas commodities acabou ou ainda vale fazer alocações estratégicas de olho no curto e médio prazo? E afinal, é o investimento na commodity ou nas ações de empresas de commodities que propiciará bons retornos ao investidor?

O tema foi assunto de debate na Expert XP, nesta quarta-feira (3) — para acompanhar as palestras online ou presencialmente em São Paulo, inscreva-se aqui. Participaram do painel Felipe Hirai, sócio e membro da equipe de gestão da Dahlia Capital; André Vidal, head de Óleo, Gás e Materiais Básicos da XP; além de Cordeiro, da Kapitalo.

Na visão de Cordeiro, a recessão não pode ser considerada um processo binário. “Quanto mais forte, pior. Desta vez, a recessão será sincronizada nas três economias por questões distintas”, destacou. Ele se refere a Europa, Estados Unidos e China.

A China, lembrou, é a maior consumidor de commodities do mundo e, na visão do gestor, enfrenta desde 2021 uma depressão econômica, um grau além da recessão, por conta da crise do seu mercado imobiliário. Já nos Estados Unidos, Cordeiro cita o desequilíbrio entre oferta e demanda, enquanto a Europa deve ter uma recessão provocada pelo choque de energia.

“O que me impressionou não foi a queda dos preços [das commodities em si] e, sim, que as ações de commodities ficaram [com cotações] muito baixas o ciclo inteiro” apontou o gestor. Para o curto prazo, a visão da Kapitalo é de que os preços continuarão caindo por conta da recessão – mas dados os estoque baixos e até o desabastecimento em alguns setores, que deverão recuperar a demanda, a visão é construtiva para o futuro.

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Diante desse desequilíbrio entre oferta e demanda das commodities, a gestora tem preferido operar com derivativos e posições short (vendidas) em ativos como café e minério de ferro. Mas para o longo prazo, não descarta que ações do segmento se encontram muito baratas, como é o caso da Petrobras (PETR4), que está sendo impactada por outros fatores além do ciclo macroeconômico.

Na visão de Hirai, da Dahlia Capital, quando existe uma preocupação de baixa no mercado ainda não é o melhor momento de investir nas commodities, com foco no curto prazo. Ele acredita que o preço das commodities ainda deve cair mais por conta da recessão global, embora as ações de empresas do setor já estejam bastante depreciadas.

Commodities metálicas ou agrícolas?

Quando o assunto é minério e aço, Hirai, da Dahlia Capital, enxerga um cenário pessimista para o curto prazo por conta dos dados da China e do ciclo de baixa no crédito do consumidor chinês, um cenário que ele aponta como difícil de superar no curto prazo sem a ajuda de estímulos do governo.

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“Não acreditamos em um colapso total do mercado imobiliário chinês, o governo já deve ter atuado para estancar o problema”, comenta. Contudo, o gestor lembra que haverá eleições na China neste ano, com Xi Jinping tentando seu terceiro mandato – e novos estímulos econômicos no país asiático são esperados apenas após a definição do próximo governo.

“Por isso estamos com visão negativa para o curto prazo. Acreditamos que o preço do minério e aço pode cair nos próximos três ou seis meses para depois voltar para um patamar relativamente alto”, avalia Hirai. Na visão dele, esse patamar alto se traduz em um minério negociado entre US$ 80 a US$ 100 por tonelada no médio prazo. Hirai destaca também a questão dos custos de produção, que têm aumentado mesmo nas empresas mais eficientes. “No passado, a Vale conseguia produzir uma tonelada por até US$ 20; hoje, o preço é de US$ 65”, aponta.

Diante desse cenário, Hirai comenta que a preferência da Dahlia é por commodities como o petróleo, com destaque para ações de petroleiras. A gestora tem posição de entre 15% a 20% em commodities, dos quais pelo menos 70% estão alocados em petróleo.

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Hirai comenta que Petrobras (PETR4) é um dos ativos da carteira que ganhou destaque com o recente anúncio de dividendos e um dividend yield de 20%. A casa também tem uma pequena posição em Vale (VALE3).

Ainda segundo o gestor, uma commodity que entrou no radar da casa depois da pandemia foi o cobre, uma oportunidade na tese ESG (ambiental, social e governança) que deve ganhar espaço diante do processo de descarbonização das companhias, rumo à eletrificação.

A casa também tem uma pequena posição em ações do setor de celulose, embora mais a título de diversificação e dolarização da carteira, dado que o preço da commodity “não cai de jeito nenhum”, de acordo com Hirai.

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Já em relação ao segmento agrícola, Cordeiro, da Kapitalo, cita que a produtividade agrícola cresceu com força nos últimos 20 anos, mas foram perceptíveis quebras de safra nos últimos dois ou três anos. Isso levou a produção a recuar e os preços das commodities, a aumentar, dada a demanda perene.

“Quando ocorrem essas quebras se safra sequenciais, o mercado fica apertado e os preços sobem”, comentou. Mas conforme a produtividade volta, os preços se normalizam gradualmente, na análise do gestor. Assim, as commodities agrícolas voltariam a negociar a preços elevados no mercado financeiro diante de uma nova quebra de safra, na visão de Cordeiro.

O desequilíbrio entre oferta e demanda das commodities tem representado oportunidades pontuais para a Kapitalo, que prefere se posicionar vendida (short) em ativos como café, minério de ferro e até “namora” a possibilidade de ficar short em petróleo no curto prazo. “Também estamos comprando dólar e observando moedas de países emergentes”, diz.

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O ouro foi esquecido?

Os gestores foram ainda questionados sobre o motivo de o ouro não ter subido, diante da inflação, da incerteza global e dos conflitos geopolíticos. O metal costuma ser vista como uma reserva de valor, um porto seguro na crise, mas tem dividido o seu espaço com criptomoedas, como o Bitcoin.

Segundo Hirai, da Dahlia Capital, além da inflação e do choque entre a oferta e demanda, é necessário um cenário com taxas de juros reais em queda e um dólar fraco para favorecer o ouro.

As duas últimas variáveis não foram verificadas no ciclo de aperto monetário global, motivo pelo qual o ouro não foi muito procurado pelos investidores no curto prazo, destaca Hirai. Mas para o médio e longo prazo ele acredita que ainda pode ter um bom desempenho. Com a expectativa de o dólar continuar subindo, a gestora prefere não ter posição em ouro no curto prazo.

Cordeiro, da Kapitalo, reforçou esta visão e disse que ainda há muito espaço para a continuidade de aperto monetário nos Estados Unidos. Com taxas subindo, a moeda dos emergentes deprecia e o dólar valoriza. Em consequência, o ouro fica em segundo plano.

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Katherine Rivas

Repórter de investimentos no InfoMoney, acompanha ETFs, BDRs, dividendos e previdência privada.