Adam Capital muda estrutura e vê multimercado remar na contramão do mercado no ano

Em entrevista exclusiva, executivos da gestora afirmam que casa poderia estar mais "engessada do que deveria" antes e falam sobre as principais posições que fizeram o Adam Macro performar bem em 2024

Bruna Furlani

André Salgado, sócio-fundador da Adam Capital, e Márcio Appel, CEO e sócio-fundador da casa. Foto: Divulgação
André Salgado, sócio-fundador da Adam Capital, e Márcio Appel, CEO e sócio-fundador da casa. Foto: Divulgação

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Depois de causar uma verdadeira revolução e atrair uma fortuna de dinheiro para seu multimercado em 2016, a renomada gestora Adam Capital teve que se reinventar para retomar a confiança de investidores após retornos ruins em seu principal produto, Adam Macro. Agora, a casa parece colher os primeiros frutos de um longo processo de reestruturação iniciado há cerca de 18 meses.

Na contramão de boa parcela dos fundos multimercados, que acumulam rentabilidades abaixo do CDI neste ano, na média, o Adam Macro, principal produto da casa, apresenta ganhos de 8,54% até a última segunda-feira (27), contra um CDI de 4,27% no mesmo período.

Em entrevista exclusiva ao InfoMoney na última segunda-feira (27), Márcio Appel, CEO e sócio-fundador da gestora, contou que uma alocação vendida (que aposta na desvalorização) em real contra peso mexicano, comprada (que aposta na valorização) em ouro e principalmente, uma posição tomada (que se beneficia da alta) em juros globais foram as maiores contribuições para o desempenho do produto ao longo deste ano.

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Próximo movimento do Fed pode ser de alta

Por balizar o preço do resto dos ativos, o olhar está focado nos juros nos Estados Unidos. De olho nas mudanças provocadas pela pandemia e na força da economia americana, Appel acredita ser possível que o próximo movimento do Federal Reserve (Fed, banco central americano) seja de alta de juros e não de corte, como prevê boa parcela do mercado hoje.

“Na nossa leitura, a taxa de juros americana não é restritiva pelo fato de que a economia não mostra sinais de arrefecimento. Começamos a ver alguns dirigentes do banco central questionando o grau de restritividade da taxa. O Fed tem revisto isso pela falta de uma ‘consequência’ [na economia] em um período já prolongado de taxas altas”, defendeu.

Para o executivo, será preciso um nível de ociosidade maior na economia para trazer a inflação para meta. Appel também defende que o corte deverá ser postergado nos Estados Unidos, a partir do momento em que a inflação “descolar” mais, mas pondera que isso não deve ocorrer antes das eleições em novembro.

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O processo de flexibilização monetária também é visto com certa preocupação no Brasil. Ao ser questionado se o próximo movimento da Selic também pode ser de alta no curto prazo, Appel não descarta a possibilidade. “Se o Fed subir, isso vai ditar o resto do mundo”.

Dentro da alocação Brasil, a casa está com uma posição pequena tomada em prefixados e em Bolsa brasileira. “Se o cenário de juros do mercado estiver certo e a Selic cair, penso que o Ibovespa estará realmente barato. Por isso que entre ficar aplicado em juros ou comprado em Bolsa Brasil, eu prefiro a segunda opção”, afirma.

Após quatro meses seguidos de queda, o CEO vê a volta do fluxo estrangeiro para o mercado de ações local em maio como um movimento impulsionado pela busca por outros mercados depois que índices americanos bateram novas máximas neste mês, caso do S&P500. “Se continuar com a euforia lá fora isso pode acabar transbordando para cá novamente”.

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“Mais engessados do que deveria”

O bom momento para o principal fundo da gestora ocorre ao mesmo tempo em que a casa passa por um processo de reestruturação, que teve início há cerca de 18 meses. A mudança foi puxada por retornos piores no principal produto da casa e por uma queda significativa no patrimônio líquido, que saiu de R$ 30 bilhões no auge da casa em 2018, para os atuais R$ 2,5 bilhões.

“Houve uma perda de credibilidade vinculada à performance, sem dúvida. A única forma palpável para recuperar isso é rendendo. Isso é o caso de 100% das casas. Tem que render durante um tempo maior. Não pretendemos fazer mais nada da vida a não ser isso”, diz Appel. Apesar do ano mais difícil para as gestoras em geral, a casa não tem sofrido muito com resgates e afirma que a captação tem se mantido mais estável, com a volta recente de alguns investidores que estavam no começo do Adam Macro.

Entre as principais mudanças estão o aumento da quantidade de pessoas mais experientes para tocar a mesa, com a chegada do gestor sênior Adriano Fontes, além do economista-chefe, Juliano Cecilio, e recentemente do gestor sênior João Pedro Bandeira de Mello, que tem passagens por casas como SPX, Kapitalo e Vista Capital.

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A entrada de novos nomes também mudou o quadro societário da empresa. “Estamos com o maior número de sócios que já tivemos. São 10. Nos últimos 18 meses, foi a primeira vez que o Marcio diminuiu a participação total para acomodar os gestores mais sênior. Ele estava aumentando antes”, conta André Salgado, sócio-fundador da casa.

Com as mudanças, agora a Adam possui cinco gestores que atuam na tomada de decisão, de maneira independente de Appel. A vinda de novas cabeças ajudou a oxigenar o debate dentro da gestora sobre o quebra-cabeças das carteiras. “Todos podem fazer de tudo e atuar em vários mercados. A ideia é passar mais risco para eles e gerar mais diversificação. Hoje, essa parte está em 25% e eu toco os outros 75%, mas o objetivo é que caminhe para 50% e 50%”, conta o CEO.

Outra mudança recente envolveu dar uma atenção maior a ajustes para deixar os fundos mais dinâmicos e menos “engessados do que deveriam”, como estavam antes, na visão da gestora. “Como o Márcio pensava uma tendência estrutural de longo prazo, sobrava pouco espaço para fazer, eventualmente, ajustes e olhar para essa reunião do Copom, por exemplo”, diz. “Mesmo com as posições mais core [centrais], também temos ajustado eventualmente o portfólio para eventos de prazo mais curto”, acrescenta Salgado.

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