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Em meio a um cenário de incertezas, a seletividade se torna cada vez mais necessária para escolher as melhores oportunidades de investimento em 2023 – e o cuidado vale inclusive para os ETFs (Exchange Traded Funds), também conhecidos como fundos de índice.
Esse tipo de ativo replica o desempenho de índices de mercados acionários, de renda fixa, ativos internacionais e até de criptomoedas. Entre os mais famosos está o BOVA11, que utiliza como referência o Ibovespa – principal índice da B3, que fechou 2022 com alta de 5,6%.
Para 2023, especialista ouvidos pelo InfoMoney mantêm a aposta em ETFs focados na renda variável doméstica, mas observando fundos com perfil mais segmentado.
“Enxergamos um cenário ainda nebuloso para os principais índices de ações e fundos imobiliários da Bolsa, o que prejudicaria ETFs como o BOVA11 e o XFIX11 [que replica o Ifix, índice dos fundos imobiliários]”, detalha relatório da Levante.
O documento sugere ao investidor optar por ETFs que tenham como referência ações brasileiras de setores consolidados e com preços atrativos – características que ajudariam a proteger o portfólio dos desafios previstos para 2023.
Incertezas x Oportunidades
Entre os principais desafios para o ano que se inicia está a desconfiança em relação à política fiscal que será adotada no terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, especialmente após a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) da Transição.
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O projeto permite que o governo federal utilize até R$ 145 bilhões – fora do teto de gastos – para pagamentos do Bolsa Família, programa de assistência social.
O receio de aumento dos gastos públicos fez com que o mercado elevasse a curva de juros do País, movimento que aumenta a rentabilidade da renda fixa e reduz a atratividade da renda variável – e dos ETFs que acompanham o desempenho de ativos mais arriscados.
Apesar dos desafios, há oportunidades na Bolsa que podem servir de referência para a escolha de ETFs em 2023. Empresas de qualidade estão cotadas abaixo do valor considerado justo, apontam os analistas.
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De forma geral, as ações do Ibovespa são negociadas com 40% de desconto em relação à média dos últimos 15 anos, de acordo com Fernando Ferreira, estrategista-chefe e head de Research da XP.
“O prêmio de risco – que compara os rendimentos da renda variável com os da renda fixa – mostra que as ações brasileiras estão baratas mesmo considerando o alto nível das taxas de juros”, diz Ferreira.
Small caps e boas pagadoras de dividendos no radar
Vinicius Lima, sócio e diretor comercial da Trígono Capital, gestora de recursos, também vê nos ETFs focado em renda variável doméstica uma boa estratégia para 2023, dado o nível de desconto das empresas negociadas na Bolsa.
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Ele cita principalmente os fundos de índice que replicam o desempenho das chamadas small caps – empresas de menor capitalização de mercado – que estariam ainda mais descontadas.
Mais sensíveis às flutuações dos juros, essas companhias podem ser também uma boa alternativa para quem busca capturar ganhos com a esperada queda da Selic, diz Lucas Carvalho, chefe de análise de investimentos da Toro, em relatório da corretora.
“A exposição em empresas com esse perfil pode ser bem interessante em 2023”, reforça. “[Seria possível aproveitar] um movimento de redução dos juros e a diminuição da aversão ao risco por parte dos investidores, com possibilidade de trazer rentabilidades acima da média”, sugere.
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Carvalho observa oportunidades ainda em ETFs que acompanham o desempenho de companhias que pagam bons proventos.
Essas empresas, explica o especialista, são geralmente mais sólidas e já estão em um estágio mais avançado de maturidade. Entre elas, estão companhias do segmento financeiro, seguradoras e utilities (saneamento e eletricidade).
Diversificação regional
Para quem busca uma diversificação ainda maior, ETFs que têm como referência ativos internacionais podem ser boa oportunidade para mitigar riscos domésticos. Na lista estão opções como o iShares S&P 500 IVVB11, que acompanha o mercado de ações dos Estados Unidos, e o Trend ETF MSCI China (XINA11), que segue o índice de ações do país asiático.
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“É preciso ter em mente que 2023 promete ser um ano de alta volatilidade também para os mercados dos Estados Unidos”, alertam os analistas da Levante Investimentos em relatório. “Uma vez que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) ainda não encerrou o aperto monetário iniciado em 2022 e a alta dos juros faz crescer os temores com os possíveis efeitos de uma recessão na maior economia do planeta” – que afetaria todo o mundo, complementa o texto.
Outro ponto que o investidor precisa ficar atento é a liquidez dos ETFs. Apenas 15 fundos de índice apresentaram liquidez média diária acima de R$ 5 milhões em 2022, de acordo com levantamento feito por Einar Rivero, head comercial da plataforma TradeMap.
Da lista, apenas sete terminaram o ano no campo positivo. Com alta de 13%, o destaque do período ficou para o DIVO11, que replica o IDIV, índice de dividendos da B3. Confira a lista completa abaixo:
ETF | Ticker | Volume médio diário em 2022 (R$ milhões) | Retorno em 2022 (%) |
It Now Idiv | DIVO11 | 10.878 | 13,14 |
It Now Ifnc Fundo de Indice | FIND11 | 12.104 | 11,67 |
Pibb Ind Brasil 50 | PIBB11 | 10.325 | 6,15 |
It Now Ibov | BOVV11 | 206.222 | 5,46 |
Trend Ibovx | BOVX11 | 11.689 | 5,15 |
Ishares Bova Ci | BOVA11 | 819.180 | 5,11 |
Etf Brad Bov | BOVB11 | 5.367 | 5,07 |
Trend Ouro | GOLD11 | 10.041 | -6,27 |
Ishares Smal Ci | SMAL11 | 136.240 | -14,81 |
It Now Small | SMAC11 | 18.775 | -14,81 |
It Now Spxi | SPXI11 | 15.173 | -23,2 |
Ishares S&P 500 | IVVB11 | 122.105 | -23,35 |
Trend China | XINA11 | 14.368 | -26,62 |
Trend Nasdaq | NASD11 | 5.050 | -36,78 |
Hashdex Nci | HASH11 | 23.378 | -68,55 |
Fonte: Trademap
Números do mercado de ETFs e próximos passos do segmento
O mercado de ETFs fechou 2022 com a participação de 630 mil investidores, 35 mil a mais do que o registrado em dezembro de 2021, aponta boletim mensal da B3. As pessoas físicas respondem por mais de 80% do segmento.
O patrimônio líquido do mercado de ETFs caiu no ano passado, de R$ 50 bilhões para R$ 43 bilhões. A diferença é atribuída às perdas causadas por muitos fundos diante do desempenho adverso em 2022.
Mesmo assim, Lima, da Trígono Capital, está otimista com lançamentos de novos ETFs de renda variável e renda fixa complementares aos atuais fundos listados na B3.
Nesta linha, há expectativa inclusive para a listagem de fundos que paguem dividendos, prometida pela B3 para o primeiro trimestre deste ano.
A Wise Capital – que tem expertise no mercado imobiliário americano com investimentos em REITs (Real Estate Investment Trust, equivalente aos fundos imobiliários) – já teria um ETF neste modelo pronto para sair do papel.
Mais vantagens do investimento em ETFs
Além da diversificação, o investimento em ETFs oferece maior simplicidade para o investidor que tenha como objetivo montar um portfólio com base em uma carteira teórica ou em um conjunto de muitos ativos.
“Diante de um cenário de incertezas, tanto no âmbito global como local, os ETFs se consolidam como uma alternativa para o investidor realizar alocações táticas (entrada e saída da posição rapidamente)”, diz Lima.
Os índices de referência do mercado, por exemplo, costumam ter a composição atualizada periodicamente. Quem quiser manter uma carteira semelhante aos indicadores precisaria ajustar a participação de cada carteira de acordo com as revisões.
No caso dos ETFs, porém, gestores profissionais fazem os ajustes necessários sempre que ocorrer alguma mudança na composição dos índices de referência dos fundos – poupando tempo do investidor.
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