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SÃO PAULO – Com cerca de R$ 1,05 trilhão em ativos sob gestão, o setor de fundos de pensão ganhou as manchetes nos últimos dias após mudanças importantes ocorridas em sequência envolvendo suas principais representantes.
Na última terça-feira (25), a Previ, maior entidade fechada de previdência complementar do país, dos funcionários do Banco do Brasil, anunciou a renúncia de seu presidente, José Maurício Coelho.
O motivo da troca e o substituto que irá assumir a responsabilidade por uma carteira de investimentos de quase R$ 240 bilhões não foram anunciados, mas a mudança foi vista no mercado como parte da reestruturação esperada após a mudança no comando do banco no fim de março, com a indicação pelo governo do nome de Fausto Ribeiro à presidência do BB.
A mudança ganhou ainda mais destaque por ter ocorrido apenas poucos dias depois da troca na presidência da Funcef, fundo de pensão da Caixa.
Apesar das alterações relevantes, o sistema das fundações de previdência complementar não corre o risco de sofrer com a ingerência política, frente ao aprimoramento da governança promovida ao longo dos últimos anos. É essa ao menos a visão de Luis Ricardo Martins, presidente da Abrapp, presidente da associação nacional do setor dos fundos de pensão.
“Hoje o sistema está totalmente blindado”, afirmou Martins, durante coletiva com a imprensa para apresentar os resultados consolidados do sistema em 2020.
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Embora tenha salientado que a indústria perde excelentes quadros com a saída dos executivos da Previ e da Funcef, o presidente da Abrapp entende que as trocas vão manter o nível de excelência exigido pela legislação do setor.
“Nosso ambiente não tem espaço para contemplar aquilo que já aconteceu em um passado distante de ingerência política”, afirmou Martins, em referência ao trabalho realizado nos últimos anos de profissionalização dos dirigentes, com aumento da transparência em relação aos investimentos realizados.
Justamente pela maior rede de proteção ao qual estão cobertos os fundos de pensão, o presidente da Abrapp defendeu que, em um cenário de juros baixos, será necessário às entidades olhar cada vez mais para alternativas de diversificação.
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Nesse sentido, os fundos de investimento em participações (FIPs), que casam com o horizonte de longo prazo das entidades de previdência, precisam voltar a ser considerados, pontuou Martins.
Problemas ocorridos em gestões passadas envolvendo as estruturas de FIPs em grandes fundos de pensão como a Funcef e a Petros, da Petrobras, “demonizaram” o instrumento dentro do setor, que até hoje sofre resistências para ser considerado no leque de opções.
Perto da meta
Em 2020, a carteira de investimentos dos fundos de pensão teve uma rentabilidade consolidada de 11,13%, pouco abaixo da meta atuarial de 11,53% para o período. A meta atuarial é o retorno alvo buscado anualmente pelas entidades para manter sua solvência no longo prazo.
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Do portfólio global de investimentos do setor, a maior parte ainda está na renda fixa, representando cerca de 72,6% dos ativos sob gestão, sem grande variação ante o fim de 2019, quando estava em 72,9%. Já a renda variável ocupava 20,4% do total em dezembro passado, ante 19,6% em 2019.
O presidente da Abrapp destacou ainda a recuperação que o setor demonstrou após o baque promovido pelo coronavírus. Em março de 2020, recordou, o déficit agregado do sistema chegou próximo de R$ 50 bilhões, para encerrar o ano com saldo positivo em cerca de R$ 7,6 bilhões. “Foi uma recuperação fantástica.”
Ainda segundo os dados da associação, o sistema de previdência complementar fechada fechou 2020 com 2,7 milhões de participantes ativos, 3,9 milhões de dependentes e 837 mil assistidos. Além disso, foram pagos R$ 68 bilhões em benefícios previdenciários pelas entidades do setor, contra cerca de R$ 60 bilhões em 2019.