Veja quais bancos aumentaram ou baixaram juros no crédito para PMEs

Estudo analisa taxas cobradas por antecipação de recebíveis, capital de giro, cheque especial, conta garantida e desconto de duplicatas

Mariana Fonseca

(Getty Images)
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SÃO PAULO – O aumento progressivo da taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, no primeiro semestre deste ano fez com que bancos tivessem de tomar uma decisão quanto às suas margens: quanto pode ser repassado nos empréstimos dados aos pequenos e médios empreendedores?

No geral, as instituições financeiras optaram por reduzir suas margens. O spread, diferença entre a taxa cobrada das instituições financeiras e a taxa oferecida ao cliente final de um empréstimo, caiu 28,7% entre janeiro e junho de 2021. Porém, mesmo com os bancos ganhando menos nos empréstimos, a alta da Selic fez o empreendedor ver um juro mais caro na ponta do lápis.

A reflexão veio de um estudo elaborado pela Capital Empreendedor, um marketplace de crédito para empresas que reúne 300 instituições financeiras. A análise desta vez foi fechada nos cinco maiores bancos do segmento: Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal, Itaú Unibanco e Santander.

Foram estudadas seis modalidades de crédito: antecipação de recebíveis de cartão de crédito; capital de giro com prazo de até 365 dias; capital de giro com prazo superior a 365 dias; cheque especial; conta garantida e desconto de duplicatas. “Essas modalidades representam quase 60% no crédito para empresas. Apenas o capital de giro com prazo superior a 365 dias representa 33% do total”, afirma Juliano Graff, presidente da Capital Empreendedor.

A plataforma recolheu dados do Relatório Semanal de Juros do Banco Central do Brasil entre 4 de janeiro e 30 de junho de 2021. Restringiu sua análise apenas para operações de crédito com recursos livres, com taxas definidas livremente pelos bancos. As operações direcionadas contam com taxas subsidiadas para instituições como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Mais crédito e menos spread para as PMEs

Segundo Graff, o Pronampe não foi um dos responsáveis pela queda no spread, apesar de suas taxas serem menores do que a média do mercado. “Apenas R$ 25 bilhões foram direcionados neste ano para o Pronampe. A modalidade representou menos de 2,5% das operações de crédito com recursos livres”. O Peac Maquininhas, outro crédito com juros baixos, foi descontinuado em 2021.

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Então, por que a margem dos bancos nos empréstimos caiu? O presidente da Capital Empreendedor afirma que avanços competitivos e tecnológicos justificam o menor spread. Em abril deste ano, a criação de uma central de recebíveis fez com que duplicatas pudessem ser vistas e negociadas por diversos players de crédito. Já o open banking, movimento que torna o usuário donos de seus dados financeiros e permite o compartilhamento deles com diversas instituições, começou em novembro do ano passado e está cada vez mais presente. Em agosto deste ano, começou a segunda fase do open banking.

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São mudanças que levam mais competidores para o mercado de crédito – o que tende a aumentar o saldo de crédito com recursos livres disponível no mercado, e também a diminuir a média dos juros cobrados por conta da disputa por tomadores de empréstimos.

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Veja as taxas de juros por banco

Por mais que o spread tenha caído, as taxas que o empreendedor vê na ponta do lápis aumentaram. A taxa cobrada das instituições financeiras costuma se aproximar da Selic, a taxa básica de juros da economia. A Selic tem tido aumentos progressivos em 2021, passando de 2% ao ano para 5,25% ao ano. Assim, os bancos repassam esse aumento aos consumidores finais. Há instituições financeiras que repassaram menos do que essa alta de 3,5 pontos percentuais; outros superaram a alta, efetivamente aumentando seu spread e ganhando mais margem.

Em termos mensais, a Selic passou de 0,16% em janeiro para 0,28% em junho – uma alta de 75%. A Capital Empreendedor comparou essa variação com as taxas mensais cobradas pelos cinco maiores bancos para PMEs, nas seis modalidades de crédito mais visadas pelos pequenos e médios empreendedores. Quem aumentou seus juros mensais em um nível abaixo de 75% reduziu seu spread. Já quem aumentou os juros em mais de 75% está ganhando ainda mais margem sobre seus empréstimos.

Veja quais bancos praticaram os maiores e menores aumentos, e quais deles ficaram com as piores e melhores taxas:

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O Santander, Itaú e Banco do Brasil tiveram o maior número de aumentos entre as taxas analisadas. O Itaú possui a pior taxa em três das seis linhas analisadas. Caixa e Santander empatam em duas categorias pelo menor número de aumentos. Já Caixa e Bradesco disputam a melhor taxa também em duas categorias. Mesmo assim, a Caixa tem a pior taxa de crédito em duas modalidades.

Agora, veja as taxas de juros cobradas pelos bancos em cada modalidade de crédito:

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Antecipação de recebíveis de cartão de crédito

“A linha de antecipação de faturas de cartão de crédito é uma linha bem segura para os bancos, uma vez que eles já possuem a garantia de recebíveis de cartões de crédito”, explica a Capital Empreendedor. “Essa linha de crédito representa 4,45% do saldo total de crédito no mercado.”

Capital de giro com prazo de até 365 dias

“Essa linha de crédito tem sido menos utilizada desde o início do ano, com o capital de giro com prazo até 365 dias diminuindo de R$ 67,06 bilhões para R$ 53,31 bilhões em crédito ofertado, representado 4,68% do crédito ofertado”, afirma a Capital Empreendedor.

Capital de giro com prazo superior a 365 dias

Segundo a Capital Empreendedor, “a linha de capital de giro com prazo superior a 365 dias sempre foi o líder em saldo de empréstimos, mas vinha numa queda desde 2017. Comparado ao início do ano, ela sofreu um aumento no volume, passando de R$ 360 bilhões para R$ 373,19 bilhões de crédito, mas representando uma queda no percentual em relação ao total de crédito, passando de 33,36% para 32,73%.”

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Cheque especial

“O cheque especial possui as piores taxas de todas as linhas analisadas, mas seu uso vem decaindo cada vez mais, mostrando-se com um leve aumento no período analisado com R$ 7,16 bilhões em janeiro para R$ 7,91 bilhões ao final do trimestre, representando apenas 0,69% do saldo de crédito. Por suas taxas serem extremamente altas, o spread bancário delas também são, chegando a valores de 4630% (taxa média de 12,92 a.m.) sobre a taxa Selic (de 0,28 a.m.). Essa porcentagem também mostra a maior queda de spread entres as linhas analisadas, de 41% em relação ao começo do ano”, analisa a Capital Empreendedor.

Conta garantida

“A linha de conta garantida sofreu um aumento desde o início do ano, passando de R$ 22,99 bilhões para R$ 26,61 bilhões de crédito ofertado, representando uma variação de 13,63% de uso e 2,33% do crédito concedido. O spread nessa linha também se mostra muito alto, sendo de 916% em relação à taxa Selic, tendo sofrido uma queda de 36% desde o início do ano”, diz a Capital Empreendedor.

Desconto de duplicatas

“O saldo de crédito nessa categoria representa 11,21% do total de crédito ofertado atingindo o valor de R$ 127,83 bilhões. A taxa média dos bancos ficou em 1,09 a.m. e o spread bancário nessa categoria sofreu uma queda de 26%, mas ainda assim representa um spread de 389% da Selic”, afirma a Capital Empreendedor.

Vale lembrar que bancos fazem revisões mensais de suas taxas, levando em conta o comportamento futuro dos juros. “O banco que fechou um empréstimo em junho deve ter se arrependido, por exemplo. Logo depois as previsões para a Selic subiram, e estão hoje em 7,5% ao ano para o final de 2021. As instituições financeiras colocam suas taxas olhando para as projeções”, diz Graff.

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Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.