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Dois anos de pandemia marcados pelo abre-e-fecha de lojas para conter a disseminação da Covid-19 não só aceleraram a digitalização do varejo, mas também levaram um número crescente de empresários do comércio a apostar em um novo modelo de loja física. Mais compactos, baratos e — sobretudo — flexíveis, os pontos de venda modulados, inspirados no contêiner usado no transporte marítimo, viraram febre no varejo.
As lojas modulares ganham espaço em postos de gasolina, estacionamentos, condomínios, praças e boulevards, escapando do aluguel pesado das lojas de rua e de shoppings e também das taxas de condomínio.
A estreante no formato é a Chilli Beans, de óculos de sol. “Acho que não teria uma Eco Chilli se não houvesse pandemia”, afirma o CEO e fundador da varejista, Caito Maia. Depois do que ele considera ter sido um “chacoalhão” provocado pela Covid-19, Maia diz que os empresários tiveram de criar outros canais de venda, além do online. “Não sei o que pode acontecer no futuro e preciso ter acesso ao consumidor”.
Apego sustentável
Hoje, a rede tem cinco lojas modulares, de 15 metros quadrados, feitas com plástico reciclado e que usam energia solar. Essas unidades estão sendo testadas em vários locais: dentro de um posto de gasolina na Zona Oeste da capital paulista; em Boituva, no interior de São Paulo; em Porto Alegre; e em duas cidades mineiras, Itajubá e Piumhi.
Se passarem no teste, a meta é abrir mais 70 lojas nesse formato até o fim do ano. O alvo são municípios com 40 mil a 50 mil habitantes, onde não há shoppings e o investimento em uma loja de rua tradicional não se paga com volume de vendas. “Há no Brasil 600 municípios com esse perfil, é um mercado gigantesco”, diz Maia.
Em três anos, o plano da varejista é abrir 400 Eco Chilli, que devem consumir R$ 52 milhões de investimento de franqueados. A cifra aplicada em uma loja desse tipo é de R$ 130 mil (a metade do que seria gasto em uma loja tradicional, de tijolo e cimento). Em quatro anos, quando estiverem em pleno funcionamento, devem responder por 20% das vendas. A varejista projeta fechar o ano com um total de mil lojas franqueadas e faturamento de R$ 1 bilhão.
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Do Carrefour à Cacau Show
A ótica estreia no segmento muito tempo depois do restaurante Madero, um dos pioneiros, do supermercado Hirota, do Carrefour (CRFB3) e da chocolateria Cacau Show, por exemplo.
Cinco meses após o início da pandemia, em julho de 2020, o Hirota abriu as duas primeiras lojas automatizadas, dentro de contêiner adaptado em condomínios residenciais. Hoje são 83 na Grande São Paulo, no ABC Paulista e em Guarulhos (SP), e a perspectiva é de chegar a 100 até o fim deste ano. “É o modelo de loja que mais cresce e no qual a empresa mais aposta”, diz Hélio Freddi, diretor da rede.
O projeto nasceu como loja em contêiner, mas migrou para salas disponíveis em condomínios, muito em função da arquitetura do local. Hoje, das 83 lojas, oito estão em contêiner. Freddi diz que esse ponto de venda caiu no gosto do consumidor. “Primeiro, tivemos a pandemia. e agora é o aperto financeiro: as pessoas não estão fazendo compra do mês, mas pequenas compras.”
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O Carrefour, maior varejista de alimentos e bebidas do país, abriu as duas primeiras lojas autônomas em contêiner em dezembro de 2020. Já são 18 em operação, das quais três em contêineres, e o plano para este ano é acelerar a inauguração de lojas neste formato em condomínios residenciais.
Segundo Daniel Roque, diretor de Canais e Expansão da Cacau Show, metade das 220 lojas abertas este ano e um terço das 280 em fase de implantação estão em contêineres. A chocolateria adotou esse formato em janeiro. Hoje, são 302 lojas em contêineres, de um total de 3 mil pontos de venda.
Inspiração digital
Fora dos endereços tradicionais de compras, as lojas modulares são herança da pandemia não só por “ir” aos locais frequentados pelo consumidor no seu dia a dia, mas também por retratar a agilidade que o varejo ganhou com a transformação digital forçada. “O varejo ficou mais ágil, e a loja dentro do contêiner é um modelo que tem a ver com essa agilidade”, diz Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC).
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No varejo digital, se o negócio não vai bem, rapidamente é alterado. Já na loja física tradicional, essa mudança é mais custosa e trabalhosa: envolve grandes investimentos e contratos de locação por períodos longos, por exemplo. Se algo der errado na loja modular, como o mercado não ser promissor como se imaginava, é só mudar rapidamente de lugar e colocá-la em outra praça. O investimento na estrutura física não fica comprometido. “A flexibilidade da loja-contêiner de testar, trocar, fechar e aumentar é típica do mundo digital”.
Terra observa que a tendência foi acelerada nos últimos dois anos também por outro fator: o aumento exponencial do custo da construção. “Construir uma loja tradicional está assustando muita gente — em alguns setores, o custo chegou a dobrar —, e o varejo sempre busca alternativas.”