Vale chega ao dia “D” precisando do apoio de detentores de 40 milhões de ações

A conversão de ações preferenciais em ordinárias é indispensável para que a companhia avance no sentido de migrar para a categoria de Novo Mercado

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – A Vale (VALE3; VALE5) pode dar um passo decisivo em direção à evolução de seu nível de governança na tarde desta quarta-feira (18), quando os detentores de ações preferenciais da companhia decidirão se aprovam ou não a conversão desses papéis em ações ordinárias. A Assembleia Especial está marcada para as 17h (horário de Brasília), no Rio de Janeiro, e já conta com o voto antecipado equivalente a 113,3 milhões de ações PNA.

Para que o objetivo da diretoria seja alcançado, é necessário apoio de detentores de outros 40,2 milhões de ações, atingindo a marca de 50% + 1 (ou exatos 153.570.036) dos papéis nesta categoria em circulação no mercado. Isso porque em agosto a mineradora já realizou um programa de adesão voluntária, em que logrou recolher 1,7 milhão de ações preferenciais, incluindo os papéis da categoria representados por ADRs (American Depositary Receipt), o que equivalia a 84,4% das ações preferenciais em circulação na época.

A conversão de ações preferenciais em ordinárias é indispensável para que a companhia avance no sentido de migrar para a categoria de Novo Mercado da B3, o que tem sido alvo de intensa campanha por parte de seus líderes. A iniciativa removeria o poder do grupo de controle e poderia reduzir o risco de ingerência do governo no processo decisório da empresa, além de abrir as portas para a migração para a seção da Bolsa com padrões mais elevados de governança corporativa.

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Em vídeo disponível na página de relações com investidores da Vale na internet, Luciano Pires, diretor-executivo de finanças e RI, argumenta que a iniciativa promoverá uma diluição do controle da empresa. “Isso significa que o controle da Vale será completamente compartilhado e difuso, alinhando a companhia com as melhores práticas das melhores e mais valorizadas empresas do mundo”, explica o executivo. Além disso, ele cita um levantamento feito com 16 empresas 60 dias após a operação de conversão das ações que mostrou uma valorização média de 22,3% no preço das ações para tentar convencer os mais céticos a aderirem ao plano.

Caso aprovada, a conversão se dará na relação de 0,9342 ação ordinária para cada preferencial classe A, uma relação de troca superior à média observada em situações similares da companhia nos últimos dez anos, mas mesmo assim não agrada a todos.

Se depender da vontade de um acionista milionário detentor de um grande volume de ações da Vale, é possível que a Assembleia Especial não atinja o quórum necessário para aprovar a conversão. Em entrevista ao InfoMoney, o investidor, que pediu anonimato, criticou a iniciativa da empresa e explica por que não a apoiará: “O dividendo é igual para VALE3 e VALE5. Mas o que mudou é que, se a Vale não quiser distribuir dividendos, ela não precisa, mas estatutariamente ela é obrigada a pagar 25% para os detentores de ações preferenciais. Como meu caso com ela é só dividendo, não quero converter”.

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Na convocação voluntária para adesão ao programa de conversão de ações, a Vale conseguiu resgatar 84,4% de todos os papéis preferenciais em circulação naquele momento. A companhia elenca três principais motivos para a não adesão total e mantém o otimismo de que agora conseguirá concluir o processo: 1) parte dos acionistas remanescentes são fundos de investimento de gestão passiva, que têm por objetivo acompanhar índices de referência; 2) pessoas físicas que não participam ativamente do mercado e não tomaram conhecimento do processo a tempo de solicitar a conversão; 3) dificuldades operacionais por parte de acionistas.

A Vale informa que os acionistas dissidentes terão o direito de retirar-se da companhia pelo respectivo valor patrimonial da ação em um prazo de até 30 dias, contados da data de publicação da ata da assembleia. Contudo, só poderão gozar desses direitos aqueles que ininterruptamente mantiverem a titularidade das suas ações preferenciais classe A desde o encerramento do pregão de 18 de agosto até a data do efetivo exercício do direito de retirada.

Caso não atinja o quórum mínimo de 50%+1 para a aprovação da proposta, a Vale deverá convocar novas assembleias visando atingir o objetivo. Se, mesmo assim, não obtiver êxito, a mineradora tem um Plano B. A ideia seria acionar o colegiado da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) para reduzir o quórum da votação, o que tende a viabilizar o avanço no processo de migração para o Novo Mercado, mas pode atrasar as movimentações para o ano que vem.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.