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SÃO PAULO – Com mais de 250 mil casos confirmados do novo coronavírus no mundo, a pandemia já colocou milhões de pessoas em quarentena.
Fechamento de fronteiras, cancelamento de voos, fechamento de escolas, museus, teatros e de serviços não essenciais ecoam mundo afora.
A ordem é ficar em casa na tentativa de conter o avanço do vírus, que se mostra mais letal para idosos e pessoas com doenças pré-existentes.
Esse movimento de resguardo está ajudando a impulsionar uma indústria ainda incipiente no Brasil: a telemedicina.
Depois de muita polêmica, na quinta-feira, 19, o uso da medicina à distância foi regulamentado no país em uma medida emergencial.
O Conselho Federal de Medicina autorizou a prática em caráter excepcional e enquanto durar a pandemia de Covid 19.
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Em ofício encaminhado a Luiz Henrique Mandetta, ministro da Saúde, o conselho reconhece a possibilidade de uso de orientações e monitoramento de pacientes à distância, assim como a teleinterconsulta, ou seja, a troca de informações entre médicos.
Mas a teleconsulta, ou seja, a possibilidade de uma pessoa ser de fato atendida por um médico à distância não foi contemplada nessa medida.
As teleconsultas já funcionam no exterior, em países como China e Estados Unidos.
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Na prática da telemedicina, o paciente compra uma consulta via aplicativo e fala com o médico em tempo real por vídeo.
Além disso, dispositivos médicos podem ser usados para aferir a pressão arterial, fazer eletrocardiograma e até examinar a garganta a distância.
A partir disso, o médico pode fazer o diagnóstico e prescrever uma medicação, que pode ser enviada diretamente para farmácia ou ser entregue em casa.
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Com o uso da telemedicina, o paciente pode ser acompanhado de longe, por meio do celular, por exemplo. Quando são necessárias imagens do doente, é possível usar videoconferência.
Essas práticas ganharam força com a aparição do novo coronavírus na China. Empresas como Ali Health (parte do Alibaba), JD Health e WeDoctor (apoiados pela Tencent) criaram clínicas online para triagem e tratamento de pacientes chineses.
A JD Health, por exemplo, realiza cerca de 2 milhões de consultas online por mês, dez vezes mais do que antes do surto.
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Já a Ali Health criou uma clínica on-line gratuita para os residentes de Hubei, epicentro chinês da pandemia.
Nos Estados Unidos, onde o número de casos também cresce de forma exponencial, o Centers for Disease Control, a agência do Departamento de Saúde local, recomenda o uso da telemedicina para ajudar no controle da pandemia.
Aproveitando a alta demanda, empresas como Teladoc, Amwell e UW Medicine estão seguindo o exemplo da China e passaram a oferecer serviços de triagem e monitoramento por vídeo.
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A AmWell viu o tráfego de pacientes aumentar mais de 11% apenas na primeira semana do surto em território americano.
Segundo o médico Sidney Klajner, presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, esse é um recurso extremamente útil em casos como o surto do novo coronavírus.
No hospital com sede em São Paulo, onde foi atendido o primeiro paciente com o vírus no país, a telemedicina está sendo usada em duas frentes: com colaboradores e pacientes.
A equipe de telemedicina, com cerca de 500 profissionais, entra em contato por telefone com colaboradores com sintomas respiratórios e faz o monitoramento contínuo dos que tiveram contato com os pacientes infectados.
Além disso, os pacientes diagnosticados com o coronavírus são monitorados diariamente.
Um caminho sem volta?
O Conselho Federal de Medicina já havia regulamentado a telemedicina no Brasil, no começo de 2019, mas a decisão foi alvo de discordância entre grupos médicos.
Os argumentos apontaram, entre outras razões, que esse tipo de atendimento enfraquece a relação médico e paciente em razão da ausência de um exame clínico presencial.
O CFM abriu, então, uma consulta pública para tratar do assunto controverso e agora a medida foi aprovada de forma emergencial.
Os argumentos favoráveis à prática incluem o direito ao acesso à saúde.
Um estudo conduzido pela Comissão de Saúde Global de Alta Qualidade, financiada pela Fundação Bill e Melina Gates, estima que cerca de 1,6 milhão de pessoas em países de renda média e baixa morram por ano no mundo por falta de acesso a serviços médicos.
E um número ainda maior de habitantes desses países – 5 milhões – perde a vida porque recebe cuidados de baixa qualidade.
No Brasil, ainda falta atendimento para suprir as necessidades da população em municípios mais afastados, como no interior dos estados.
Segundo Chao Lung Wen, professor da Faculdade de Medicina da USP e chefe da disciplina de Telemedicina, o equilíbrio é essencial para tratar da questão.
Para ele, a modalidade só funciona quando integra o raciocínio médico aos recursos digitais para aumentar os cuidados de saúde dos pacientes.
O professor defende que a tecnologia na área de saúde é um caminho sem volta. “Essa vertente promove maior agilidade, acessibilidade, resolutividade e humanização”, diz.
Para Chao, sair de casa para enfrentar um pronto-socorro abarrotado de gente vai ficar no passado. O especialista dá um exemplo de como isso acontecerá.
Mas ele afirma que o caminho ainda é longo, pois a questão da tecnologia não é a única nessa história.
O conhecimento em ética e segurança digital também serão cada vez mais fundamentais para quem atua na área de saúde. Por enquanto, apenas seis universidades do Brasil oferecem especialização na área.
“É muito pouco no conjunto atual de 336 escolas de formação de médicos no Brasil. Em breve, isso será um problema, pois as faculdades não deveriam pensar em formar alunos para a realidade de 2020, mas para a de 2025 e mais para frente. Os pacientes estão demandando essa mudança”, avalia o professor.
Para Enrico De Vettori, sócio-líder para Life Science e Healthcare da Deloitte, a prática de concentrar os cuidados médicos em consultórios, clínicas e hospitais ficará para trás em breve.
“O médico tradicional está para o taxista como o motorista de Uber está para telemedicina. Chegou a hora de mudar forma de trabalhar para acompanhar as necessidades do mercado e dos pacientes. Cada vez mais os tratamentos vão se adequar a um modelo que mescla o mundo real e o virtual”, diz.
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