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SÃO PAULO (Reuters) – A indústria paulista de cerâmica para revestimentos está iniciando um projeto de transição energética para substituir seu consumo de gás natural pelo biometano, visando chegar até 2030 com cerca de metade da demanda associada ao gás renovável produzido a partir de resíduos da produção sucroalcooleira.
O plano começa com um projeto piloto de fornecimento de 50 mil metros cúbicos/dia de biometano, a partir de 2025, para 10 fábricas de cerâmica do pólo produtor de Santa Gertrudes, no interior paulista, ligadas à Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimentos, Louças Sanitárias e Congêneres (Anfacer).
O combustível renovável será produzido por uma usina do polo produtor de cana de Piracicaba (SP). A empresa responsável pelo fornecimento não foi revelada, mas haverá a instalação de nova planta de biometano, com investimentos que devem ficar entre 150 milhões e 180 milhões de reais, afirmou à Reuters Flavio Castellari, diretor executivo do Arranjo Produtivo Local do Álcool (APLA).
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A ideia é que os volumes fornecidos por usinas do interior paulista cresçam gradualmente, com potencial para atingir 1 milhão de metros cúbicos por dia em 2030, metade do consumo atual de gás da indústria paulista do setor, explicou Benjamin Ferreira Neto, presidente da Anfacer, em entrevista à Reuters.
“É um piloto, um projeto para a gente entender o mecanismo de funcionamento… A nossa expectativa é que com o avanço, com as negociações que vão ficar em curso, e com a oferta que imaginamos… possamos acelerar isso”.
O biometano resulta do processamento do biogás, que por sua vez é obtido de resíduos orgânicos urbanos e agropecuários –no caso da cana, vinhaça, torta de filtro e palha. O gás renovável serve como substituto do gás natural, diesel e gás liquefeito de petróleo (GLP).
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Segundo o presidente da Anfacer, as cerca de 30 plantas sucroalcooleiras que estão em um raio de 100 quilômetros do polo ceramista de Santa Gertrudes têm capacidade de fornecer até 10 milhões de metros cúbicos de biometano por dia.
“Vemos uma participação forte… Primeiro porque parte desse resíduo é utilizado como adubo, e o processo de biodigestão (para produção de biometano) retira pouco volume desse material e até melhora, corrige a acidez… Então temos um adubo melhorado após a extração do biometano”.
A distribuição será realizada através da malha das concessionárias que já fazem o suprimento de gás natural para as plantas de cerâmica da região, como Comgás, Gasbrasiliano e Gás Natural SPS.
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O setor de fabricação de cerâmica é o segundo maior consumidor industrial de gás natural do Brasil, com o combustível representando cerca de 30% a 35% dos custos dessa indústria.
Neto destaca que, inicialmente, o foco do plano não está nos preços de fornecimento de gás, mas sim em estimular o uso de um combustível renovável e produzido localmente.
“Hoje nossa preocupação é fazer com que o projeto possa andar, nos dê essa flexibilidade, nos dê uma pegada verde e diferenciada”, comentou, acrescentando que a indústria sofre hoje com imprevisibilidade dos preços do gás natural importado, sujeito às variações do barril do petróleo Brent e do câmbio.
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Ele destacou ainda que a indústria brasileira de cerâmica tem a meta de dobrar suas exportações até 2030 e que o plano de transição energética pode ajudar.
“O mercado norte-americano, por exemplo, já começa a ter percepção muito importante de produtos que impactam menos o meio-ambiente, tem mais esse apelo. Esse é um ponto que vai ser bastante interessante para que a gente possa alavancar nossas exportações, principalmente para mercados mais maduros, que vão saber valorizar essa condição”.
Castellari, da APLA, disse que cada vez mais usinas têm olhado para o fornecimento de biometano como uma alternativa de negócio.
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“Eu acredito que o biogás seja uma das tendências que mais vá crescer nos próximos anos… Quase 60% da produção nacional de cana está em São Paulo, onde também está a grande demanda de biogás, a tendência é realmente crescer”.
Embora ainda seja relativamente pequeno, o mercado de biogás vem crescendo no Brasil a partir de incentivos do governo e de investimentos de grandes empresas, como Raízen, Vibra e Urca Energia. Entre 2019 e 2021, o setor dobrou sua capacidade de produção nacional, com a instalação de 140 novas plantas, adicionando 38 megawatts (MW) na geração de energia elétrica e 120 mil m³/dia de biometano, segundo dados da Abiogás.
(Por Letícia Fucuchima)