Restaurantes voltam a funcionar em Nova York, mas só com mesas na calçada

Queda no número de funcionários empregados por restaurantes na cidade foi de 70% em maio, em relação ao início de março

Sérgio Teixeira Jr.

(Noam Galai/Getty Images)
(Noam Galai/Getty Images)

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NOVA YORK – Após longos três meses, os restaurantes de Nova York voltaram a receber clientes na segunda passada (22). Mas sentar-se à mesa, por enquanto, só do lado de fora e com uma boa separação dos vizinhos.

Se tudo correr de acordo com os planos – e os indicadores são positivos -, salões internos dos restaurantes também poderão voltar a funcionar (desde que limitados a metade da ocupação) na terceira fase da reabertura, prevista para 6 de julho.

De qualquer forma, a cena gastronômica da cidade, desde os restaurantes estrelados aos lugares de bairro que não entram no roteiro dos turistas, vai passar por uma das maiores transformações de sua história por causa da pandemia do coronavírus.

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Segundo dados recentes da prefeitura, a cidade de Nova York contava com 19.400 restaurantes, que empregavam 141 mil pessoas e tinham receita de US$ 12 bilhões por ano – isso antes da pandemia.

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Quantos deles vão sobreviver a uma crise sem precedentes é uma pergunta que muitos nova-iorquinos se fazem desde os primeiros dias do isolamento.

Apesar das entregas e das vendas para viagem, muitos estabelecimentos fizeram as contas e decidiram manter as portas fechadas durante o isolamento – e muitos ficarão assim para sempre.

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Segundo as regras atuais, só é permitido servir comida em áreas externas. Mas esse é um problema particularmente difícil de se contornar em Manhattan, onde pouquíssimos restaurantes têm mesas do lado de fora.

A cidade criou um programa emergencial para aprovar a colocação de mesas na rua, junto ao meio fio, em espaços que costumam ser usados para estacionar carros.

Mais de 4 mil restaurantes pediram esse tipo de licença, que antigamente custava US$ 5 mil e levava meses para ser aprovada – agora ela tem liberação expressa e sem custos.

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Reabertura Restaurantes Nova York
(Spencer Platt/Getty Images)

Por toda a cidade já é possível ver esses “parklets” sendo instalados.

Em princípio, essas mesas no asfalto estão autorizadas para funcionar até outubro, mas já se discute a ideia de uma transformação permanente.

“Minha opinião é que não podemos esperar para mudar. Os restaurantes precisam faturar dinheiro. Os nova-iorquinos precisam sair de seus apartamentos”, escreveu no New York Times Pete Wells, o mais influente crítico de restaurantes da cidade.

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O prefeito Bill de Blasio disse que a novidade é “o começo de uma coisa muito grande”. No primeiro dia de reabertura, ele jantou no Melbas, no Harlem. “Os restaurantes de bairro são parte da alma da cidade”, escreveu De Blasio no Twitter.

Além de ser parte essencial da vida nova-iorquina, os restaurantes estão entre os maiores geradores de empregos da cidade, e muitos deles pertencem a imigrantes e minorias.

Segundo um relatório recente do comptroller de Nova York (uma espécie de CFO da cidade, responsável pela supervisão do orçamento e das finanças da prefeitura), a queda no número de funcionários empregados por restaurantes foi de 70% em maio, em relação ao início de março, quando a pandemia chegou aos EUA.

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Mas ainda não é possível dizer se soluções criativas, como os parklets – junto com a futura reabertura dos salões internos –, serão suficiente para manter os negócios vivos.

A cervejaria Radegast, um destino muito popular no bairro de Williamsburg, no Brooklyn, estima que, com as mesas externas, o faturamento seja de apenas 25% do que era nos tempos pré-coronavírus.

“Temos um salão de 650 metros quadrados que continua vazio”, diz Sean Snyder, gerente da Radegast.

“Cada dólar ajuda. A indústria foi devastada pela pandemia”, diz Andrew Riggie, da New York Hospitality Alliance, organização que reúne bares, restaurantes e hotéis da cidade.

Ainda não se sabe o tamanho exato dessa devastação, mas a lista dos negócios que morreram antes dessa primeira fase da reabertura não para de aumentar.

Ela inclui o Nix, primeiro vegetariano da cidade a receber uma estrela Michelin, e dezenas de restaurantes de bairro tradicionais, como o Bistro Cassis e o Takashi.

Reabertura Restaurantes Nova York
(Stephanie Keith/Getty Images)

Ajuda extra a caminho?

No primeiro pacote de ajuda governamental, calcula-se que hotéis e restaurantes tenham recebido US$ 41 bilhões dos US$ 500 bilhões do programa de proteção de salários promulgado pelo Congresso, de acordo com a Small Business Administration, órgão do governo que apoia os pequenos negócios.

Um grupo de deputados quer aprovar na Câmara um pacote de ajuda extra de US$ 120 bilhões para os restaurantes.

Estima-se que, em todo o país, mais de 6 milhões de pessoas tenham perdido o emprego no setor em março, primeiro mês do isolamento social, e apenas 1,4 milhão delas foram readmitidas em maio.

Nova York, a cidade mais atingida pela Covid-19 em número de casos e mortes, conseguiu controlar a situação. Mas o coronavírus segue crescendo, em ritmo alarmante, em estados populosos como Flórida e Arizona.

Nesta sexta-feira (26), o governador do Texas ordenou o fechamento dos bares e reduziu a ocupação máxima dos restaurantes de 75% para 50%.

O calor ajuda

O negócio dos restaurantes depende de confiança, e enquanto os consumidores não se sentirem seguros para comer fora de casa não haverá uma recuperação completa.

Nas ruas de Manhattan, a aparência é de uma cautela otimista. Nova York chegou a registrar 11 mil infecções num único dia em meados de abril; na quinta-feira passada (25), foram somente 749 novos casos.

Com o calor dos primeiros dias de verão, os parklets da Terceira Avenida estavam lotados.

“Não aguentava mais ficar em casa”, diz Patrick Sullivan, um freelancer que esperava uma mesa na calçada no fim da tarde de quinta.

“Comer fora é parte integral da vida de quem mora em Nova York. Poder sentar com amigos num restaurante é voltar a um mínimo de normalidade”, afirma Sullivan.

Além da saúde financeira dos restaurantes, a questão da saúde pública continuará sendo monitorada de perto.

Na semana passada, o governador Andrew Cuomo disse que o estado havia recebido, em um único final de semana, 25 mil denúncias de descumprimento das normas de distanciamento social.

Num post que viralizou no Twitter, que mostrava um quarteirão do East Village cheia de gente sem máscara bebendo no meio da rua (o que é proibido na cidade), Cuomo fez um comentário em tom de brincadeira: “Não me façam ir aí…”

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Sérgio Teixeira Jr.

Jornalista colaborador do InfoMoney, radicado em Nova York