Restaurantes preparam solução “open delivery”, que vai melhorar competição entre apps de entrega

Movimento seria uma reação a poucos aplicativos dominarem os serviços de entrega alimentar

Giovanna Sutto Mariana Fonseca

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SÃO PAULO — O setor de bares e restaurantes quer padronizar a forma como recebe e entrega informações de pedidos via delivery. O projeto, batizado de “open delivery”, tem como objetivo promover um ambiente de maior competição no setor de entrega de alimentos, que é hoje dominado por poucos aplicativos.

As discussões estão sendo lideradas pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel). O open delivery está sendo feito em parceria com empresas de software, de tecnologia, de adquirência e de varejo. Segundo a Abrasel, companhias como Ambev, Rappi, Magazine Luiza, Stone, Google, Rede (Itaú) e Get Net (Santander) participam das conversas preliminares sobre o projeto.

Paulo Solmucci, presidente da entidade, deixou claro que nada foi operacionalizado por enquanto e que a intenção é consolidar parcerias. Até o fim deste ano, serão criados comitês para organizar o projeto.

“Vamos criar um código aberto, que será repassado às empresas de softwares que já operam nos sistemas de gestão dos restaurantes e aplicativos de entrega. Esses códigos funcionando vão permitir uma interoperabilidade entre os sistemas dos restaurantes e as empresas de delivery. O objetivo é dar mais opções aos restaurantes, que poderão se integrar às plataformas de delivery de maneira padronizada e poderão analisar as opções de apps de entrega”, explica Solmucci em entrevista ao InfoMoney.

Segundo Solmucci, para que um restaurante ou bar tenha acesso às plataformas de entrega hoje (como iFood e Rappi), precisa negociar com cada uma e usar seus diferentes sistemas de recebimento dos pedidos e dos pagamentos. “É isso que queremos mudar. Com a nova tecnologia, integrada aos restaurantes e às empresas de entrega, a comunicação ficará mais simples e padronizada”, explica.

Com o código aberto, os restaurantes poderiam escolher qualquer empresa de delivery para realizar suas entregas – inclusive filtrando pelas que oferecem melhores taxas. “O setor é um oligopólio. Hoje, muitos restaurantes dependem das maiores empresas do setor. O iFood tem 70% do mercado de delivery”, diz Solmucci. “Com a nova solução, a tendência é que o setor fique mais competitivo. Mais players poderão entrar no segmento, já que haverá um padrão na troca de informações.”

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Por exemplo: se a Stone quiser entrar no segmento de delivery hoje, precisa desenvolver seu próprio software para se integrar a um restaurante. E o restaurante, por sua vez, precisa aprender a usar o sistema da Stone para iniciar a parceria. “Com a nossa solução, tanto a empresa responsável pela entrega quanto o restaurante teriam acesso ao mesmo código e fechar uma parceria seria muito mais fácil”, diz o executivo.

Solmucci explicou que a Associação Brasileira de Automação para o Comércio (Afrac), que conta com empresas de softwares associadas, já se comprometeu a colaborar com o projeto. Empresas como Linx, Epson, Mercado Pago e Totvs fazem parte da associação.

A Abrasel conta com cerca de 10 mil restaurantes e bares associados no país, incluindo nomes como Amicis, Bob’s, Cachaçaria Água Doce, Coco Bambu e Spoleto.

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O que mudaria para o consumidor?

Em termos de interfaces, nada mudaria para o consumidor. Se hoje ele entra no Rappi e escolhe seu prato, o procedimento seria o mesmo. A diferença é que ele teria mais opções: poderia entrar no site do Magazine Luiza ou em um aplicativo da Stone para pedir uma refeição também, caso as empresas desenvolvessem esse braço de negócio.

Na prática, essa integração entre aplicativos de entregas e restaurantes vai permitir que o consumidor, ao procurar em buscadores um tipo de prato, encontre o mesmo item por preços diferentes. “Como a Abrasel não vai interferir na negociação entre as empresas, um restaurante pode continuar a parceria com o delivery que já usa hoje e cobrar R$ 10 do cliente final, por exemplo. Mas pode também fechar uma parceria com outra empresa que cobra menos taxas e, assim, cobrar R$ 8 no mesmo prato”, exemplifica Solmucci.

Além disso, a responsabilidade da venda e da entrega ficará a cargo da empresa que fizer o delivery ao cliente final, cobrando do restaurante uma taxa acordada previamente entre eles. Isso significa que, se o cliente selecionasse pela refeição pelo site do Magalu, a entrega seria de responsabilidade da varejista.

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O projeto ainda está em seus passos iniciais e não há previsão de início de funcionamento.

Pix

A Abrasel vem mantendo conversas com o Banco Central (BC) para integrar essa solução ao Pix, novo sistema de pagamentos instantâneos do BC que estreia na próxima segunda-feira (16).

O Pix poderia ser usado como opção de pagamento para o consumidor, mas também como um recurso de mensageria, possibilitando que o restaurante recebesse o pedido e o pagamento de forma instantânea. “Essa é uma das grandes dores dos restaurantes hoje. Como o recebimento dos valores não é imediato, clientes que cancelam pedidos depois do início do preparo ou recebem a refeição e depois cancelam o pagamento acabam gerando prejuízo para os bares e restaurantes. Integrar a solução ao Pix será um passo importante”, explicou Solmucci.

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Segundo ele, a Abrasel já fez um primeiro contato com o BC. A instituição teria sinalizado que a possibilidade existe e a associação deve apresentar o projeto oficialmente mais para frente.

Em nota enviada ao InfoMoney, o BC confirmou que “a tecnologia e a mensageria utilizadas no Pix possibilitam que informações agregadas trafeguem junto com a ordem de pagamento, dando espaço para inúmeras inovações”, mas ressaltou que não há interlocução específica sobre essa solução proposta pela Abrasel no momento.

Companhias falam

O InfoMoney entrou em contato com as empresas citadas pela Abrasel para saber mais do projeto. O Google enviou um comunicado afirmando que não é parceiro oficial do open delivery e apenas foi procurado pela Abrasel para que a associação pudesse apresentar o projeto à companhia.

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“Reforçamos nosso compromisso em apoiar todos os atores do ecossistema local, entre associações, donos de estabelecimentos, empresas de tecnologia e outros, na busca por produtos e recursos para facilitar e melhorar cada vez mais o dia a dia das pessoas”, diz a nota do Google.

Já o Magazine Luiza “esclarece que a empresa não fechou qualquer acordo com a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) e com outras empresas para participar de qualquer projeto conjunto de delivery de alimentos”. “Representantes do Magalu, de fato, participaram de uma reunião recente com executivos da Abrasel, promovida por um de seus fornecedores. Em nenhum momento, porém, houve qualquer posicionamento do Magalu no sentido de participar da iniciativa, que a empresa respeita mas da qual não tem conhecimento profundo”, escreveu a varejista em comunicado.

Em nota, a Ambev disse que continua preocupada em ajudar o ecossistema de bares e restaurantes, que vem sendo muito impactado desde o início da pandemia. “E essa parceria com a Abrasel é mais uma para ajudar o setor. Queremos colaborar com o projeto através da startup Get In, que faz parte do grupo de startups parceiras da Ambev e tem como missão ajudar bares e restaurantes em sua gestão”, disse a fabricante de bebidas.

Giovanna Sutto

Responsável pelas estratégias de distribuição de conteúdo no site. Jornalista com 7 anos de experiência em diversas coberturas como finanças pessoais, meios de pagamentos, economia e carreira.