Realme: a empresa de celular que mais cresce no mundo agora quer dominar o Brasil

Chinesa acaba de lançar o smartphone 5G mais barato do Brasil e pretende ser top 3 em vendas no país em até 5 anos

Rodrigo Tolotti

Realme 7 5G (fonte: divulgação)
Realme 7 5G (fonte: divulgação)

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SÃO PAULO – Durante muitos anos, no mercado de tecnologia, a China era conhecida por oferecer produtos mais baratos que a média, mas também com uma qualidade inferior. Mas isso mudou, e o país agora tem revelado empresas que conseguem combinar as duas vantagens: preços baixos e alta qualidade.

Um dos casos recentes mais conhecidos é o da Xiaomi, que conquistou uma legião de fãs ao redor do mundo com uma oferta grande de produtos, indo desde escovas de dente e bicicletas elétricas até um portfólio variado de smartphones para todos os bolsos. Mas agora uma compatriota está tomando os holofotes.

A Realme acaba de desembarcar no Brasil, e mesmo ainda desconhecida da maior parte do público, já tem um plano ambicioso para “dominar” o mercado nacional, trazendo parte do seu leque de dezenas de produtos tecnológicos buscando conquistar principalmente jovens que exigem mais dos equipamentos, mas também não conseguem comprar os aparelhos caros de outras marcas.

Segundo Marcelo Sato, gerente de negócios no Brasil da companhia, o objetivo é que em cinco anos, a Realme seja uma das três maiores marcas de smartphones no país. Hoje a Samsung lidera o mercado nacional com quase 50% do market share (participação de mercado), seguida pela Motorola, que em março tinha pouco mais de 21%. A partir do terceiro lugar a briga é bastante acirrada, com diversas empresas próximas, mas atualmente a posição fica com a Apple, que tem 13,5% do mercado.

“Chegamos ao Brasil com muita vontade […] Sabemos que é um objetivo bastante ousado, mas isso está no DNA da empresa. Sabemos dos desafios que o país tem, mas nos sentimos preparados para enfrentá-los”, disse Sato em entrevista ao InfoMoney destacando o lema da Realme: “dare to leap” (que pode ser interpretado em português como “ouse ir além”).

Quem é a Realme

Criada como uma subsidiária da companhia de tecnologia chinesa Oppo, a Realme foi fundada por Sky Li e começou a operar como independente em agosto de 2018, e nesses pouco mais de dois anos de vida já se tornou o 7º maior fornecedor de smartphones do mundo.

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Segundo dados da consultoria de mercado Counterpoint Research, a Realme é a empresa de celular que mais cresce no planeta, sendo a companhia que mais rápido atingiu a marca de 50 milhões de unidades vendidas: nove trimestres. Como comparação, a Samsung levou dez, a Xiaomi, 12, enquanto a Apple demorou 13 trimestres para bater a marca.

A companhia é a marca que mais cresce em número de vendas trimestre contra trimestre, medida que ela tem batido de forma seguida pelos últimos quatro trimestres.

Hoje a Realme está presente em 61 países na Ásia, Oceania, África, Europa e agora na América Latina também, sendo que ela já está entre as cinco empresas que mais vendem em 15 desses mercados.

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Fonte: Realme/Arte: Leonardo Albertino

A estratégia no Brasil

Para o Brasil, Sato destaca que a companhia chinesa quer colocar o país como uma porta de entrada para o resto da América Latina, sendo um importante hub para a companhia levar seus produtos para outros países da região.

E para crescer por aqui, a Realme irá focar principalmente na população mais jovem, que conhece mais de tecnologia e é mais exigente. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil é composto cerca de 40% por jovens, o que, de acordo com o executivo, mostra o potencial de crescimento da companhia no país. “Essa pessoa combina com nosso lema, é um público ousado, que não se contenta com pouco”, afirma.

Diante disso, a empresa tem focado seu início de operação no Brasil em uma estratégia bastante voltada para o marketing e gestão da marca (branding). “Sabemos que ainda somos uma marca pouco conhecida, estamos chegando no Brasil agora. Mas nossa estratégia é bastante agressiva, que condiz com os nossos objetivos de curto, médio e longo prazo”, afirma Sato. “Em relação à marca, o público vai conhecer quem é a Realme”.

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Em operação oficialmente desde janeiro, a companhia fez uma parceria com a B2W (dona do Submarino, Americanas.com, Shoptime, entre outras) para vender seus aparelhos, mas já existem planos de expansão para que outros sites vendam produtos da marca, além do varejo físico.

Sobre a intenção de ter uma loja própria no país, como fez a concorrente Xiaomi, Sato afirma que ainda não há uma decisão dentro da empresa, mas que existem estudos para que isso ocorra no futuro. Atualmente a Realme trabalha com o modelo de importação dos aparelhos, mas pretende em um futuro próximo passar a produzir parte de seu portfólio em território nacional.

Produtos mais acessíveis

O portfólio da Realme é separado entre a linha de smartphones e a de equipamentos inteligentes, chamados de AIoT (Inteligência Artificial das Coisas, em tradução livre), que inclui fones de ouvido, relógios, mochilas, entre outros aparelhos. Já são centenas de itens variados disponíveis, mas no Brasil a empresa tem começado aos poucos.

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Inicialmente, por aqui, a companhia começou com os smartphones lançados em 2020, Realme 7 e Realme 7 Pro, além de dois modelos de fones bluetooth, o Buds Q e o Buds Air Pro, e também o relógio inteligente Watch S.

Segundo Sato, a marca chinesa já tem um roadmap para os próximos meses, em que deve anunciar novidades para os brasileiros e expandir esse portfólio nas duas linhas, sendo que no mercado nacional a estratégia inicial será voltada, além dos smartphones, para soluções em áudio e wearables (vestíveis, como o relógio).

Com os smartphones variando entre R$ 2.299 e R$ 2.799, a companhia chegou com preços considerados bastante competitivos pelos especialistas, dado o que os aparelhos oferecem, mas agora a empresa chinesa começou a mostrar como pretende se tornar conhecida e crescer no Brasil, lançando em abril o Realme 7 5G.

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Ao valor proposto de R$ 2.599, este é até o momento o smartphone com 5G mais barato disponível no Brasil. Segundo Sato, um dos pilares da Realme é exatamente disseminar essa tecnologia revolucionária pelo mundo. Além de ser muito mais rápido que o atual 4G usado no Brasil, o 5G traz melhorias técnicas que levam a uma maior facilidade em aplicações como carros autônomos, telemedicina e cidades inteligentes.

Segundo Guillermo Freire, CEO da startup especializada na vendas de smartphones usados Trocafone, os usuários acabam esperando que essas empresas entreguem produtos muito baratos quando elas chegam no Brasil, mas que é impossível oferecer um preço próximo ao oferecido na Ásia, por exemplo.

“No Brasil, por causa de impostos e outros custos, os aparelhos não são tão econômicos quando na China”, avalia ele citando ainda o baixo poder aquisitivo da população brasileira, o que torna muitas vezes um aparelho de menos de R$ 2.000 ainda muito caro para algumas pessoas.

Mesmo assim, ele avalia que os preços estão realmente competitivos e que isso tem sido uma tendência no mercado, com outras gigantes de indústria, como a Samsung, ampliando seu portfólio para incluir smartphones mais baratos, e também oferecendo estratégias alternativas, como financiamento de aparelhos, para que os seus topo de linha fiquem mais acessíveis.

Freire também diz ser muito interessante a chegada da Realme no país porque eles ajudam a democratizar o acesso do brasileiro ao smartphones e outros itens de alta tecnologia, já que segundo ele, cerca de 80 milhões de pessoas no Brasil ainda não possuem um celular moderno.

Fonte: Realme/Arte: Leonardo Albertino

As diferenças e dificuldades no Brasil

Segundo o gerente de negócios da Realme, entrar no mercado brasileiro não é apenas oferecer os mesmos aparelhos que a companhia tem em outros países, já que o público nacional olha para outros quesitos quando o assunto são equipamentos eletrônicos.

Ele explica que, enquanto na Ásia o cliente entende e olha muito para os detalhes técnicos de cada aparelho, o brasileiro se preocupa mais com a experiência que ele tem. Diante disso, a companhia deve focar em oferecer modelos que tragam as melhores experiências em questão de bateria, performance e câmera, e é importante que o cliente consiga enxergar tudo isso em ação quando usa seu smartphone.

Um dos exemplos citados por Sato que ajuda a atrair o público brasileiro é na hora de carregar o aparelho. A Realme oferece uma tecnologia chamada SuperDart, com capacidade de 65W de carregamento, prometendo levar a bateria de 0 a 100% em cerca de 35 minutos.

Porém, mais do que entregar tudo isso, o executivo diz que o consumidor se interessa mais quando consegue ver a tecnologia atuando. Com isso, ao conectar o aparelho na tomada é possível acompanhar até os centésimos da porcentagem subindo para dar a sensação de que ele carrega realmente rápido.

Apesar de entregar a tecnologia de forma mais acessível ao brasileiro, a Realme também sabe que o mercado nacional traz dificuldades que nenhum outro lugar do mundo tem, principalmente em relação aos custos. Sua compatriota Xiaomi, mesmo com uma legião de fãs por aqui, tem tido bastante dificuldade em entregar equipamentos baratos desde que voltou ao país em 2019.

Sato admite que a questão tributária no Brasil é bastante complicada e que o câmbio, entre outros fatores, é uma dificuldade a mais para empresas estrangeiras com operações no país. “Isso impacta a estrutura de custos, mas isso não tem efeito apenas sobre a gente, afeta os concorrentes também”, explica.

Por outro lado, ele diz que a companhia chegou já preparada para trabalhar com essas variáveis: “Nós estamos nos estruturando para esses fatores impactarem o menos possível o nosso negócio, tentando evitar repassar isso para o consumidor”. Mais do que em qualquer outro lugar, entregar um produto de alta qualidade e com um preço baixo segue sendo um grande desafio no Brasil.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.