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Quando a BRF, gigante de alimentos que produz de frango a tortas de chocolate, registrou uma perda anual recorde em 2017, seu segundo maior acionista levou menos de 48 horas para tomar uma atitude.
A Previ, maior fundo de pensão do Brasil, enviou um carta em fevereiro exigindo que o presidente do conselho da BRF, Abilio Diniz, convocasse uma reunião de acionistas para remover todo o conselho, incluindo ele próprio. Depois de uma briga de dois meses, a Previ conseguiu o que queria: os investidores votaram em cinco novos conselheiros e substituíram Diniz por Pedro Parente, que ganhou credibilidade com as mudanças implantadas na Petrobras.
Esse sucesso é apenas o exemplo mais recente de como o fundo de pensão, que conta com mais de 200.000 funcionários atuais e antigos do Banco do Brasil, está usando seus R$ 180 bilhões em ativos sob gestão como munição em uma guerra em defesa dos acionistas minoritários.
“A BRF vinha mostrando sucessivos resultados que nos preocupavam como acionistas”, disse Gueitiro Matsuo Genso, presidente da Previ, em entrevista em São Paulo. “Decidimos trabalhar junto com outros investidores insatisfeitos para intervir, mas dentro do que acreditamos ser o melhor caminho – por meio da governança da empresa; neste caso, o conselho de administração”.
Como parte de seu novo ativismo, a Previ deixará de participar de acordo de acionistas com participações de controle em uma empresa, que limitam a capacidade do fundo de pensão de sair dos investimentos sempre que quiser. Vai buscar investir em empresas que priorizem transparência, boa governança e respeito aos direitos dos acionistas minoritários.
A Previ criou até mesmo um rating de governança corporativa que Genso considera o único do gênero na América Latina. O rating considera fatores como políticas de gerenciamento de riscos e compliance de uma empresa, transparência, conflitos de interesse e envolvimento da administração ou acionistas em práticas corruptas. A existência de comitês independentes de auditoria interna e outros mecanismos formais de avaliação da gestão e do conselho também são levados em conta, disse Genso.
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Como parte da mudança de estratégia, a Previ participou do IPO da unidade de combustível da Petrobras em dezembro, comprando 10% dos cerca de R$ 5 bilhões levantados. Foi o segundo maior investidor, em parte porque a empresa concordou em ser listada no “Novo Mercado” do Brasil, que exige um conjunto mais estrito de regras de governança, incluindo um free float mínimo para ajudar a aumentar a liquidez.
“Há muito tempo não participávamos de um IPO, mas essa foi uma boa oportunidade que não poderíamos perder”, disse Marcus Moreira de Almeida, diretor de investimentos da Previ. Desde o IPO, as ações da Petrobras Distribuidora subiram mais de 30%.
A Neoenergia, empresa na qual a Previ tem cerca de 38% de participação, planeja abrir o capital no Novo Mercado sob as mesmas regras de governança corporativa da unidade da Petrobras. Esse IPO foi planejado para o final do ano passado, mas foi adiado até que as condições do mercado melhorassem.
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“Nós gostamos de preparar as empresas para que possamos vender quando acharmos melhor”, disse Genso. “Se houver uma boa oportunidade, todos os nossos investimentos estão à venda; nós não amamos nenhum ativo”.
Com cerca de R$ 12 bilhões por ano de desembolsos para aposentados, a Previ precisa focar seus investimentos em companhias com alta liquidez e free float, e descarta participar de IPOs menores do que R$ 3 bilhões.
“Considerando-se nosso tamanho e impacto, nós podemos ajudar a melhorar os mercados brasileiros,” Genso disse. “Se grandes investidores como nós começarem a realmente demandar boa governança, os gestores serão obrigados a entregar.”