Por que a Microsoft estaria tentando comprar Netflix?

Avaliado em US$ 190 bilhões, compra da Netflix colocaria Microsoft imediatamente entre os principais player do streaming

Wesley Santana

Até o ano passado, Netflix dominava um terço do mercado mundial de streaming. Foto: Divulgação
Até o ano passado, Netflix dominava um terço do mercado mundial de streaming. Foto: Divulgação

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No fim do ano passado, foi revelado por parte da imprensa americana que a Microsoft estaria tentando comprar a Netflix. O negócio, que até parecia fora de cogitação, dado o tamanho do streaming, pode ser mais um passo da marca fundada por Bill Gates para encher o carrinho que já tem nomes como LinkedIn, Activision Blizzard, GitHub, entre outras.

Os rumores da compra surgiram desde que a Netflix escolheu a Microsoft como parceira de negócios para colocar um novo plano de assinatura no ar. Desde novembro, a plataforma oferece um pacote mensal de serviços que inclui a exibição de vídeos publicitários antes e durante a reprodução dos títulos.

Se confirmada, a estratégia da Microsoft segue no caminho de adquirir companhias já consolidadas e que podem, de alguma forma, agregar valor de mercado ao perfil da companhia. É importante destacar que, no caso do LinkedIn, embora bastante segmentado, hoje ele se configura como uma das 10 maiores mídias sociais do mundo, ostentando mais de 830 milhões de usuários únicos, segundo o Relatório de Visão Geral Global Digital 2022.

Desta forma, comprando a Netflix, por uma cifra na casa de US$ 190 bilhões, como revelou a agência Reuters, a Microsoft entraria em outro mercado em franco crescimento, já despontando na frente ou lado dos concorrentes. Não há uma estimativa oficial sobre o tamanho do acervo do aplicativo, mas monitores externos afirmam que esse número gira em torno de 4 mil opções, entre filmes e séries.

Conforme destaca Maurício Almeida, CEO e cofundador da Watch Brasil, uma plataforma brasileira de vídeos sob demanda, criar conteúdo custa muito tempo e dinheiro, principalmente quando se trata de produções cinematográficas. Assim, mesmo sem ter expertise na indústria audiovisual, a empresa já teria infraestrutura suficiente para competir com nomes tradicionais, como os estúdios Walt Disney.

“Quanto tempo uma empresa que começa do zero demora para produzir o conteúdo que os grandes streamings já têm?”, indaga Almeida. “Inclusive, a Disney já conseguiu superar a Netflix em termos de assinantes porque ela tem um portfólio de muitos anos. O mesmo vale para a Warner Bros que mantém o HBO Max. Na verdade, ela está comprando mais o tempo [de produção] do que qualquer outra coisa”, define

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Streaming cresce, mas passa por ajustes

A Netflix cresceu exponencialmente nos últimos anos, nadando de braçadas na conquista de novos adeptos ao streaming de vídeo. No meio do ano passado, porém, conforme relatório financeiro divulgado trimestralmente, a plataforma registrou uma fuga de quase 1 milhão de clientes, e isso se deu por vários fatores: reajuste das assinaturas, revisão do modelo de negócio e a competição com outros players que surgiram nos cenários domésticos e global.

Diante disso, na tentativa de conter os índices negativos, a empresa tem realizado diversas mudanças em seu formato, a exemplo da inclusão do pacote com publicidade e da cobrança de taxas pelo compartilhamento de senhas entre os usuários. Embora essas mudanças não agradem parte do público, elas são uma saída que a marca encontrou para aumentar a receita, enquanto vê o número de assinantes se assentar.

Na análise de Almeida, essa tendência de estabilização é um processo natural das novas tecnologias que acontece à medida que o mercado se consolida. No entanto, ele acredita que há outras estratégias para reverter esse cenário, e aposta que a mudança de uma plataforma segregada para o formato de marketplace é o caminho para conquistar mais consumidores e, consequentemente, lucrar mais.

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“Eu acredito que os marketplaces vão prevalecer porque os clientes podem montar o seu próprio pacote, escolhendo o que e como ele quer consumir. Fazendo um paralelo com a TV por assinatura, é como se ele escolhesse só os canais que quer assistir, podendo trocar de um mês para o outro para assistir algo específico. Este é um serviço mais dinâmico, centrado no consumidor e uma opção para não perder assinantes, dando a ele várias opções de definir o que quer assistir”.

Ainda não se sabe se esse é o caminho que a Microsoft pensa no caso da eventual compra da Netflix, mas é o escolhido pela Amazon, que mantém parceria com Paramount+, por exemplo. É também a configuração do Globoplay, que oferece pacotes com programações ao vivo de vários canais da TV por assinatura [como Telecine e Premiere], além de opções que incluem serviços internacionais, como o Star+.