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SÃO PAULO — As startups atacam mercados grandes e em que enxergam clientes mal atendidos – ou simplesmente ignorados. Para a Sami, negócio escalável e tecnológico ligado ao ramo da saúde, esse é o caso do segmento de planos de saúde complementares.
Fundada em 2018, a Sami já recebeu 90 milhões de fundos e investidores-anjo – boa parte de uma rodada série A anunciada hoje, de R$ 86 milhões. O aporte foi liderado pelos fundos Valor Capital Group e Monashees.
O que atraiu os investidores foi a proposta de um bom atendimento de saúde a um custo acessível, como fariam as redes como a Hapvida e a Prevent Senior, mas levando dados e performance aos atendimentos feitos por médicos e pelos hospitais.
“A medicina é cara, mas a má medicina é mais cara ainda. Se você tem um sintoma e resolve não ir ao médico para economizar, pode ter custos maiores no futuro. Acontece o mesmo se o médico faz um diagnóstico errado e prescreve um medicamento que não resolverá o problema”, diz o cofundador Vitor Asseituno ao InfoMoney.
Segundo a Agência Nacional de Saúde (ANS), a receita de contraprestações das operadoras somou cerca de R$ 200 bilhões em 2019. Mesmo assim, ainda existe um mercado grande a ser explorado. Uma pesquisa do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) feita há dois anos mostrou que 69,7% dos brasileiros não têm plano de saúde particular, empresarial ou individual.
Mais inteligência às operadoras de saúde
A Sami foi criada pelos empreendedores de saúde Guilherme Berardo e Vitor Asseituno em 2018. Médico de formação, Asseituno trabalhou na aceleradora americana de startups Rock Health e conheceu benchmarks que levariam à criação da Sami. As operadoras de saúde digitais Bright Health e Oscar Health levantaram US$ 1,6 bilhão e US$ 1,5 bilhão com investidores respectivamente.
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De volta ao Brasil, Asseituno criou primeiro a empresa de eventos na saúde Live Healthcare. A empresa foi vendida há dois anos para o grupo de eventos Informa. O empreendedor se uniu a Berardo para fundar a Sami. Berardo fez carreira no banco de investimentos Merrill Lynch. Depois, montou um hospital para idosos junto do tio, que era médico. O empreendimento se tornou a rede Premium Care, com oito clínicas de longa permanência atualmente.
Asseituno e Berardo receberam o primeiro investimento externo para a Sami em março de 2019. Os fundos Canary e Redpoint eventures aportaram US$ 1,3 milhão na startup de saúde, acompanhados de anjos como Paulo Veras (99), Sérgio Ricardo dos Santos (Amil) e Alan Warren (Oscar Health).
O empreendimento começou abordando as operadoras de saúde, implementando o serviço de telemedicina e usando análise de dados para filtrar os melhores médicos. O objetivo era reduzir a evolução dos casos, reduzindo a sinistralidade (e os custos) das operadoras.
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O mínimo produto viável (MVP) acumulou dados de 500 mil pessoas. A pandemia acelerou a expansão da startup: o negócio foi de 15 para 82 funcionários desde março. Metade da equipe é de programadores.
Novo investimento e o futuro da Sami
Muitas operadoras não tinham essa cultura de coletar informações com precisão, porém. “Vimos que tínhamos de mudar muita coisa em cultura e tecnologia. Criarmos uma operadora era a melhor opção para lançarmos a solução que queríamos mais rápido”, diz Asseituno. O novo aporte veio justamente para a criação da operadora de saúde própria da Sami.
O série A de US$ 15,5 milhões (cerca de R$ 86 milhões) foi liderado pelos fundos Valor Capital Group e Monashees. Canary e Redpoint eventures acompanharam a rodada, dobrando a aposta na Sami. Os fundos são responsáveis por sete dos 13 unicórnios brasileiros – startups avaliadas em pelo menos US$ 1 bilhão.
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“É por meio de tecnologia que o mercado de saúde vai se empoderar. A Sami está aplicando transformação digital, trazendo transparência e aumentando a interação dos usuários. Com isso, há ganhos de eficiência para as empresas e para o ecossistema como um todo”, afirmou em comunicado Michael Nicklas, sócio do Valor Capital Group.
Este é o maior série A já recebido por uma healthtech brasileira. Segundo a base de dados Sling Hub, completam o pódio a Dr. Consulta (US$ 14 milhões) e Alice (US$ 12,5 milhões). Convertendo para reais segundo a cotação da época, a Alice toma a segunda posição.
A operadora de saúde da Sami lança hoje (19). A lista de espera deve gerar contratos assinados em novembro. A contratação poderá ser feita de forma completamente online pelas empresas – o foco da startup está em pequenos CNPJs, com até 99 vidas e por isso mais propensos a testarem uma compra digital. O custo ficará entre 10% a 20% mais barato em comparação com um plano de saúde corporativo tradicional, segundo Asseituno.
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O reajuste seguirá o Índice de Preços para o Consumidor Amplo (IPCA), e não o reajuste tradicional das operadoras de saúde. A atualização de preços nos planos de saúde foi de até 7,31% entre maio de 2019 e abril de 2020, enquanto o IPCA acumulou 2,40% no mesmo período. A ideia é que as pequenas empresas não precisam renegociar e trocar de plano frequentemente.
Cada usuário terá um médico responsável por acessar seu histórico, acompanhar sua saúde e orientar o agendamento de consultas com especialistas. Esses profissionais receberão feedbacks do usuário, assim como no aplicativo de mobilidade urbana Uber. “No lugar de dezenas de hospitais e milhares de médicos que você não conhece o histórico, teremos uma seleção. Se você tem centenas de amigos, na verdade não tem nenhum”, diz Asseituno.
Na toada de atendimento primário e medicina preventina, a Sami também oferecerá gratuitamente por um ano o serviço de academias Gympass e consultas por telemedicina.
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A Sami continuará praticando a tradicional remuneração por consulta ou serviço para os médicos e instituições de saúde parceiras. Mas já está estudando outros modelos de monetização para decidir qual deles gera o melhor incentivo ao setor, evitando a ocupação desnecessária de leitos hospitalares.
Um exemplo é um salário fixo mensal, somado a uma remuneração por satisfação do paciente (NPS) e por resultados comparados com pacientes que fizeram procedimentos similares. A complexidade do paciente, como criança ou idoso, pode gerar um adicional.
Além das discussões sobre monetização, os médicos e instituições de saúde deverão concordar em coletar dados precisos sobre seus pacientes. Essas informações são fundamentais para a Sami continuar aprimorando sua análise de performance. A healthtech já tem uma parceria com a Beneficência Portuguesa de São Paulo.
A operadora da Sami ficará apenas no estado paulista por enquanto, aprimorando seu produto. O atendimento a outras operadoras de saúde continuará, especialmente fora de SP. Asseituno não vê uma grande competição.
“Surgirão uma ou duas mais operadoras de saúde com foco no digital. Nos Estados Unidos, seguimos apenas cinco empresas. Isso porque são empreendimentos que sofrem uma grande regulação e que demandam muito investimento, além de viverem do risco. Uma cirurgia caríssima pode ser maior do que a soma das mensalidades.”