Passado o grupamento, ação deixará a casa dos centavos amanhã; mais uma cilada?

Grupamento foi aprovado no final de abril e com isso as ações preferenciais da empresa, que valiam R$ 0,04 nesta quinta-feira, passarão a ser negociadas a R$ 2,00

Marília Kazmierczak

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SÃO PAULO – Lembrete para os investidores que gostam de micro caps: a partir do próximo pregão, as ações da Metalgráfica Iguaçu (MTIG4) passarão a ser negociadas sob efeito do grupamento na razão 50 para 1. Com isso, os papéis preferenciais da produtora de latas de aço, atualmente cotados a R$ 0,04, valerão R$ 2,00 a partir de sexta-feira (29). Já os ativos ordinários (MTIG3), que estão cotados a R$ 0,20, passarão a valer R$ 10,00 na Bovespa.

Com isso, o total de ações que compõem o capital social da Metal Iguaçu diminuirá de 312.516.000 para 6.250.320. Desse montante, 2.083.440 são ordinárias e 4.166.880 são preferenciais, informou a companhia na ata da assembleia geral de acionistas realizada em 29 de abril, quando foi aprovada a proposta de grupamento. Assim, o valor de mercado da empresa não sofrerá alterações mesmo com o aumento do valor de face das ações.

Em uma resposta à “ameaça” da BM&FBovespa de banir ações que valem menos de R$ 1,00 na Bolsa, muitas “penny stocks” têm anunciado grupamentos de ações, com o intuito de aumentar o valor de face de cada papel através da diminuição da quantidade de ações. Em entrevista ao InfoMoney concedida em março, o diretor-presidente da Metal Iguaçu, Rogerio Marins, disse que o único objetivo do grupamento de ações é realmente fazer com que a companhia de adeque às novas exigências da BM&FBovespa. “Os objetivos da empresa continuam os mesmos expressos nos nossos balanços trimestrais”, afirma.

Grupamento = cilada?
A operação, em um primeiro momento, é vista como positiva no sentido de trazer maior liquidez para ativos que eram negociados próximos de R$ 0,01. Mas o que temos visto na prática é que os grupamentos têm aberto espaço para que aquelas ações que não tinham mais como cair simplesmente… voltassem a cair. Isso porque embora o valor de face da ação tenha aumentado, os fundamentos da empresa permanecem os mesmos de quando ela valia poucos centavos. Ou seja, se a companhia não conseguir mostrar uma melhora de perspectiva após o grupamento, a tendência é que suas ações simplesmente tenham mais espaço para cair na Bolsa.

O próprio mercado brasileiro mostrou nos últimos anos diversos casos em que o grupamento acabou sendo um tiro no pé dos acionistas. Um caso recente que provou-se uma verdadeira “cilada” foi o dos grupamentos da JB Duarte (JBDU4): a fabricante de bambu e eucaliptos agrupou suas ações ordinárias e preferenciais no dia 15 de dezembro, na razão de 100 para 1, tirando as cotações de ambas da incômoda região abaixo de R$ 0,10. No entanto, no pregão seguinte, as ações da companhia despencaram por volta de 30%. De lá para cá, a desvalorização já supera a faixa dos 40% e as ações operam a R$ 3,60.

De 2014 pra cá, a Metal Iguaçu já perdeu cerca de 60% de valor de mercado. Sobre a possibilidade do grupamento abrir espaço para ainda mais quedas, o diretor da empresa disse ao InfoMoney em março que não comentaria o assunto, já que isso “depende das forças de mercado”.