O investidor que possui R$ 190 milhões em VALE5 e não quer trocá-las por VALE3

Acionista da Vale desde 1978, este investidor passou a deter 2% do total de VALE5 após a conversão de ações em agosto; em conversa com o InfoMoney, ele explica por que não quer abrir mão delas

Thiago Salomão

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SÃO PAULO – No dia 18 de outubro, os acionistas da Vale se reunirão para aprovar, entre outros pontos, a conversão do restante das ações preferenciais (VALE5) em ordinárias (VALE3), sendo este o “último passo” a dar antes da migração para o Novo Mercado – o nível mais alto de governança corporativa no mercado brasileiro. Na primeira conversão voluntária, que foi encerrada 11 de agosto, 1.660.581.830 de ações VALE5 – o equivalente a 84,4% do total – foram entregues para se transformarem em VALE3, restando pouco mais de 300 milhões de papéis preferenciais.

A medida vem sendo amplamente comemorada pela companhia, analistas e investidores. Contudo, se dependesse deste gigante acionista da Vale, a migração ao Novo Mercado ficaria só na imaginação. Este acionista, que conversou com exclusividade por telefone com o InfoMoney e pediu anonimato, passou a ter cerca de 2% do total de ações PNA após a conversão de agosto, o que equivale a mais de 6 milhões de VALE5 – nos preços atuais, isso significa R$ 190 milhões aplicados em VALE5.

Ex-participante ativo do mercado financeiro, o milionário anônimo começou a montar essa posição de VALE5 em 1978 e criticou a maneira como a conversão foi feita. “Quando eu comprei, elas [VALE5] valiam mais que as ONs [VALE3] e foi assim até a privatização. Com o pretexto de entrar no Novo Mercado, eles querem cancelar as PNs e criar novas ONs. Então, a ação que valia mais lá atrás passa a valer menos. 6,58% a menos, pra ser mais exato”, diz o acionista, referindo-se à relação de troca oferecida pela Vale: para cada 1 VALE5 que o investidor converteu, ele recebeu em troca 0,9342 VALE3.

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Dividendos: o principal motivo para “lutar” por VALE5

O fato é que nessa discussão ele está quase sozinho: não só a Vale como praticamente todos os analistas e gestores do mercado explicaram que essa troca, embora “negativa” no curto prazo, será mais do que compensada pela série de benefícios que a migração da empresa para o Novo Mercado trará (leia mais sobre os benefícios da conversão de VALE5 em VALE3 clicando aqui).

Mas isso não convence nosso misterioso entrevistado, que usa o argumento do dividendo como principal motivo para não querer que essa migração ao Novo Mercado torne-se realidade. Conforme ele explicou, a única vantagem da ação preferencial é que o acionista torna-se prioritário na hora de receber dividendos. E mesmo que em toda sua história a Vale tenha pago o mesmo valor de dividendo para VALE3 e VALE5, o detalhe da “obrigação” é o que lhe faz bater o pé sobre não participar da conversão.

“O dividendo é igual pra VALE3 e VALE5. Mas o que mudou é que se a Vale não quiser distribuir dividendos, ela não precisa, mas estatutariamente ela é obrigada a pagar 25% de dividendos para os detentores de ações preferenciais. Como meu caso com ela é só dividendos, não quero converter”, explica o acionista.

Sobre porque investe nas ações da Vale, ele mostrou mais uma vez que é uma pessoa de convicções, digamos, peculiares: “eu não confio no mercado chinês, sou da época que dizia que algo ruim era ‘um negócio da China’, e a China pra mim continua sendo um grande engodo. Como eu sou cético com a economia brasileira e mundial, eu gosto de commodities”, resume o detentor de 2% das VALE5 existentes no mercado.

Vale: ele não poderá impedir a “extinção” de VALE5
O InfoMoney entrou em contato com o departamento de RI (Relação com Investidores) da Vale para saber se essa resistência do acionista milionário poderia travar a migração da empresa ao segmento Novo Mercado. Em resposta enviada por email, a Vale explica que este acionista não conseguiria impedir sozinho a conversão das ações preferenciais remanescentes, pois para que a proposta seja aprovada é necessário o voto de 50% + 1 dos detentores de ações ordinárias, conforme informado no manual de convocação da AGE (Assembleia Geral Extraordinária). “Individualmente ele não teria como afetar a conversão dos preferencialistas”, explica a área de RI.

Se for aprovado pelos detentores de VALE3, a Vale convocará no mesmo dia uma assembleia especial somente para os detentores de VALE5, para que eles deliberem sobre a proposta de conversão das ações. “Na assembleia, ele vota se aceita, rejeita ou se abstém. Se for aprovada na assembleia a conversão total e alguém não votou a favor, este alguém pode ter o direito de retirada, desde que ele tenha as ações desde o dia 18 de agosto até a data do pedido de retirada”, disse a empresa em resposta ao InfoMoney.

O “direito de retirada” ou “recesso”, explica a Vale, é a possibilidade de não ser mais acionista da empresa, sendo um direto assegurado pela Lei das S.As. No caso, o acionista obtém um reembolso pelas ações, geralmente pelo valor patrimonial.

Thiago Salomão

Idealizador e apresentador do canal Stock Pickers