O homem que tornou a M. Dias Branco gigante – e o que esperar para a companhia sem ele

Aos 81 anos, Ivens Dias Branco faleceu no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, na sexta-feira - questionamento sobre futuro da M. Dias Branco é questioando

Lara Rizério

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SÃO PAULO – O Brasil perdeu um de seus maiores empresários no último dia 24 de junho de 2016. Aos 81 anos, Ivens Dias Branco faleceu no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, por complicações em uma cirurgia cardíaca. 

Dono de uma das maiores fortunas do Nordeste, Dias Branco era presidente do Conselho de Administração da M. Dias Branco (MDIA3), líder nacional na fabricação e venda de biscoitos e massas. A empresa é a quarta maior produtora de massas do mundo, tem mais de 14 fábricas, 13 distribuidoras e emprega mais de 16 mil funcionários. Sua fortuna foi avaliada, segundo o último ranking de bilionários brasileiros, em R$ 8,2 bilhões, sendo o 17º homem mais rico do País.  

Francisco Ivens de Sá Dias Branco nasceu em Fortaleza em 3 de agosto de 1934, filho do português Manuel Dias Branco, dono da padaria Imperial. Ivens esteve à frente da companhia desde 1953, quando tinha 19 anos e, com visão empreendedora, ampliou os negócios do seu pai, investindo na fabricação de biscoitos em escala industrial. Assim, o negócio, que era varejo, passou a ser indústria.

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Nos anos seguintes, houve uma forte modernização e o crescimento das vendas e da produção.  Focando em um sistema de distribuição voltado ao pequeno e médio varejo, a companhia superou grandes companhias no segmento de biscoitos e tornou-se líder nacional. 

Nos anos 1990, a companhia iniciou um processo de verticalização da produção inaugurando a primeira unidade de moagem em Fortaleza, além de ter começado um acelerado processo de expansão orgânica com novos moinhos e construindo novas indústrias de massas e biscoitos. 

Em 2006, a companhia abriu capital, levando à compra de diversas marcas regionais. Três anos antes, a companhia adquiriu a Adria, o que abriu o espaço também nos supermercados e nas indústrias das regiões Sul e Sudeste.  Entre 2008 e 2012, a M. Dias Branco adquiriu diversas empresas, como BomGosto, Vitarella, grupo Estrela, entre outras. 

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No ano de 2014, Ivens passou o comando e o dia da companhia para o filho Francisco Ivens Dias Branco Júnior e saiu do dia a dia da empresa, mas presidia o conselho de administração. Em seus últimos anos, o seu foco estava em outros negócios, como uma fábrica de cimento e um terminal portuário em Aratu (BA).

Em nota, a família Dias Branco disse que “neste momento de indescritível dor, estamos amparados no exemplo de força, união, dinamismo e incessante trabalho que ele nos deixa como legado, certos de que ele estará sempre vivo em cada momento e conquistas que teremos daqui por diante. (…) Esta fé inabalável que marcou sua vida, seu amor pela família e pelos amigos, seu respeito e carinho com cada colaborador e seu compromisso com o Brasil nos inspirarão a seguir, unidos com honra e entusiasmo, na sua trajetória de conquistas”.

Futuro da empresa
Depois dos dias de luto, o futuro da companhia deve ser alvo de especulações. O banco BTG Pactual destacou que, mesmo não estando mais como CEO, uma vez que o seu filho assumiu esta posição há dois anos, Ivens ainda era bastante presente no dia-a-dia da companhia e nas tomadas de decisão mais estratégicas. A sucessão propriamente dita já foi encaminhada quando ele saiu do posto de CEO e seu filho assumiu em 2014.

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“Mesmo com ele bastante presente, o processo de ‘profissionalização’ já estava encaminhado, com toda a diretoria formada por profissionais de fora da família. Os filhos ocupam cargos de vice-presidência mas sempre entendemos que tem sido mais uma questão burocrática do que executiva propriamente dita. Dito isso, alguns pontos ainda importantes e questões pendentes: (i) o fundo Dibra que detém 63% das ações da M.Dias Branco e de outras empresas da família ainda era controlado por ele diretamente – importante ainda entender como fica a questão da herança (outros membros da família em conjunto tem os outros 12%); (ii) quem assumirá o conselho ainda é incógnita; (iii) a real intenção dos filhos em tocar o negócio daqui em diante precisa ser 100% esclarecida; (iv) o real grau de consonância dos filhos também é incógnita – há sempre o risco de algum tipo de dispersão”, afirmam os analistas do banco.

Em suma, eles ressaltam que não há ruptura, mas o risco de uma eventual venda do negócio a médio prazo aumenta. “Achamos que o mercado pode caminhar nessa direção”, afirma o BTG. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.