Nos bastidores das finanças, a brasileira Dock já vale US$ 1,5 bilhão

Dock foi startup brasileira que recebeu o maior investimento de maio. Provedora de infraestrutura financeira virou unicórnio com a rodada

Mariana Fonseca

Antonio Soares, da Dock (Karin Marcitello/Divulgação)
Antonio Soares, da Dock (Karin Marcitello/Divulgação)

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As startups brasileiras captaram US$ 298,5 milhões com investidores em maio, cerca de 60% menos do que o visto no mesmo mês de 2021. Os capitalistas de risco estão olhando para empreendedores com histórico; para setores resilientes; e, como sempre, para alto crescimento. A Dock é um desses casos.

A startup fornece infraestrutura financeira para negócios como bancos, fintechs, varejistas e empresas de bens de consumo. A Dock foi a startup brasileira que recebeu o maior investimento de maio. A rodada de US$ 110 milhões avaliou a Dock em US$ 1,5 bilhão, transformando-a em um unicórnio. Unicórnios são startups com valor de mercado de ao menos US$ 1 bilhão.

Mesmo assim, a Dock não se considera similar a empresas como 99, Nubank, Gympass e Quinto Andar. “Entendemos que o nosso caminho é diferente dos traçados pelas empresas tradicionalmente conhecidas como unicórnios. Somos uma empresa de mais de 20 anos, transformada ao longo dos últimos oito anos. Tivemos um crescimento mais exponencial apenas a partir de 2016”, afirma Antonio Soares, cofundador da Dock, em conversa com o Do Zero Ao Topo, marca de empreendedorismo do InfoMoney.

Tudo começou com a processadora de cartões não bandeirados Conductor, criada em 1997. A empresa faturava cerca de R$ 23 milhões por ano quando Antonio Soares e o fundo Riverwood Capital a adquiriram, em 2014.

A história da transformação da Conductor foi tema do episódio 53 do podcast Do Zero ao Topo. Nele, Soares conta como revolucionou a companhia:

A Dock foi construída em cima da infraestrutura de interfaces de programação (APIs) da Conductor. A empresa obteve licenças e entrou para o ramo de banking as a service (BaaS) em 2018.

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“Vimos uma disputa no mercado de adquirência a partir de 2010, e depois uma disrupção similar no mercado de serviços bancários e serviços financeiros como um todo. Entendemos que pagamentos estão em todas as indústrias hoje. Nosso objetivo é que nosso cliente empresarial não se preocupe com essa parte, que não é seu diferencial, e foque na experiência do seu usuário. As empresas são as que entendem melhor os consumidores dos seus nichos, e é com essa intermediação deles que conseguimos alta escala para nossa solução”, afirma Soares.

Segundo um estudo realizado pela própria Dock, a penetração de smartphones foi de 71% na América Latina em 2020. Mesmo assim, 54% da população latino-americana ainda não usa meios de pagamentos ou serviços bancários digitais.

A Dock permite que empresas forneçam aos seus próprios clientes serviços como criar uma conta digital, pagar contas, emitir um cartão personalizado e fazer transferências por Pix. A fintech tem tecnologias para identificação dos usuários e para bloqueio de transações fora do comportamento usual, como forma de prevenir fraudes e inadimplência. A Dock atende empresas como C6 Bank, Ambev, Renner e os serviços de pagamento Mercado Pago e Natura Pay.

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Em 2021, a Dock cresceu seu número de contas ativas mensais em 55%, para 48,4 milhões. A porcentagem foi acima da média para a fintech: desde 2014, seu crescimento médio anual foi de 45%. Hoje, a Dock atende 300 empresas e 65 milhões de usuários finais ativos. 200 dessas empresas usam os serviços de banking as a service, enquanto as outras 100 já são instituições de pagamento ou instituições financeiras e usam apenas o software como um serviço (SaaS) da Dock.

A fintech afirma que que seu mercado total endereçável é de US$ 18,5 bilhões na América Latina. O valor representa a soma do mercado de US$ 16 bilhões do banking as a service e do mercado de US$ 2,5 bilhões do processamento de cartões.

A Dock já tinha feito uma rodada de US$ 170 milhões em 2020. Com o dinheiro, realizou uma série de aquisições. Comprou a Muxi, uma empresa de softwares de adquirência; a Brasil Pré-Pagos (BPP), outro provedor de banking as a service; e a concorrente mexicana Cacao.

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A rodada atual foi liderada pelos fundos Lightrock (que tem no portfólio empresas como Creditas, Dr. Consulta e Frete.com) e Silver Lake Waterman (Airbnb, Ant Group, Dell). O aporte foi acompanhado por fundos que já tinham investido na Dock, como Riverwood Capital (99, Petlove, Quinto Andar), Sunley House Capital (Creditas, Nubank) e Viking Global Investors (Clip, Habi).

A fintech usará os novos recursos para sua expansão internacional e para desenvolvimento de produtos. A Dock já está no México e na Colômbia, e tem como próximos destinos Argentina, Equador e República Dominicana. Em termos de produto, a fintech está obtendo uma licença para se tornar adquirente das principais bandeiras e oferecer serviços como maquininhas para as empresas que atende.

A oportunidade no embedded finance

O Do Zero Ao Topo já falou anteriormente sobre a oportunidade transformar qualquer empresa em uma provedora de serviços financeiros – movimento conhecido como embedded finance (“finanças embutidas”).

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Bruno Diniz, especialista em fintechs, afirmou na época que as provedoras de processos bancários e financeiros como um serviço conquistaram espaço por oferecerem integrações acessíveis, seja em preço ou em agilidade. “Estamos vendo uma rápida adoção do banking as a service e do fintech as a service. Empresas de diferentes segmentos estão criando desde produtos pontuais até ecossistemas completos, que combinam soluções financeiras e não financeiras para seus clientes.”

Um benchmark é a americana Marqeta. O negócio fornece emissão de cartões e está avaliado em cerca de US$ 13 bilhões na Bolsa de Valores de tecnologia Nasdaq. Na América Latina, a competição para a Dock é acirrada. Hash, Pismo, Pomelo e Swap são algumas empresas que atuam com “finanças embutidas”.

Para Diniz, ganhará quem oferecer a melhor combinação de custo, tecnologia, variedade de produtos financeiros, velocidade de implementação e possibilidade de customização. E ainda estamos longe de um mercado saturado. “A oportunidade é muito grande, e existem várias lacunas para serem ocupadas. Por outro lado, talvez vejamos um processo de consolidação em breve, puxado por grandes nomes do setor, à medida que se capitalizam e buscam complementar as suas ofertas”.

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A Dock e seus investidores concordam que a oportunidade de se destacar ainda existe. “Mesmo com os avanços positivos nos últimos anos, o mercado de serviços financeiros na América Latina ainda tem espaço significativo para um crescimento acelerado”, afirmou em comunicado Marcos Wilson Pereira, sócio operador e líder da Lightrock na América Latina. “Temos como diferencial uma cobertura ampla na cadeia de pagamentos, enquanto outras oferecem apenas serviços bancários, apenas pagamentos, apenas adquirência ou apenas o software para essas transações. Mesmo assim, ainda temos espaço para expansão. Com esse investimento, é como se a gente virasse adolescente novamente. Estamos nos preparando para uma nova fase de crescimento.”

Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.