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A Treecorp está preparando seu quarto fundo de investimento: serão R$ 700 milhões, com a primeira tranche de captação a ser anunciada no terceiro trimestre deste ano. A gestora, conhecida por investimentos como a rede de hamburguerias Cabana e a empresa de produtos para animais de estimação Zee.Dog, busca repetir a fórmula que tem mostrado altas taxas de retorno nos últimos anos: colocar dinheiro na intersecção entre negócios e tecnologia. Ainda, aproveitar a lacuna de investimentos existente entre os fundos de venture capital e de private equity.
Os fundos que atuam nesse meio de campo têm até nome próprio: growth equity, ou fundos ou participação em empresas em crescimento. O growth equity é uma subdivisão do private equity, voltada para empresas menos maduras do que as visadas tradicionalmente.
“O venture capital tem uma carteira maior e tem mais espaço para fazer apostas em preços menos razoáveis. Por outro lado, o private equity de price buy procura o melhor preço possível e sai cortando custos. Nós buscamos crescimento, mas temos apenas uma carteira com oito a dez posições ativas e desconfiamos de barganhas. O empreendedor que procuramos sabe do seu valor e procura uma diluição que não o desalinhe de seu comprometimento com a empresa, enquanto nós buscamos retorno sobre o investimento”, afirmou Danilo Soares, sócio-diretor da Treecorp, em entrevista ao Do Zero Ao Topo, marca de empreendedorismo do InfoMoney.
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“Você conta em uma mão a quantidade de fundos desse tipo no Brasil, então vemos uma oportunidade na falta de dinheiro para as empresas em crescimento. Queremos mostrar que existem saídas para esses negócios, e elas vão desde o IPO [oferta pública inicial de ações] até o M&A [fusões e aquisições]”, completou Bruno D’Ancona, outro sócio-diretor da Treecorp.
A gestora foi criada há dez anos e capta recursos com family offices, fundos de fundos locais e investidores institucionais internacionais. Seus três fundos atuais acumulam uma gestão de R$ 1 bilhão, dividido entre nove empresas investidas.
A Treecorp investe em empresas com produtos testados, uma base recorrente de clientes, crescimento acelerado e indicadores econômicos saudáveis – mas que ainda precisam de algumas rodadas de investimento para chegar até uma saída. A Treecorp olha ainda para quatro grandes setores: varejo e consumo; saúde complementar às redes de hospitais; serviços especializados, como administração de condomínios e consórcios; e tecnologia.
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Essa tese permaneceu a mesma ao longo dessa década de Treecorp. Porém, os valores dos cheques e das empresas foram aumentando com os anos.
“Costumávamos investir entre R$ 10 milhões e R$ 15 milhões em empresas que faturavam anualmente entre R$ 30 milhões a R$ 50 milhões. Mas o Brasil cresceu, e nosso cheque aumentou. Atuamos agora com cheques de R$ 100 milhões para empresas que faturam por ano entre R$ 50 milhões a R$ 300 milhões. Buscamos fazer acordos que estão fora do radar, e se abarcarmos empresas com faturamento maior vamos perder esse DNA e entrar em uma briga de preços com outras gestoras”, diz Soares.
A Treecorp tem em sua carteira negócios como Cabana, Zee.Dog e a administradora de consórcios Ademicon. De acordo com Soares, cada acordo é como uma gestação: o processo de análise do negócio, checagem das informações prestadas (diligência) e assinatura leva cerca de nove meses. Mas existe ainda o trabalho de encontrar tais negócios, o que pode levar anos de “pé na rua.”
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“Por exemplo, investimos na Zee.Dog em junho de 2020. Mas foram quatro anos analisando e entendendo o setor. Fomos a diversas feiras para cumprimentar fundadores e fazer perguntas de negócios do mercado pet. Visitamos fabricantes e distribuidores de rações e de remédios. Ainda, estudamos marcas e franquias do ramo. Quando conhecemos os fundadores da Zee.Dog, já entendíamos a dinâmica do mercado pet e como as empresas dele se monetizam.”
A Treecorp comprou uma participação de R$ 100 milhões na Zee.Dog. Na venda da empresa para a gigante Petz (PETZ3), a gestora decidiu trocar sua fatia por ações. Hoje, seus papéis de Petz valem cerca de R$ 250 milhões. A gestora acumula quatro saídas entre seus três fundos, incluindo a venda da Zee.Dog.
A média da taxa de retorno dos fundos da Treecorp, ponderando volume de investimentos em carteira e realizados, ficou acima de 30% ao ano ao longo da história da gestora. Ela afirma que esse retorno vem de mudanças no financeiro e na estratégia das empresas investidas.
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“Temos o direito de escolher o diretor financeiro e trazemos processos de controladoria. Também ajudamos na definição de KPIs [indicadores chaves], na montagem de plano de negócios e em eventuais processos de M&A”, diz Soares. O acompanhamento é feito por um “conselho participativo”, formado por sócios da Treecorp e especialistas de mercado. “O objetivo de ter uma empresa auditada e com conselho é criar um maior valor de mercado. São diferenciais na comparação com a maioria das empresas brasileiras de médio porte, muitas delas familiares.”
Macro x micro
A Treecorp pretende encerrar a primeira leva de captação do seu quarto fundo no terceiro trimestre deste ano. A conquista dos R$ 700 milhões deve acontecer em um ano de correção de múltiplos das empresas de tecnologia nos mercados públicos, e de diversas turbulências econômicas e políticas no cenário internacional e nacional.
O mercado acionário americano mostrou no começo deste ano uma desvalorização dos papéis das techs, ante o aumento da taxa de juros no país. Já no mercado acionário brasileiro, alguns gestores reconheceram que pagaram caro demais em operações no ano passado, incluindo IPOs de companhias de tecnologia. Para a gestora, a reavaliação de múltiplos não preocupa. “Vemos ainda um atraso de seis meses para o mercado público se refletir no mercado privado, mas não estamos preocupados. Não pagamos o que não achamos razoável”, diz D’Ancona.
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A Treecorp também não dá grande importância para as turbulências econômicas e políticas. “Tranquilidade é exceção no Brasil. Já mostramos que dá para fazer um bom trabalho independente da macroeconomia”, diz D’Ancona. “Olhamos para um lado do país que recebe investimentos e cresce. Investimos no micro: analisamos gestão, caixa, margem, estratégia, tecnologia e tamanho de mercado para calcular qual o preço razoável em troca do crescimento, qual o custo de capital para a alavancagem da operação de cada empresa investida”, completa Soares.
Mesmo assim, a gestora está de olho nos seus investidores que de fato se preocupam com o contexto. A segunda e a terceira leva de captações para o quarto fundo só devem ser encerradas, respectivamente, depois das eleições presidenciais e no começo de 2023.
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