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SÃO PAULO – A companhia de cosméticos Natura anunciou nesta quarta-feira a aquisição da Avon Products em uma operação que envolve troca de
ações (all-share merger). O acordo avalia a Avon em US$ 3,7 bilhões e o novo grupo em US$ 11 bilhões.
O negócio ainda está sujeito à aprovação de reguladores, mas transforma a empresa conjunta na quarta maior do setor, de acordo com o fato relevante publicado.
Juntas, as empresas estimam faturamento anual superior a US$ 10 bilhões Elas assumem a liderança na modalidade de venda por relações (ou porta a porta) por meio das mais de 6,3 milhões de Representantes e Consultoras da Avon e da Natura, e presença geográfica global, com mais de 3,2 mil lojas.
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A brasileira irá deter 76% da empresa conjunta. O restante ficará sob controle dos acionistas da Avon.
O financiamento será possibilitado mediante um crédito de US$ 1,6 bilhões que a Natura obteve perante o Banco Bradesco S.A; o Citigroup Global Markets Inc.; e o Itaú Unibanco S.A.
No comunicado, a empresa diz esperar sinergias entre US$ 150 milhões e US$ 250 milhões anuais, “algumas das quais serão reinvestidas para aumentar ainda mais sua presença nos canais digitais e mídias sociais, em pesquisa e desenvolvimento, iniciativas de marca e expansão da presença geográfica do grupo”.
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Com base no preço de fechamento da Natura em 21 de março, a transação representa um prêmio de 28% para os acionistas da Avon e implica um múltiplo Ebitda de 9,5 vezes, ou de 5,6 vezes, presumindo o impacto total das sinergias esperadas.
A ação da Natura (NATU3) fechou com alta de 9,43% nesta quarta com os rumores sobre a notícia, que só foi confirmada após o término do pregão.
Adeodato Netto, estrategista da Eleven Financial Research, acredita que a alta do papel é totalmente justificável.
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Para ele, a solução encontrada em parceria com o Santander, que criou um serviço de pagamento em cartão próprio para as vendedoras porta-a-porta, e a geração de receita associada aos serviços financeiros agregados a essa modalidade de vendas têm chance de virar “um monstro” com a Avon. Pelo Fato Relevante, que menciona essa modalidade de vendas, a intenção da Natura é justamente essa.
Sua visão positiva também se baseia no sucesso da integração da Body Shop, que no passado esmagou a ação da Natura para R$ 24 antes de uma valorização até os atuais quase R$ 61,50 nos dias de hoje.
Na época, a Eleven foi na contramão dos analistas do setor ao ver como positiva essa aquisição. “Disrupção de modelo, principalmente utilizando dívida, é ame ou odeie”, diz ele.
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Positivo ou negativo?
Desde os primeiros rumores sobre o negócio, analistas do setor falam sobre a ambiguidade envolvida (leia mais aqui). Por um lado, as sinergias entre as empresas parecem numerosas. Com seus maiores mercados no Brasil, as empresas conseguiriam diminuir o quadro de funcionários (10 mil pessoas, somados) e otimizar consideravelmente a logística.
Na outra ponta, a Avon passa por um momento de dificuldade financeira e precisa de uma reestruturação significativa para poder voltar a dar lucro. O J.P. Morgan acredita que a compra pode se traduzir em “distração” na gestão da empresa, cujo volume de vendas anda de lado desde antes da incorporação da The Body Shop.
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Eduardo Yamashita, COO do grupo GS& Gouvêa de Souza e consultor no setor de varejo, vê aumento nos desafios da Natura em aumentar essas vendas com a absorção do negócio da Avon. Mas confia na agilidade da Natura para se aproveitar do canal de vendas diretas com o passar dos anos, somando isso à estratégia omnicanal que adotou com agilidade, que é essencial para o varejo atualmente.
Pedro Bicudo, autor de pesquisas da ISG no Brasil em parceria com a consultoria TGT Consult, lembra que a Natura já transformou o trabalho das suas mais de 1,8 milhão de consultoras digitalizando todo o trabalho, do catálogo à logística. A Avon, por outro lado, tem produtividade mais baixa.
Yamashita acredita que essa digitalização será um grande fator de alavancagem do negócio, já que o custo de manter o sistema para uma base pequena ou grande de revendedoras é praticamente o mesmo. “Quando se agrega uma base relevante de volume de vendas e uma base relevante de revendedoras, o negócio fica muito mais rápido”, diz.
“Times ágeis compostos por negócios e TI da Natura, serão capazes de rapidamente testar, errar, corrigir e superar as diferenças de forma a ajustar o modelo às consultoras americanas”, diz ele, lembrando que o braço da Avon nos EUA é o que mais precisa de atenção.
A dúvida que fica é se a cultura organizacional da brasileira é “consistente o suficiente para levar a Natura ao sucesso na aquisição”. “A companhia quando é digital tem um valor superior, pois tem uma nova competência competitiva”, conclui o consultor.
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