Na Vibra (VBBR3), por via das dúvidas, uma proteção extra contra ‘takeover’

Reestatização por parte da Petrobras (PETR4) é sempre monitorada pelo mercado, embora a estatal negue a intenção

Rikardy Tooge

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Uma eventual aquisição do controle da Vibra (VBBR3) pela Petrobras (PETR4) — hipótese negada pela estatal, mas constantemente monitorada pelo mercado — tornou-se mais difícil agora, com a ratificação pelos acionistas da proposta da administração para tornar mais cara a compra do controle da empresa. A assembleia aprovou mudanças na precificação de uma eventual oferta pública de aquisição (OPA), caso algum investidor avance mais de 25% do capital da distribuidora.

“A mudança da poison pill é uma forma de defender o acionista. Há potenciais de upside no papel que ainda não foram capturados pelo preço de tela”, aponta Rodrigo Almeida, head de Oil&Gas do research do Santander. “Em nossa opinião, as mudanças aumentam o nível de proteção da empresa contra uma possível aquisição de controle”, acrescenta o Citi, em relatório divulgado nesta quinta-feira (20) — opinião também compartilhada por analistas do Bradesco BBI. Nesta quinta, os papéis da Vibra fecharam a R$ 16,79, uma queda de 0,42%.

Com a mudança, o investidor que comprar mais de 25% do capital a fazer oferta por toda a empresa tendo como referência o preço máximo da ação nos 18 meses anteriores majorado de 15%, também será considerado o pico de preço intradiário, e não somente valores de fechamento, com correção pelo CDI até o dia de formalização da oferta.

Segundo a administração da Vibra, a alteração do mecanismo seguiu sugestão de alguns acionistas. “A administração entende que tais ajustes contribuem para a fixação de um preço da OPA que seja economicamente favorável aos demais acionistas da Companhia”. Nos cálculos iniciais do mercado, a nova regra deverá implicar em cerca de R$ 5 a mais por ação em relação ao prêmio que era exigido anteriormente — em um exemplo, na cotação atual, se a antiga poison pill exigiria algo em torno de R$ 26 por papel, agora seria R$ 31. Isso aumenta a proteção da Vibra contra uma (re)tomada de controle.

Desde o início do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o mercado monitora uma possível volta da União à empresa. Antiga BR Distribuidora, a Vibra foi subsidiária da Petrobras até 2019 e, somente em 2021, o governo saiu totalmente da empresa.

“O comando da Petrobras já admitiu publicamente que deseja uma Petrobras mais verticalizada para além da produção de petróleo”, lembra Mateus Haag, analista da Guide Investimentos. “Agora, vejo improvável para a Petrobras tentar comprar a Vibra, o preço a ser pago subiu muito. Também vejo que isso desestimula o plano de voltar à distribuição, porque só restariam distribuidoras menores a serem adquiridas”.

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O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, negou mais de uma vez que a estatal tenha como plano recomprar a Vibra – inclusive em coletiva de imprensa dada na última quarta-feira. Por outro lado, Prates critica a licença dada à distribuidora para utilizar a bandeira de postos com o nome Petrobras. O CEO entende que esse contrato de uso da marca até 2029, prorrogável por mais 10 anos, tem que ser rediscutido, mas sem judicialização.

“Os postos da Petrobras não são mais da Petrobras e podem vender gasolina que não é da Petrobras. Vamos judicializar [por causa disso]? Não. Vamos conversar. Sem trauma e sem prejudicar ninguém”, disse Jean Paul Prates, em entrevista concedida em maio à GloboNews.

Posto Petrobras, da Vibra (Divulgação)
Posto Petrobras, da Vibra: Prates demonstra contrariedade com nome da estatal vinculado a rede independente (Divulgação)

Outra medida que passou sob o radar do mercado foi uma mudança no sistema de eleição de conselheiros da Vibra. A partir de agora, a votação se dará somente por chapa, não sendo possível eleger conselheiros individualmente. Na prática, mesmo se a Petrobras ou outro investidor montar uma posição relevante na Vibra, esse acionista não teria como concentrar seus votos para eleger um membro do board – ou seja, seria necessário compor em um bloco de controle.

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Para Almeida, do Santander, atualmente há poucas sinergias que poderiam ser capturadas pela Petrobras em um retorno à Vibra. O analista lembra que as regras da Agência Nacional de Petróleo (ANP) limitariam eventuais tentativas de intervenção direta nos preços dos combustíveis ao consumidor final.

Em outra frente, caso a Petrobras siga em frente com seu plano de transição energética, a Vibra poderia ser um meio de “acelerar” a entrada da estatal neste segmento. Rodrigo Almeida cita como exemplo a Comerc, comercializadora de energia que a Vibra comprou metade do negócio e é uma das frentes que a ex-BR Distribuidora vê para avançar na pauta da transição energética. “Tirando a questão da Comerc, não vejo em quais outras frentes a Petrobras poderia se diferenciar, caso voltasse à Vibra”, completa o analista.

Rikardy Tooge

Repórter de Negócios do InfoMoney, já passou por g1, Valor Econômico e Exame. Jornalista com pós-graduação em Ciência Política (FESPSP) e extensão em Economia (FAAP). Para sugestões e dicas: rikardy.tooge@infomoney.com.br