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SÃO PAULO – O Brasil tem 1,6 milhão de lojas virtuais – foram quase 800 lojas virtuais criadas por dia entre julho de 2020 e julho de 2021, segundo uma pesquisa do PayPal Brasil. A Merama está de olho no crescimento do comércio eletrônico em toda a América Latina – e seus investidores compartilham o interesse.
A startup anunciou nesta quinta-feira (9) uma rodada adicional de investimento, feita pelos fundos Advent (que tem no portfólio empresas como Ebanx) e SoftBank (Petlove, Rappi e VTEX). A injeção de US$ 60 milhões avaliou o negócio em US$ 1,2 bilhão, tornando-o um unicórnio. O status é dado para startups que tenham valor de mercado de US$ 1 bilhão ou mais.
A Merama compra fatias majoritárias de lojas virtuais que já lucram, mas poderiam ganhar muito mais se fossem profissionalizadas. O Do Zero Ao Topo, marca de empreendedorismo do InfoMoney, conversou com os cofundadores Guilherme Nosralla e Renato Andrade sobre o modelo de negócios da startup, a nova rodada de investimentos e a meta ambiciosa de atingir um faturamento acumulado de US$ 300 milhões neste ano.
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Lojas virtuais na América Latina
A Merama foi criada por cinco empreendedores (Sujay Tyle, Felipe Delgado, Olivier Scialom, Renato Andrade e Guilherme Nosralla), parte deles com experiência na fundação e diretoria de outras empresas e a outra parte com experiência em consultoria. Andrade e Nosralla são os únicos brasileiros dentre os cinco.
Eles buscaram referências com as americanas Thrasio, criada em 2018, e Perch, fundada em 2019. Ambas compram e transformam lojas virtuais na Amazon. A Thrasio captou US$ 2,4 bilhões em investimentos, enquanto a Perch captou US$ 909 milhões. Para os empreendedores da Merama, o conhecimento da região pode ser uma barreira de entrada.
A Merama começou em janeiro deste ano com sedes simultâneas no Brasil e no México. A startup procura, compra uma fatia majoritária e desenvolve marcas que vendem produtos por marketplaces como Amazon (AMZO34), Americanas (LAME3), Magazine Luiza (MGLU3), Mercado Livre (MELI34) e Via (VIIA3). Brasil e México concentram 80% do faturamento acumulado das lojas compradas pela Merama, mas a startup também atua com e-commerces sediados no Chile, na Colômbia e no Peru.
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A Merama defende um modelo intermediário entre criar marcas e adquirir 100% de marcas terceiras, como Andrade e Nosralla detalharam em uma conversa anterior com o Do Zero Ao Topo.
“Poderíamos lançar nossas próprias empresas e atuar como uma P&G ou uma Unilever. Também poderíamos fazer uma agregação completa das marcas, como a Thrasio. Optamos por adaptar o modelo e nos tornamos parceiros dos empreendedores”, afirmou Andrade. “A Thrasio consegue tirar o empreendedor no primeiro dia após a aquisição. Na América Latina, aqueles que crescem uma marca são praticamente heróis. O processo de importação e venda é complexo tributariamente e muitos empreendedores comercializam em diversas plataformas. Nós precisamos desses vendedores, e eles também não querem vender 100% da sua loja porque elas estão crescendo”, completou Nosralla.
Para conseguir uma participação majoritária, a Merama promete ao menos dobrar o tamanho das lojas adquiridas em um prazo de dois a três anos. A margem de lucro dos e-commerces fica entre 18% e 22%, segundo os cofundadores. As marcas recebem suporte para previsão de demanda e estoque; gerenciamento de canais de venda, inclusive em outros países da América Latina; e marketing digital nos marketplaces ou sites de e-commerce próprios.
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A Merama olha para três pontos antes de investir: empreendedores de sucesso, bons produtos e sustentabilidade financeira. As empresas precisam apresentar em Ebitda positivo. Essas lojas virtuais atuam em segmentos como cosméticos, eletrônicos, esportes, suplementos e utensílios domésticos. Desde janeiro deste ano, a Merama já comprou uma fatia majoritária em mais de 20 empresas, que correspondem a mais de 30 marcas.
Planos como unicórnio
A Merama captou um aporte série A de US$ 160 milhões em abril deste ano. O investimento veio de fundos como Valor Capital, Maya Capital e Monashees. Também contou com anjos como Daniel Scandian (MadeiraMadeira), Fabien Mendez (Loggi) e Guilherme Bonifacio (iFood). Em junho, foi a vez de um série B de US$ 225 milhões. A rodada foi anunciada ao mercado apenas em setembro e liderada por Advent e SoftBank, os mesmos que fizeram a rodada adicional de US$ 60 milhões.
“Neste segundo semestre, dobramos de tamanho. A rodada adicional foi uma forma de trazer a avaliação da empresa para o presente. Continuamos trabalhando como uma empresa que tem apenas um ano de existência, mas claro que a avaliação como unicórnio tem impacto positivo na atração de lojas virtuais, de pessoas e de novas rodadas de investimento”, diz Andrade.
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A startup usará os US$ 60 milhões para continuar comprando lojas e fornecendo capital de giro a elas. Também criará o Merama Labs, vertical para criar lojas virtuais do zero ou incubar aquelas com faturamento menor do que o visado pela Merama. Essas lojas devem faturar entre R$ 5 milhões e R$ 10 milhões por ano, ante a média de R$ 20 milhões a R$ 30 milhões anuais das lojas já investidas pela Merama.
“Nosso modelo principal continua sendo o de comprar uma fatia majoritária de parceiros nessa faixa de faturamento. Mas teremos um esforço para atender nichos menores ou que não existem bons parceiros atuando por enquanto. O laboratório também vai servir como um centro para acelerar inovações e para consolidar nosso conhecimento em desenvolvimento de produto e de marca”, diz Andrade.
A Merama projeta um faturamento acumulado de suas lojas de US$ 300 milhões em 2021 – a estimativa era de US$ 100 milhões na época da série A e de US$ 250 milhões na época do série B. Em 2022, o plano é dobrar o faturamento acumulado das lojas, para US$ 600 milhões. Oportunidades não faltam no mar de lojas virtuais da América Latina: a Merama tem mais de mil empresas qualificadas em sua lista de potenciais aquisições.