Multi (MLAS3) reforça aposta para além dos eletrônicos

Antiga Multilaser, conhecida por equipamentos de informática e eletrodomésticos, segue em curso com proposta para diversificar receita

Rikardy Tooge

Produtos da Wellness, empresa da Multi (Divulgação)
Produtos da Wellness, empresa da Multi (Divulgação)

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A Multi (MLAS3), antiga Multilaser, reforçou recentemente sua aposta no mercado fitness ao promover um aporte de R$ 20 milhões na startup ZiYou, focada na locação de equipamentos de ginástica e que foi criada por Marcio Kumruian, cofundador e ex-CEO da Netshoes.

À primeira vista, o aporte poderia causar estranheza, uma vez que a empresa é mais conhecida pela produção de equipamentos ligados à informática e eletrodomésticos. No entanto, aos observadores mais atentos da companhia, a estratégia fez sentido.

Para isso, é preciso voltar a setembro de 2020, quando a Multi embarcou de fato no mercado fitness com a aquisição da Wellness, uma marca de equipamentos de musculação e ginástica. Este foi um dos primeiros movimentos da empresa para ampliar seu portfólio.

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“O aporte de R$ 20 milhões na ZiYou tem sinergia com nossa proposta de Hardware as a Service (HaaS), em que vemos um movimento muito maior de locação de equipamentos do que efetivamente da compra”, explica Alexandre Ostrowiecki, CEO da Multi, ao InfoMoney.

A ZiYou é uma plataforma que oferece a empresas, condomínios e pessoas a possibilidade de locar equipamentos de ginástica em troca de uma mensalidade. O modelo de negócio traz recorrência, uma das fontes de receitas mais buscadas pelas empresas.

“Ainda as academias são os nossos principais clientes, mas abrimos uma nova avenida. E, também, é uma sinergia importante para a ZiYou, que necessita de equipamentos e nós podemos fornecer para eles em condições mais favoráveis”, acrescenta.

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Alexandre Ostrowiecki, CEO da Multi (Divulgação)
Alexandre Ostrowiecki, CEO da Multi: mobilidade e fitness no radar da empresa (Divulgação)

A vertical de Kids & Sports da Multi, que abarca a Wellness, fatura por volta de R$ 80 milhões por trimestre, mais de um quarto dos R$ 300 milhões que a divisão de Mobile Devices, a principal da da companhia, faturou no primeiro trimestre deste ano.

Para Gustavo Senday, analista da XP, a busca por outras fontes de receita tem sido importante para as empresas do segmento diante do atual aperto monetário.

“Enxergamos de maneira positiva, e uma forma de diversificação de receitas para a companhia, reduzindo sua exposição à segmentos como eletroeletrônicos, que tendem a ser mais impactados em cenários macroeconômicos mais desafiadores”, afirma.

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Mobilidade é outra aposta

Além da musculação, a Multi avançou recentemente para produtos voltados à mobilidade urbana, com o investimento de R$ 10,5 milhões na compra da Watts, que produz motos, scooters e patinetes movidos à energia elétrica.

A aquisição fez da Multi a primeira montadora de veículos 100% elétricos na Zona Franca de Manaus, além de conta com uma rede de lojas próprias e concessionárias. O primeiro veículo, o W125, já está com vendas esgotadas e outros três produtos já estão no pipeline da empresa, afirma Alexandre Ostrowiecki.

Moto W125, da Wattz, empresa da Multi (Divulgação)
Moto W125, da Wattz, empresa da Multi: vendas esgotadas e novas motos a caminho (Divulgação)

Para além da mobilidade, o CEO lembra ainda as iniciativas de diminuir a importação de eletrodomésticos para produzí-los no país. A Multi começou em abril a fabricar os próprios liquidificadores e, em junho, passará também a produzir os próprios ventiladores.

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HaaS em outras frentes

A lógica de se locar equipamentos em vez de comprá-los, o HaaS citado por Ostrowiecki, também tem aderência para um dos cores da Multi, a informática. Está em curso a oferta de computadores e outros equipamentos para empresas também por meio de mensalidade.

“A estratégia pode fazer sentido para companhias asset light e evita gastos extras com manutenção e atualização dos equipamentos, que passarão a ter o suporte da Multi”, aponta o CEO.

No segmento de informática e equipamentos eletrônicos, há ainda a aposta em drones – a Multi é parceria no Brasil da DJI, uma das principais fabricantes do mundo – e em câmeras para carros, produto que pode ter adesão para frotas de empresas e motoristas de aplicativo.

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Resultados 1T23

Nesta semana, a Multi divulgou seus resultados do primeiro trimestre. A empresa encerrou o período com prejuízo líquido de R$ 342,6 milhões, revertendo lucro líquido de R$ 171 milhões de um ano antes. A receita líquida recuou 19,6%, para R$ 784,6 milhões.

Ostrowiecki citou problemas que as empresas ligadas ao consumo vêm sofrendo diante do atual cenário macroeconômico. “Esse é um ramo que depende fortemente de dinheiro barato e, no patamar atual de juros, toda a cadeia fica comprimida”, escreveu o CEO, em mensagem aos acionistas.

Além da conjuntura econômica, a empresa listou problemas com a migração do seu software de gestão (ERP, na sigla em inglês), que acarretou prejuízos à companhia com dificuldade na execução comercial. Houve também a necessidade de maiores descontos para recuperar espaços perdidos nas lojas e verbas rescisórias.

Para a XP, a Multi apresentou um resultado “fraco” no trimestre, mas manteve a recomendação de compra do papel, com preço-alvo de R$ 6, em razão de estar em um “valuation atrativo”, ante um preço de tela próximo a R$ 2,20.

Rikardy Tooge

Repórter de Negócios do InfoMoney, já passou por g1, Valor Econômico e Exame. Jornalista com pós-graduação em Ciência Política (FESPSP) e extensão em Economia (FAAP). Para sugestões e dicas: rikardy.tooge@infomoney.com.br