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Com dois anos de mercado e criada para resolver o problema logístico de transporte da Votorantim Cimentos (VC), a Motz começa a andar com suas próprias pernas. Entre julho e setembro de 2022 a companhia registrou um aumento de quase 40% no volume transportado com relação ao mesmo período do ano passado, passando de 2,9 milhões de toneladas para 4 milhões de toneladas.
A principal razão para o crescimento acelerado foi a expansão do time comercial depois que a estratégia da companhia mudou. Quando a empresa foi criada, embora sempre tenha funcionado com gestão independente, sua atuação era como um braço logístico da própria VC, realizando o transporte de material de fornecedores para a companhia e dela para clientes. “O custo de transporte é muito representativo para a VC, então fazia sentido olhar de maneira independente”, diz Fernando Dutra, head de operações da Motz.
As contas, contudo, ainda não fechavam porque os motoristas autônomos que prestavam serviços por meio da plataforma tinham dificuldades de encontrar outras cargas nos pontos de entrega e usavam a plataforma com ressalvas. Para atrair os caminhoneiros, no começo do ano, a plataforma expandiu sua atuação para trabalhar como uma espécie de ‘Uber’ que faz a conexão entre os embarcadores, aqueles que precisam enviar algum tipo de material, e os motoristas autônomos que conseguem planejar melhor suas rotas. “Quando foi tomada a decisão de abrir para o mercado, a empresa tinha um cliente e 20 funcionários. Nos últimos meses chegamos a 80 colaboradores e atendemos, agora, mais de 130 clientes”, diz Dutra.
Com isso, embora não abra dados de faturamento, a companhia possui caixa positivo e se mantém com capital próprio. “Um dos principais obstáculos no setor de logística é o capital de giro e temos capacidade para ‘andar com as próprias pernas’”, diz Dutra.
Como funciona com motoristas autônomos cadastrados, no mesmo modelo de aplicativos de transporte de pessoas, a empresa tem procurado parceiros comerciais que ofereçam benefícios aos afiliados. “Buscamos quem possa facilitar a vida deles para fazer parte de um ecossistema. Desde empresas que ofereçam planos de saúde em boas condições até descontos na compra de pneus e uso de serviços rodoviários”, afirma Dutra. Um dos benefícios que a empresa espera poder disponibilizar é uma facilitação na renovação da frota de caminhões. “Buscamos isso parte por preocupação ambiental, já que a frota é muito velha, com idade média que passa dos 15 anos, e parte pelo lado social, porque os caminhoneiros, que são a base do nosso negócio, precisam de alternativas para financiar a troca do caminhão”, afirma.
O setor
O peso do transporte rodoviário de carga é estimado em torno de 1,4 ponto percentual do PIB nacional, segundo estimativas da Fundação Getulio Vargas. Mas o impacto desse setor na economia é muito maior que isso: fica em torno de 29%. Isso porque é este modal que faz a ponte entre produtores e consumidores. Apesar da importância, ainda é um setor extremamente fragmentado. “Não há uma companhia do setor que fature mais de R$ 10 bilhões por ano”, afirma Dutra.
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Uma solução seria uma consolidação de mercado? “Estamos acompanhando um movimento de consolidação, com fusões e aquisições. E desconheço, no país, outro mercado tão relevante e, ao mesmo tempo, tão pulverizado quanto o transporte rodoviário”, afirma Dutra. Este, contudo, está longe de ser o maior desafio do setor. De acordo com o executivo, cerca de 85% dos motoristas possuem smartphones, mas em torno de 50% deles ainda busca fretes de maneira analógica, por meio de quadros de avisos em portos e centros de distribuição. “É comum que um motorista tenha 200 cartões de contato na carteira, para ir ligando e perguntando um a um se precisa de frete. Nosso maior obstáculo, portanto, é a digitalização”, diz.
Com mais de 25 mil motoristas na base de atendimento e mais de 100 pontos de expedição no Brasil, a Motz está entre as 15 maiores transportadoras do país. “Queremos continuar crescendo, ganhando expressividade”, afirma Dutra. Mas a empresa não corre sozinha. Concorrentes estão de olho no setor. E, segundo um deles, a Fretebras, o uso de aplicativos de frete aumentou em 38% o volume de carga transportada em rodovias no primeiro semestre de 2022 em relação ao mesmo período do ano anterior e gerou uma movimentação de R$ 49 bilhões no período.
Mas o mercado é bem maior que isso, e movimenta cerca de R$ 365 bilhões por ano, segundo estimativas da Veloe, uma empresa de mobilidade que nasceu como um braço de pagamentos automáticos de pedágio e estacionamento da Alelo e, agora, também desenvolve sua própria plataforma de frete. “Estamos buscando desburocratizar a relação entre embarcadores, motoristas e gestores de pequenas frotas”, afirma André Turquetto, diretor geral da Veloe.
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Para Turquetto, a maior barreira de entrada no setor é o tamanho da cadeia do frete. “Ela vai desde o momento anterior à viagem, o pré-trip, com a regularização de tributos e documentos, passa pela conexão com embarcador, o desenho da rota e o pós-trip“, afirma o executivo. Motoristas autônomos e gestores de pequenas frotas também sofrem com capital de giro. “Um caminhoneiro não consegue receber em 40 dias. Ele ainda tem a necessidade de fazer seguro de carga e uma série de gastos no trajeto”, afirma. ‘Lombadas’ não faltam no caminho, mas o sinal para o setor parece estar verde.
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