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SÃO PAULO – Em tempos como os de hoje em que sempre conseguimos encontrar um culpado para os nossos erros, a Atompar (ATOM3) tomou uma atitude um tanto “louvável” em seu primeiro resultado trimestral divulgado ao mercado: culpou a si mesma pelos problemas com a recuperação judicial ainda não concluída da extinta Inepar Telecomunicações – empresa que ela adquiriu em 2015 para assim poder ingressar na Bovespa.
Em setembro de 2015, a Bovespa abriu as portas para a Atompar tornar-se a primeira “prop trading” (que na prática seria um grupo de traders que operam o dinheiro da empresa no mercado financeiro) com ações listadas no mercado brasileiro. Sua entrada na Bolsa não foi pelos tradicionais IPOs (Oferta Pública Inicial, na sigla em inglês), mas por meio da compra da Inepar Telecomunicações, empresa que estava em recuperação judicial. Após repaginar toda a companhia adquirida, a Atompar “herdou” esta RJ que até o momento não foi concluída.
E na noite de quarta-feira (3) a companhia colocou a culpa em alguém por toda esta confusão: nela mesma. “Quando compramos a Companhia, talvez nós não tenhamos imaginado que seria essa a parte mais difícil de todo o processo de construção do nosso negócio. Não vou colocar a culpa no Brasil, na justiça, ou qualquer outra coisa para justificar a demora em conseguir finalizar esse processo de reestruturação societária, e sim em nós mesmos. A culpa é nossa por não saber entender o quanto pode ser lento, ineficiente e errático um processo judicial”, escreveu a Atompar na carta da administração enviada junto com o balanço referente ao 2º trimestre de 2016.
O problema da companhia: apesar de ter conseguido diversos pareceres favoráveis e deixar a recuperação judicial, o Santander (um dos credores da Inepar) travou o processo após um juiz em segunda instância acatar o pedido do banco e evitar a evolução do processo. A Atompar classifica a questão como um “equívoco” e reforçou essa visão no comunicado de resultados: “falamos que houve um equívoco do juiz de segundo grau pois acho que não podem três órgãos juntamente com diversos advogados, juízes e desembargadores aposentados que consultamos estarem também enganados”, diz a empresa.
Sobre os números: a Atompar ainda caminha para entregar seu primeiro lucro – algo prometido para investidores no início deste ano -, mas fechou o segundo trimestre deste ano com prejuízo líquido de R$ 17 mil, contra um resultado negativo de R$ 46 mil um ano antes. O resultado é fruto da diferença entre a receita financeira de R$ 168 mil gerada entre abril e junho e as despesas de R$ 185 mil (confira o balanço completo clicando aqui). No 2º trimestre de 2015, a companhia não tinha receita, enquanto as despesas estavam em R$ 46 mil – ou seja, elas cresceram quase 300% em 12 meses.
Em seu balanço, a companhia indica ainda que tem um ativo de R$ 587 mil, enquanto seu patrimônio líquido é negativo em R$ 8 milhões, composto por um capital social de R$ 235,69 milhões e um prejuízo de R$ 243,69 milhões. Vale ressaltar que a companhia conta com um benefício fiscal de R$ 240 milhões a ser deduzido nos impostos por conta da aquisição da Inepar. O CEO da companhia, Joaquim Paiffer, falou sobre como será utilizado este benefício em uma entrevista feita à InfoMoneyTV em outubro do ano passado. Na oportunidade ele deu maiores detalhes sobre o negócio da empresa e quais os seus planos. Para conferir, clique aqui.
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A administração da Atompar diz que a situação operacional da empresa está “muito bem”: já são mais de 50 traders ativos, 170 em processo de treinamento e mais de 5 mil usuários no simulador da Atom. Além disso, a companhia afirma que que a venda da 2ª edição do “Desafio Vida de Trader” já superou a 1ª edição.
Recentemente a companhia precisou realizar dois grupamentos para que suas ações deixassem a casa do centavos (algo obrigatório pelas regras da Bovespa). Um dia antes do primeiro grupamento, a notícia de que um juiz em segunda instância não aceitou retirar a situação de recuperação judicial da companhia fez os papéis desabarem, o que acabou fazendo com que o grupamento não fosse suficiente. Em seguida a companhia grupou novamente seus papéis, que hoje são cotados em R$ 2,07, com ganhos de 130% no acumulado de um ano, mas queda de 48,89% em 2016.
O que é uma prop trading
Uma proprietary trading firm – ou “prop trading” – é uma empresa que busca montar uma equipe de operadores para investir o próprio capital no mercado financeiro. Como quase tudo do mercado financeiro, este é segmento muito popular nos Estados Unidos mas ainda é quase embrionário no Brasil – poucas empresas possuem esse modelo de negócio por aqui. Fatores como a falta de tecnologias e sistemas de segurança necessários para este mercado, o desconhecimento do brasileiro sobre o universo de “trading” e até mesmo a baixa liquidez no Brasil em relação aos Estados Unidos ajudam a explicar o atraso do nosso país em relação a outras praças financeiras.
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No caso da Atompar, A equipe da companhia é formada por candidatos a trader que operam dentro dela mesma, respeitando os limites de gerenciamento de risco propostos por ela. De uma maneira bem “darwinista”, os melhores colocados vão ganhando cada vez mais limites para operar, assim como os que performarem mal vão perdendo espaço da mesa. Estes traders não possuem nenhum vínculo empregatício com a companhia, sendo que parte da receita da empresa vem do próprio treinamento destas pessoas, que precisam assinar algum tipo de plano para iniciarem suas operações. São 5 tipos de planos, que alteram os limites de operações e valores que podem ser negociados ou perdidos pelos traders.