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O segmento de death care, aquele ligado a oferta de planos e serviços funerários, vive anos de consolidação no Brasil, a exemplo de movimentos semelhantes vistos nos Estados Unidos e na Europa.
O mercado brasileiro fatura cerca de R$ 13 bilhões ao ano, segundo pesquisa da Zurik Advisors, feita a pedido do Sindicato dos Cemitérios e Crematórios Particulares do Brasil (Sincep). Ainda assim, o número está aquém dos americanos, por exemplo, em que a previsão é de faturar cerca de US$ 42 bilhões até 2027, de acordo com estimativa da Global Absolute Markets Insights.
Gisela Adissi, consultora da Flow Death Care, lembra que o segmento começou a ganhar tração e apetite por consolidação a partir de 2016, quando a Lei Federal 13.261 passou a tratar da oferta de planos funerários e trouxe mais segurança jurídica às empresas.
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“É uma tese que faz sentido aos investidores por aliar rentabilidade, receita recorrente e ser um serviço essencial. Só que havia dificuldade para esses fundos avaliarem os ativos, daí que surgiram os consolidadores do segmento”, diz Adissi.
O sócio da Fortezza Partners, Denis Morante, aponta que duas empresas despontaram no setor, o Grupo Zelo, de Minas Gerais, e a gaúcha Cortel.
Morante indica que os mineiros foram pelo caminho da consolidação da oferta de planos funerários para depois investir em cemitérios, enquanto a empresa do Rio Grande do Sul foi na direção oposta. “É um setor muito pulverizado, que permite testar os dois caminhos, e é um mercado com muito potencial”, afirma.
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O Grupo Zelo busca oportunidade de mercado nas cerca de 13 mil empresas que prestam algum tipo de serviço funerário no país – e 90% delas são familiares. Com aproximadamente 4% de market share, a empresa vê ainda muito espaço para crescer. “Se olharmos no mercado americano, a líder tem 16% do mercado, por exemplo”, explica Lucas Provenza, CEO do grupo.
Fundado em 2017, o grupo já incorporou 58 empresas diferentes desde então. Atualmente está presente em 14 estados e no Distrito Federal, com mais de 48 mil serviços funerários realizados em 2022. Para este ano, o objetivo da empresa é faturar mais de R$ 600 milhões.
Provenza diz que o Grupo Zelo rodou cerca de três anos com sua tese própria de consolidação até achar um fundo que partilhava da mesma ideia. Em 2020, a Crescera Capital, antiga Bozano Investimentos, aportou cerca de R$ 350 milhões na empresa e se tornou a segunda maior acionista, dando fôlego extra para a operação, que fez mais de 20 aquisições após a entrada do fundo.
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Após passar 2022 integrando as novas empresas do portfólio, o Grupo Zelo foca em dois grandes objetivos para o ano: ampliar a base de clientes de seu plano funerário e estabelecer a operação de seis cemitérios na cidade de São Paulo dentro do consórcio Consolare, que foi vencedor de uma licitação na capital paulista.
Operação na ‘maior funerária do mundo’
O bloco em que a Consolare saiu vencedora é considerado um dos principais da licitação, que movimentou ao todo cerca R$ 646,4 milhões para conceder o serviço funerário de 21 cemitérios mais um crematório. Para ter o direito de administrar os cemitérios da Consolação, Quarta Parada, Vila Mariana, Santana, Tremembé e Vila Formosa por 25 anos, o consórcio pagou R$ 155,5 milhões.
“A [prefeitura da] cidade de São Paulo era a maior funerária do mundo até então – para te dar a dimensão do nosso desafio”, lembra Lucas Provenza. “Estamos estudando há mais de cinco anos como funciona o mercado em São Paulo e assumimos no início de março a operação dos cemitérios. Agora queremos imprimir nosso ritmo e qualidade aos ativos”, afirma.
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Por isso, diz o executivo, o grupo deverá desacelerar novos movimentos de fusão e aquisição neste ano. Além da nova operação, o custo de capital não está atrativo para avançar em muitas operações.
Mas Provenza diz que se o mercado “andar”, a empresa está pronta para voltar a investir. “Ainda temos apetite para comprar”.
Percepção dos investidores
Questionado sobre a visão dos investidores sobre “trabalhar com a morte”, o CEO do Grupo Zelo reconhece que antes havia certa restrição, mas que o mercado vem desmistificando o tema com o passar dos anos.
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“Nós temos um trabalho de quebrar o tabu sobre o nosso negócio. Nas conversas com os investidores, percebemos que os estrangeiros são mais receptivos porque já viram a tese em outros países. O [investidor] local era um pouco mais restrito, mas a percepção vem mudando”, aponta Lucas Provenza.
Gisela Adissi, consultora da Flow Death Care, avalia ser natural que ocorra um processo de convencimento dos investidores. Ela lembra que é um negócio que possui margens atrativas e, passado eventual preconceito, os números fazem sentido.
“É uma tese madura e que tem benchmark, especialmente a dos planos funerários, em que há espaço para crescimento e maior margem. A questão é que o mercado funerário no Brasil era muito frio, mais ligado à construção civil, mas isso mudou”, diz Adissi.
Para além dos aportes ao Grupo Zelo, Denis Morante, da Fortezza, lembra que a Cortel ensaiou uma oferta pública inicial de ações (IPO, em inglês) no fim de 2020, mas acabou recuando da ideia.
Nos Estados Unidos, um mercado mais maduro, empresas do segmento de death care já estão na Bolsa. As principais representantes são SCI (Service Corporation International), Hillenbrand, Carriage Services e StoneMor. A SCI possui o maior market cap, estimado em US$ 10,6 bilhões (cerca de R$ 53,8 bilhões na cotação atual).
No Brasil, por enquanto, há fundos imobiliários listados que atuam no segmento, como o CARE11 e o ZIFI11.
Com as regiões Sudeste e Nordeste puxando a consolidação no país, a região Sul é vista com potencial, embora ainda não tenha uma cultura de contratação de planos funerários, em especial, enquanto Centro-Oeste e Norte ainda caminham devagar diante da grande quantidade de municípios com poucos habitantes. Mesmo em uma velocidade mais lenta, o setor caminha para a consolidação. “As consolidadoras estão nas três pontas: plano, serviço e cemitério, e é um caminho que eu vejo sem volta”, conclui Gisela Adissi.
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