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SÃO PAULO – Dizer que as oportunidades aparecem nas crises pode parecer apenas pensamento positivo – mas não para os gestores de venture capital. Durante a crise de 2008, criaram-se os futuros gigantes Airbnb e Uber.
Da mesma forma, as injeções de capital nas startups brasileiras continuam em doses altas mesmo nesta pandemia. Os capitalistas de risco acreditam que novos unicórnios devem nascer a partir da destruição de como vivíamos.
Um exemplo desse pensamento é a Maya Capital, fundo brasileiro de venture capital fundado por Lara Lemann e Mônica Saggioro. O fundo anunciou hoje ter captado mais US$ 15 milhões com family offices brasileiros, americanos e europeus.
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Foi um reforço para o primeiro fundo da Maya Capital, que aumentou de US$ 26 milhões para US$ 41 milhões. O veículo já investiu em 25 startups do Brasil, do Chile, da Colômbia e do México. Alguns exemplos são a chilena The Not Company (comida a base de plantas) e as brasileiras Gupy (recursos humanos), Kovi (aluguel de carros) e Trybe (educação online).
Metade do valor captado agora será usado para investir em startups novas, enquanto a outra servirá para acompanhar rodadas futuras nesses negócios (como a série A).
Os novos R$ 15 milhões permitem também explorar novas regiões. No Brasil, isso significa olhar para além do Rio de Janeiro e de São Paulo. “Temos de olhar lugares não óbvios, como Nordeste e Sul. Já temos um site aberto para mandar pitches, mas reforçaremos essa busca”, diz Lara, que é filha do empresário Jorge Paulo Lemann.
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A Maya Capital ficou oversubscribed nessa captação – ou seja, a oferta superou a demanda e o fundo teve de filtrar quais cheques iria aceitar desta vez.
Venture capital: investimento na crise
Lara afirma que três oportunidades surgiram a partir da crise provocada pela covid-19, motivando a nova capitalização. “O interesse ficou ainda maior neste momento de digitalização como nunca se viu antes na América Latina. É uma região emergente e apresenta um grande potencial na visão dos family offices”, diz Lara.
“Queremos garantir que mais startups possam nascer e evoluir. Vimos muitos anjos, mas poucos fundos (investindo em empresas em fase inicial). Estudos nossos mostraram 80 startups para cada fundo de venture capital na América Latina, frente a uma proporção de 12 para 1 nos Estados Unidos. E o foco dos fundos de venture capital brasileiros está a partir da série A”, diz Mônica.
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Esse é o investimento que uma startup recebe quando começa seu processo de escala (captação de receitas com crescimento maior do o dos custos). O produto e o interesse dos consumidores já foram comprovados.
Segundo a gestora, a Maya Capital nasceu justamente por conta da lacuna de veículos dispostos a escreverem o primeiro cheque das startups – o chamado investimento semente, ou seed.
“Não é apenas a lacuna em número de fundos, mas em qualidade. Faltam investidores profissionais no ecossistema, fazendo um trabalho para além do capital”, completa Lara.
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Segundo as fundadoras, o dinheiro é apenas um meio para agregar outros valores às startups: conexão com fundos de investimento para rodadas futuras; planejamento estratégico dependendo do momento e dos problemas da startup; suporte em contratações e em expansão geográfica; e indicação para parcerias com primeiros clientes até grandes clientes.
A Maya tem uma rede de mentores formais e informais que inclui nomes como André Street (Stone), Marcos Leta (Fazenda Futuro) e Victor Lazarte (Wildlife). Também ajudou a mediar as conversas entre a foodtech chilena The Not Company e a rede de fast food Burger King, por exemplo. Os hambúrgueres veganos passaram a ser vendidos nas lanchonetes do Chile. Uma apresentação similar aconteceu entre a startup de aluguel de veículos Kovi e a fabricante italiana Fiat.
“Se aplicarmos nossa tese de proximidade com os fundadores, daremos mais fôlego para que eles continuem crescendo”, adiciona Mônica. “Passamos os últimos anos solidificando nosso networking com companhias, empreendedores e investidores. As conexões nos permitem um acesso ao deal flow de toda a América Latina.”
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Nas duas primeiras semanas da pandemia, a Maya Capital voltou sua atenção para o portfólio já existente. Depois de garantir que os empreendimentos estavam bem posicionados para lidar com os efeitos da covid-19, voltou a avaliar seu fluxo de oportunidades de negócio.
O cenário já havia mudado: a penetração do e-commerce aumentou, assim como o número de pessoas bancarizadas. Os investimentos mais recentes do fundo refletem essas tendências: a startup de streaming de produtos Alive, a plataforma de criação de lojas online Unbox e a fintech de APIs para o setor financeiro Belvo.
Como escolher startups?
Apesar de alguns setores estarem decolando, os fundamentos da análise de startups não mudaram. “Gente é a parte mais importante. Buscamos times, porque duas ou mais cabeças com certeza pensam melhor do que uma: compartilham ideias e promovem diversidade. Buscamos também pessoas obcecadas por problemas e não por soluções, porque a flexibilidade é inerente a uma startup e ao processo de pivotagem”, diz Lara.
A Maya Capital liga para conhecidos, liderados e clientes dos empreendedores para entender como eles se comportam no dia a dia. “Temos mais de 50 fundadores e uma curiosidade é que todos têm um quirk, algo diferente que os faz serem excepcionais como líderes e como criadores de soluções de longo prazo”, adiciona Lara.
O próprio fundo passa tempo com os empreendedores, entendendo sua ambição e caráter. Ainda entram na análise o tamanho do mercado e como a ideia pode ser dez vezes melhor do que a concorrência, criando uma vantagem que não pode ser replicada.
A ideia de ter um fosso (ou moat) em relação aos competidores já foi defendida também pelo megainvestidor Warren Buffett. “Em cada investimento, acreditamos que ele possa faturar US$ 100 milhões – o que valida o status de unicórnio”, diz Lara.