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SÃO PAULO – Se teve um mercado que navegou bem durante os tempos incertos trazidos pela pandemia, foi o de tecnologia. A digitalização obrigatória do consumidor também forçou empresas a investirem em frentes de atendimento e operação virtuais – o que impulsionou negócios que fornecem essa estrutura, como Locaweb (LWSA3), Stefanini e Totvs (TOTS3). Para essas empresas, o cenário mudou – e o crescimento na adoção de tecnologia está apenas começando.
A reflexão fez parte do segundo dia do evento Melhores Empresas da Bolsa, do InfoMoney e Stock Pickers. O painel “Do Zero Ao Topo: a tecnologia no mercado brasileiro” contou com a participação de Dennis Herszkowicz, CEO da Totvs, premiada como a melhor empresa do setor de tecnologia; Marco Stefanini, fundador e CEO da Stefanini; e Fernando Cirne, CEO da Locaweb. O evento, online e gratuito, vai até o dia 26. Para participar, basta se cadastrar aqui.
Otimismo pós-pandemia
Um relatório do fundo Atlantico mostra que a penetração do e-commerce no varejo saltou cinco pontos porcentuais entre março e maio deste ano (de 7,2% para 12,6%). Foi um crescimento percentual maior do que o registrado entre 2009 e 2019, de 5,2 pontos percentuais.
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Locaweb, Stefanini e Totvs se beneficiaram com a digitalização do consumidor. “O patamar pós-Covid 19 será muito melhor do que o patamar pré-Covid 19. A adição de novas lojas da Locaweb é quatro vezes maior do que tínhamos antes da pandemia. A Locaweb aprendeu a vender melhor, tínhamos espaço para isso, nosso custo de aquisição de cliente [CAC] ficou mais baixo e investimos muito mais em marketing”, afirmou Cirne. “Mas [a penetração do e-commerce no varejo] ainda é muito baixa: a China está trabalhando com 35%, os EUA com 19%. Existe um espaço grande para digitalização da economia. Depois do Covid-19, a gente espera um cenário muito otimista”. Atualmente, estima-se que a penetração do e-commerce brasileiro esteja entre 10% e 12%.
“O Covid-19 não é bom, mas trouxe uma mudança forte de cenário. As coisas não serão mais como eram”, concorda Herszkowicz. O CEO da Totvs analisou que empresas brasileiras, independentemente de segmento ou porte, investiram menos do que deveriam em tecnologia por conta de “uma crise muito longa e profunda” entre o final de 2014 e o final de 2018. Enquanto isso, o mundo já estava em “um ciclo de investimento em tecnologia e digitalização fortes.”
“O gap [entre digitalização nas empresas brasileiras e nas interacionais] será fechado, não temos dúvida. O jeito de fazer negócio será muito diferente do que fazemos. A tecnologia é a resposta, a ganhadora de todo esse processo”, disse Herszkowicz. “Quando a gente olha para a frente, o único caminho é o do investimento em tecnologia. Por isso estamos otimistas.”
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A Stefanini aproveitou este ano para se preparar a um Brasil mais conectado. “Este ano foi mais reflexo da nossa gestão e do posicionamento da empresa. Próximo ano será o reflexo de uma aceleração digital forte, por conta da pandemia”, afirmou Marco Stefanini.
Receita de crescimento: ecossistema digital, aquisição e IPO
Uma estratégia adotada pelas empresas de tecnologia para continuar crescendo é a formação de ecossistemas digitais: agregar diversas soluções em apenas uma plataforma. “Temos 25 empresas, e na maioria delas estamos como sócios majoritários. Sempre vamos amadurecendo o modelo. Estamos divididos em cinco torres hoje: financeira; de marketing digital; de indústria 4.0; de analytics e inteligência artificial; e de jornada do cliente”, diz Marco Stefanini.
Além de desenvolver soluções dentro de casa, uma forma de construir ecossistemas digitais é por meio de aquisições e fusões (M&As). A Totvs já realizou 40 aquisições, diz Herszkowicz. “Uma empresa de tecnologia precisa ter o M&A em sua estratégia. Você tem questões, como time to market e expertise específica, que o M&A é a única resposta muitas vezes.”
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O CEO lista quatro pilares que guiaram a estratégia de fusão e aquisição da Totvs nos últimos dois anos: reforçar as atividades principais, como sistemas de gestão e de recursos humanos; aprofundar verticais como manufatura, logística, varejo e educação; buscar soluções que agreguem ao portfólio e ajudam no cross selling; e, por fim, reforçar as dimensões de performance de negócios e tecnologia para o setor financeiro (techfin).
Um exemplo de esforço da Totvs pelo M&A foi a disputa pela Linx (LINX3). Após meses de negociação, os acionistas da Linx aprovaram a venda para a Stone em 17 de novembro. “A Linx seria, obviamente, uma aquisição super boa, geraria valor para todo mundo. Mas não era um caso de vida ou morte, como em qualquer aquisição da Totvs”, disse o CEO.
“Não havia nenhum motivo para que entrássemos em uma guerra de preço, sempre fomos disciplinados do ponto de vista em M&A. Vivemos 37 anos muito bem, obrigado, sem a Linx. Tenho a certeza de que viveremos os próximos 37 anos da mesma maneira. Foi uma disputa que aceitamos perder, dadas as condições que foram apresentadas.”
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Compras de outros negócios também fazem parte da estratégia da Locaweb e da Stefanini. “Vamos intensificar nosso ecossistema com aquisições. Tecnologia não cresce sem M&A”, diz Cirne. “É preciso ter uma mistura de orgânico e inorgânico, não existe crescimento apenas com uma dessas pernas. Já entregamos parte do que captamos com nosso IPO e vamos continuar entregando novas aquisições no curto prazo.”
Novas empresas de tecnologia na Bolsa
Uma última via de crescimento para as empresas de tecnologia ouvidas no Melhores da Bolsa é justamente abrir o capital. O aumento do número de pessoas físicas na B3 mostra o interesse por maior rentabilidade e pode impulsionar novos IPOs (OfertasPúblicas Iniciais de Ações, na sigla em inglês) como saída para as empresas de tecnologia, na visão de Herszkowicz.
“O mercado em geral está buscando justamente crescimento, e crescimento é sinônimo de tecnologia. As empresas de tecnologia que listaram ainda têm muito benefício a serem tirado do conhecimento que está sendo adquirido pelo investidor pessoa física e também pelo investidor institucional”.
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A Stefanini é a única do grupo com capital fechado – mas não por muito tempo. A empresa de tecnologia prepara uma oferta pública de ações do seu núcleo bancário, o Topaz.
Um IPO da Stefanini em si também deve acontecer em breve. “Acredito que chegou a hora [do IPO]. A gente está maduro, com uma curva de crescimento e gestão boa. Mas temos entraves sérios, como faturamento fora. A legislação brasileira é um horror para quem tem operação no exterior, em termos de impostos. Temos uma decisão dura de tomar, entre abrir capital aqui ou nos Estados Unidos”, diz Marco Stefanini.
Para Cirne, o interesse dos investidores na bolsa brasileira não é mais um entrave. “A gente tem o dever de fomentar o mercado”, afirmou o CEO, que abriu o capital da Locaweb na B3 em fevereiro de 2020. “O gringo não tem mais preconceito de investir no Brasil.”
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