Liv Up: startup de refeições saudáveis, congeladas ou prontas, recebe R$ 180 milhões

Foodtech prepara 500 mil pratos mensalmente e tem 350 itens para compras de mercado; investimento será usado para contratações, expansão e tecnologia

Mariana Fonseca

Produtos da Liv Up (Divulgação)
Produtos da Liv Up (Divulgação)

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SÃO PAULO – A pandemia de coronavírus não interrompeu a demanda por pratos congelados ou prontos — pelo menos na Liv Up. Mas os tempos de isolamento também trouxeram mais compras para cozinhar em casa.

O aplicativo de entrega de comidas não demorou para incluir a categoria entre seus produtos. Assim, a foodtech, ou startup de alimentação, mais do que dobrou de tamanho em 2020 e passou a marca de R$ 100 milhões em faturamento.

Para este ano, a Liv Up novamente busca mais do que dobrar os ganhos. A startup de alimentação terá a ajuda de R$ 180 milhões, vindos de uma série D captada com diversos investidores.

Victor Santos e Gabriel Eisencraft, respectivamente cofundador e diretor financeiro da Liv Up, deram a receita do modelo de negócios da startup: alimentação saudável, impacto na cadeia produtiva, escala e experiência digital.

Em conversa com o Do Zero Ao Topo, marca de empreendedorismo do InfoMoney, os executivos também listaram os próximos passos da Liv Up com o novo investimento.

De refeição congelada ao mercado em casa

A Liv Up foi criada pelos empreendedores Henrique Castellani e Victor Santos em 2016. Santos trabalhava no mercado financeiro, enquanto Castellani analisava projetos de infraestrutura.

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Os dois enxergaram a oportunidade de usar a tecnologia para conscientizar brasileiros sobre alimentação saudável. “Sabíamos que as pessoas estavam cada vez mais se alimentando melhor que a digitalização transformaria diversos setores, incluindo a alimentação”, contou Santos em entrevista anterior ao Do Zero Ao Topo.

“Antes da pandemia, eu conversava com a indústria tradicional e ouvia que a digitalização da compra de alimentos nunca iria acontecer. Mas nossa vida já é multicanal: estamos com o celular na mão o tempo todo. Queremos levar uma experiência integrada ao consumidor.”

Victor Santos, cofundador da Liv Up (Divulgação)
Victor Santos, cofundador da Liv Up (Divulgação)

Essa “experiência integrada” é uma característica comum de empresas como a Liv Up, que seguem o modelo de negócios “direto ao consumidor” (direct to consumer, ou D2C). São negócios verticalizados e que nasceram na internet, dominando tanto a produção quanto a comunicação com os consumidores finais. Outro exemplo de negócio brasileiro com o mesmo modelo de negócio é a Amaro, no ramo de vestuário.

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O aplicativo da Liv Up permite que consumidores peçam aperitivos e refeições com baixo carboidrato, sem glúten, vegetarianos ou veganos. As refeições podem ser congeladas ou de consumo imediato. A entrega de refeições congeladas é feita por 14 dark stores, ou mercados com portas fechadas.

Esses galpões atendem cidades como São Paulo, Campinas, Santos, São José dos Campos, Sorocaba, Rio de Janeiro, Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador, Goiânia, Brasília, Fortaleza e Recife.

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“Por termos um modelo direto ao consumidor, sabemos os endereços dos nossos usuários. Colocamos as dark stores em um ponto central, otimizando tempo e custo para nós e para os clientes”, diz Eisencraft.

A frente de pratos prontos para consumo ainda só funciona na cidade de São Paulo, por meio de quatro dark kitchens. As cozinhas de portas fechadas produzem pizzas e saldas para delivery. A Liv Up produz cerca de 500 mil refeições mensalmente, em uma cozinha de 8 mil metros quadrados.

Segundo Santos e Eisencraft, a pandemia não diminuiu o interesse por refeições congeladas ou prontas. As pessoas continuam precisando comer rapidamente algumas vezes — mesmo que estejam trabalhando em casa. Mas também cresceu o movimento contrário, de pessoas cozinhando mais e priorizando alimentos frescos e que gerem um impacto ambiental e social positivo.

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Por isso, a Liv Up passou a também vender bebidas, carnes, laticínios, frutas, legumes e verduras. A entrega da categoria de “compras planejadas para a casa” é feita por uma dark store mais completa, por enquanto apenas na cidade de São Paulo.

Investimento e planos de expansão

O investimento série D de R$ 180 milhões foi liderado pela Lofoten Capital, veículo criado por Marcos Amino em 2018. A Lofoten investe principalmente em companhias inovadoras da América Latina. Amino trabalhou 16 anos na gestora americana Discovery, especializando-se em aportes privados e públicos em empresas de consumo, transporte e serviços financeiros.

A rodada também contou com Rob Citrone, fundador do Discovery Capital; Cadonau, veículo de investimentos do Grupo Jereissati; fundos que já tinham aportado na Liv Up, como ThornTree Capital Partners e Kaszek Ventures; e ex-executivos da Ambev e do Itaú.

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Apesar da experiência de muitos desses investidores com ofertas públicas de ações, um IPO não está nos planos da Liv Up no momento. “É um processo natural de crescimento, mas definitivamente não temos pressa. Temos muito para construir antes de dar um passo desses, e temos conversas com fundos que poderiam manter nossa companhia privada e focada na execução”, diz Santos.

O aporte se dividirá em duas grandes frentes. O primeiro objetivo é ampliar o portfólio das compras planejadas para a casa. A Liv Up tem 350 itens no cardápio atualmente (SKUs). Serão 800 até o final de 2021, e 1.500 até o final de 2022.

Essa expansão de portfólio inclui transformar todas as dark stores em mercados de portas fechadas completos, assim como já existe em São Paulo. Todas as dark stores terão não apenas as refeições congeladas, mas também carnes, laticínios, frutas, verduras e legumes. Em setembro, a Liv Up lançará a entrega dos perecíveis no Rio de Janeiro. Em 2022, será a vez das outras cidades onde a startup opera.

O segundo objetivo com o aporte é melhorar a tecnologia, o que vai desde sistemas de gestão de estoque, de pedidos e de entrega até experiência do consumidor. A Liv Up tem softwares para garantir eficiência logística e rastreabilidade de cada produto, permitindo que as entregas cheguem com qualidade e no horário combinado. Também tem “dezenas de milhares” de pontos para coletar dados, desde feedbacks dados por consumidores até históricos de compra.

“Conseguimos entender qual o melhor abacate, dependendo de avaliações da safra e dos produtores. Ou se a receita de frango com castanha de caju está muito ou pouco crocante. O feedback contínuo depende tanto de processos quanto de software”, diz Santos.

“Também existe uma análise mais prática. O consumidor pode falar que um bolinho de banana é bom, mas vemos isso claramente a partir de uma taxa de recompra com maior quantidade. Sermos uma empresa D2C permite coletar uma quantidade absurda de dados e transformá-los em informações, e depois em experiência personalizada”, completa Eisencraft.

Gabriel Eisencraft, CFO da Liv Up (Divulgação)
Gabriel Eisencraft, CFO da Liv Up (Divulgação)

Os planos pedirão mais funcionários. A Liv Up tem mais de 630 membros e pretende abrir mais 150 vagas, principalmente nas áreas de portfólio e tecnologia.

A expansão da Liv Up de refeições para produtos de mercado aumenta seu número de competidores. Antes, eram apenas outros negócios que vendiam marmitas ou faziam entregas de pratos saudáveis. A lista agora inclui quitandas com lojas físicas e digitais, startups que também apostam na entrega de alimentos orgânicos vindos de pequenos produtos, aplicativos que fazem entregas de supermercados e até mesmo e-commerces como o Magazine Luiza, que passou a entregar alimentos não perecíveis.

“Existe um livro com o título de ‘Apenas os paranoicos sobrevivem’. Acreditamos nisso, e a nossa obsessão está em levar a melhor experiência possível de consumo de alimentos dentro de um mundo cada vez mais conectado”, diz Santos. “Estamos em um quadrante que ainda não tem um líder claro: aquele que une alimentação saudável e impacto na cadeia produtiva com escala e experiência digital”, completa Eisencraft.

Equilibrar todos esses pratos será fundamental para a Liv Up cumprir a meta de “mais que dobrar” a receita financeira – o que também passa pelas receitas que estão no seu cardápio.

Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.