Kavak: unicórnio mexicano de compra e venda de carros usados chega ao Brasil, e investirá R$ 2,5 bilhões no país

Startup mexicana já vale US$ 4 bilhões; Kavak vai investir em compra de veículos e em equipe no Brasil

Mariana Fonseca

Centro da Kavak (Divulgação)
Centro da Kavak (Divulgação)

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SÃO PAULO – Diversas startups estão de olho no mercado efervescente de carros usados e seminovos no Brasil. Mais de 11 milhões de automóveis do tipo foram comercializados em 2020. Os preços dos usados e seminovos tiveram alta de dois dígitos no primeiro semestre deste ano.

Creditas e unico compraram respectivamente as startups Volanty e Vianuvem para explorar a venda digital desses automóveis. Outras plataformas de compra e venda digital de usados e seminovos operam apenas com recursos de fundos de venture capital e private equity, como a InstaCarro. Um novo concorrente faz parte dessa segunda categoria – mas, ainda que queira explorar o mercado brasileiro, sua fundação não aconteceu por aqui.

A Kavak anunciou nesta terça-feira (27) seu lançamento oficial no Brasil, em uma coletiva de imprensa. O negócio foi criado por Carlos Garcia Ottati, Loreanne Ottati e Roger Laughlin Carvalho em 2016. O modelo de negócio surgiu após os sócios compartilharem experiências ruins ao tentar comprar ou vender um carro usado.

Em outubro de 2020, a Kavak se tornou o primeiro unicórnio, ou startup com avaliação de mercado igual ou superior a US$ 1 bilhão, do México. O negócio já subiu seu valuation para US$ 4 bilhões desde então.

A plataforma captou US$ 1,3 bilhão com investidores de peso. Alguns dos fundos que apostam na Kavak são Kaszek (investidor em Creditas, GetNinjas, Quinto Andar), General Atlantic (Unico, Hotmart, XP Investimentos), SoftBank (Loggi, Gympass, Volanty), DST Global (Airbnb, Alibaba, Facebook), Endeavor Catalyst (Creditas, Méliuz, Rappi), D1 Capital Partners (Loft, Zomato, Wise), Ribbit Capital (Brex, Coinbase, Guiabolso) e Founders Fund (Airbnb, Facebook, SpaceX).

A última rodada foi um aporte série D de US$ 485 milhões, captado em janeiro de 2021. Parte dos recursos foram para a expansão da Kavak no Brasil. A empresa operou em formato de soft launch durante quatro meses, e agora anunciou oficialmente seu lançamento.

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“A forma de comprar e vender carros na América Latina não evoluiu muito nos últimos 50 anos. Inclusive tem ficado mais complexa, porque o acesso à informação é maior e mais rápido. Quatro a cada dez brasileiros sofrem algum problema ao comprar”, afirmou na coletiva de imprensa Laughlin, o cofundador da Kavak que agora virou o diretor para a operação brasileira.

“O consumidor passa quase por uma dor de barriga, torcendo para que tudo esteja certo. Isso não pode acontecer para um ativo que é tão importante para a vida das pessoas. É inacreditável que não exista um mercado transparente, seguro, confiável e escalável para essas transações.”

Laughlin é otimista com o potencial do mercado brasileiro. “Acreditamos que o Brasil poderá se tornar nosso maior mercado no mundo. Hoje, o país está atrás apenas dos Estados Unidos e da China em compra e venda de carros”, diz. Venezuelano, Laughlin já havia trabalhado alguns anos no país, em empresas como Groupon Brasil.

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“Mais de 10 milhões de carros são transacionados no país, é um tamanho de mercado de mais de 600 bilhões. É uma grande oportunidade, e o potencial de crescimento é ainda maior. Isso porque ainda há uma baixa penetração de carros por habitante em relação a outros mercados.”

O investimento inicial será de R$ 2,5 bilhões no mercado brasileiro. “Não vai ser o único investimento”, destaca Laughlin. Esse dinheiro será usado para aquisição de veículos, para construção de centros de inspeção/lojas e para expansão da equipe.

A companhia tem 300 mil metros quadrados em infraestrutura, e o plano é chegar a 1 milhão de metros quadrados nos próximos meses. A startup tem 2.500 funcionários, mais de 500 deles no Brasil. Até o final deste ano, serão 1.000 funcionários brasileiros – e a startup não descarta usar os talentos do país para construir por aqui seu polo global de tecnologia.

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A Kavak tem um inventário de 2.500 veículos no país. Até o final de 2022, a startup espera comprar mais de 100 mil carros e vender mais de 50 mil deles no Brasil. Isso fará com que o país se torne o maior mercado para a Kavak.

“Existe uma combinação entre tamanho de mercado, qualidade de funcionários e a adoção rápida dos brasileiros a modelos de negócio disruptivos. Chegar ao Brasil era uma questão de tempo. Estávamos nos preparando para operarmos nesse mercado com força”.

“O Brasil é o nosso maior investimento até o momento, e a oportunidade é tão grande quanto o nosso plano de investimento para o país, 10 vezes maior do que qualquer outro antes”, completou em comunicado Ottati, outro cofundador e atual CEO da Kavak.

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Como funciona a Kavak?

Na Kavak, os vendedores de veículos colocam informações básicas como ano, modelo, versão, cor e quilometragem aproximada. Esse preenchimento leva cerca de dois minutos, segundo a startup.

Depois, cada vendedor agenda uma inspeção em sua casa, em seu local de trabalho ou em um centro de inspeção/loja da Kavak. A startup tem seis centros na cidade de São Paulo e pretende chegar a 20 deles até o final de 2021. A Kavak analisa 240 itens nessa vistoria, que leva cerca de 45 minutos. O negócio diz comprar carros fabricados há até dez anos e com menos de 90 mil quilômetros totais rodados.

Inspeção realizada pela Kavak (Divulgação)
Inspeção realizada pela Kavak (Divulgação)

A Kavak coleta as informações do cadastro e da inspeção para alimentar um algoritmo próprio. O algoritmo rastreia preços em sites concorrentes, classificados, leilões e tabelas de mercado. Também projeta tendências de oferta e demanda de forma dinâmica. Após o algoritmo finalizar sua avaliação e emitir uma proposta de preço pelo veículo, a Kavak oferece algumas formas de venda: pagamento imediato, pagamento em 30 dias e pagamento em consignação (a startup paga apenas quando o veículo for vendido). Quanto maior o prazo, maior deve ser o valor pago pelo veículo.

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Como forma de garantir a qualidade, a Kavak não faz intermediação de compra e venda. Ela se torna dona de todos os carros a serem vendidos e apenas os cadastra em seu site após reformas “estéticas” e “de detalhamento” em um centro de recondicionamento em Barueri, interior do estado de São Paulo.

Para os compradores, a startup oferece possibilidade de ver o carro em um de seus centros de inspeção/loja; garantia de dois anos; e possibilidade de contratação online de financiamento de veículos com bancos parceiros. Os compradores podem devolver o veículo em até sete dias.

“Queremos transformar completamente a experiência de comprar, vender, trocar e ter um carro. Nosso negócio é 30% carro, e 70% soluções que vamos construindo para nossos clientes”, diz Laughlin. Além do financiamento, a Kavak também oferece serviços como agendamento de manutenção pelo aplicativo. A construção de produtos do tipo devem virar uma fonte de monetização da Kavak, além da margem na venda dos usados e seminovos. “Queremos estar com o cliente desde o primeiro carro que ele compra até o último que ele vende.”

Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.