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SÃO PAULO – A JG Petrochem, comandada por Nelson Tanure, deverá entrar com um pedido de arbitragem na BM&FBovespa contra o fundo Discovery, nesta quinta-feira (23). Segundo fontes próximas da HRT Participações (HRTP3), a JG quer que a Discovery faça uma OPA (Oferta Pública de Aquisição) para aquisição das ações da petrolífera, com a alegação de que ela ultrapassou 20% de participação no capital da companhia – segundo estatuto da HRT, quem ultrapassar essa fatia precisa enviar uma oferta para comprar o restante dos papéis em circulação.
O Discovery, porém, não noticiou ao mercado que obteve essa fatia ainda, sendo que a sua última correspondência, divulgada em dezembro, indica que o fundo ainda detém cerca de 17% da empresa. Já a JG, que aumentou sua participação para 12,1% da empresa, tem seu departamento jurídico liderado por Antonio Fernando de Souza, o procurador-geral da República que fez a denúncia do mensalão.
Contudo, há forte pressão compradora na empresa intermediada por duas corretoras nos últimos meses, Brasil Plural e Gradual Investimentos, possíveis representantes dos dois sócios em litígio. Como não houve arrefecimento desta pressão por parte de nenhuma das duas corretoras desde a última correspondência da Discovery, fontes próximas da HRT acreditam que isso indica que o fundo já detém mais de 20% das ações.
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A CVM questionou a HRT a respeito da participação que a Discovery detém em seu capital. Como resposta, a petrolífera ressaltou que não divulgou fato relevante sobre qualquer obrigação de OPA da Discovery Capital Management porque não foi informada sobre essa intenção pelo acionista. Ela destacou ainda que, mesmo que o fundo tenha aumentado sua participação de forma irregular – como acusa a JG -, “somente a CVM possui meios para identificar estas irregularidades”.
O que isso faz com a ação?
É a briga dos dois sócios que tem feito a ação disparar. na última quarta, os papéis HRTP3 subiram 11,93%, para R$ 1,22 – maior patamar desde setembro do ano passado -, acumulando alta de 33,6% em 2014. Novamente, uma das duas corretoras, a Brasil Plural, liderou a intermediação das compras do papel. Enquanto Tanure e a JG supostamente possuem “planos para a empresa”, fontes indicam que a Discovery quer liquidar a empresa – já que ela está sendo negociada abaixo do próprio caixa na Bovespa.
O pedido de OPA pode trazer dois cenários para a empresa: caso seja aceito por Bovespa e Discovery, obrigará a compra de ações a um preço superior ao atual. Mas essa probabilidade é improvável, já que se a Discovery realmente está interessada em liquidar a empresa, não a compraria por um preço menos interessante.
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Com isso, ocorreria o efeito contrário. A Discovery teria que desistir de qualquer posição acionária que superasse 19,99% da empresa e vender as ações ao mercado – inundando a Bovespa com esse tipo de papel, provocando um efeito overhang e fazendo com que as ações venham recuar.
A maior quantidade de ações no mercado pode cair como uma luva para a JG Petrochem, ela própria interessada por adquirir as ações da HRT – que algumas fontes indicam também desejar fechar o capital da empresa.
Outros pedidos
A JG também incluiu outros três pedidos em seu requerimento de arbitragem protocolado junto à BM&FBovespa. Ela quer uma indenização para a empresa por parte de dois conselheiros do Grupo Discovery, Oscar Prieto e François Moreau, que a JG acredita terem sidos eleitos de forma irregular.
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O Discovery também é acusado de provocar atrasos na aquisição do Campo de Polvo – operação da qual, supostamente, o Discovery seria contra -, e a JG pede uma indenização para a HRT por isso. A JG também quer que a Discovery pague por ter permitido o vazamento de informações privilegiadas ao público.
Após pedido de esclarecimento da CVM, a HRT enviou um comunicado ao mercado na noite de quarta-feira, trazendo a resposta dada por Prieto e Moreau às denúncias de “insider trading”. Ambos repudiaram as acusações de terem repassado informações privilegiadas e classificaram as informações como inverídicas e destituídas de fundamentos.
Marcio Mello voltando?
O imbróglio da HRT chama a atenção pelo provável retorno de Marcio Mello, o fundador, à empresa. Especulações no mercado dão conta que Mello seria um dos nomes por trás da JG Petrochem, juntamente com Nelson Tanure. Embora não faça mais pate do conselho, Mello ainda estaria envolvido com a empresa e estaria impedido de elevar sua participação na empresa, atualmente em 1%.
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Ele, porém, destacou publicamente, em entrevista ao Valor Econômico, não mais ter interesse em assumir a empresa – mas que, assim que seu impedimento terminasse, compraria ações da HRT. Especulações no mercado indicam que Mello estaria, sim, interessado em retomar a empresa juntamente com Nelson Tanure, seu sócio na empreitada.