Itaúsa planeja ir às compras e comprar negócios de até R$ 2 bilhões, diz Setubal

Empresas brasileiras, com direção familiar, são o alvo do executivo, que quer ampliar o portfólio da holding para 10 a 12 empresas

Allan Gavioli

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SÃO PAULO – Alfredo Setubal, presidente da Itaúsa (ITAS4; ITAS3), holding brasileira que controla as marcas Itaú Unibanco (ITUB4; ITUB3) Alpargatas (ALPA4), Duratex (DTEX3) e NTS, disse nesta quarta-feira (22) que a empresa tem planos de aumentar seu portfólio com mais companhias nacionais nós próximos cinco anos e que, para isso, possui um tíquete médio de investimento de até R$ 2 bilhões para cada negócio.

Ainda segundo o executivo, a holding está em busca de diversificação e pretende ter entre 10 e 12 companhias em sua carteira em um período de três ou quatro anos. Setubal disse que a Itaúsa possui baixo nível de endividamento e uma grande capacidade de alavancagem, por isso faz sentido para a empresa realizar novos investimentos.

“Temos sido bem seletivos na procura desses investimentos e buscado atuar de maneira muito forte e disciplinada. Procuramos investimentos de cerca de R$ 1,5 bilhão a R$ 2 bilhão, de maneira que possamos interferir na gestão dessas companhias e criar valor para elas”, disse Setubal, em evento anual da holding, que foi aberto ao público.

De acordo com o presidente, o alvo das aquisições são empresas brasileiras, já que um controle maior sobre as estrangeiras poderia exigir um investimento muito elevado.

“Eu entendo que para o Brasil, um investimento de R$ 2 bilhões é bastante relevante. Mas US$ 400 mi é um tíquete pequeno para ter participação relevante em empresas no exterior”, explicou Setubal sobre a preferencia da holding em empresas nacionais.

O executivo também descartou qualquer investimento em startups ou fintechs, já que o grupo busca empresas mais consolidadas. Sobre as fintechs, Setubal acrescentou que a análise de empresas financeiras fica a cargo do Itáu Unibanco, já que o foco da holding é nos setores industrial e de serviços.

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Embora não tenha revelado detalhes sobre quais empresas estão sendo estudadas, Setubal afirmou que a Itaúsa olha “com mais atenção” para empresas de educação, saneamento e saúde.

“Até poucos anos atrás, tínhamos um portfólio muito estático, não éramos vistos como potenciais investidores no mercado. Com essa mudança de postura, passamos a fazer parte dos circuitos dos bancos de investimento”, explicou o executivo.

Os pontos críticos analisados pela holding para um possível investimento são a possibilidade real de crescimento, geração de caixa e pagamento de dividendos.

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Além disso, é fundamental que a empresa se encaixe nos valores socioambientais e de governança da Itaúsa.

“Procuramos empresas de portes que permitam ter uma atuação relevante na governança da companhia, para que ela possa crescer tendo a Itaúsa como sócia”, explica o executivo.

Outro ponto importante na análise de Setubal são empresas que tenham controle familiar, já que essa característica é muito relevante para a própria holding. A Itaúsa é controlada majoritariamente por três famílias: Moreira Salles, Setubal e Villela.

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“A Itaúsa, que também tem controle familiar, quer alavancar outras empresas de controle familiar, esse é o nosso modelo de crescimento, está em nosso DNA”, explica.

Setubal reconhece que achar uma empresa no mercado nacional que cumpre todos esses requisitos pode ser uma tarefa complicada, mas o executivo fez questão de destacar que não há nenhuma pressa por parte da holding em realizar novas aquisições. “Se não acharmos investimentos, distribuiremos mais dividendos”, disse o executivo.

A política da holding sobre a distribuição de dividendos para acionistas é repassar os dividendos do Itaú Unibanco, mas reter das outras empresas para custear parte dos custos operacionais da própria holding.

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Embora a holding esteja em busca de maior diversificação, isso não parece ser algo que venha para diminuir o peso que o Itaú Unibanco tem nos resultados da companhia. O valor líquido dos ativos da Itaúsa somam R$ 96,4 bilhões, sendo que R$ 86 bilhões são apenas do Itaú Unibanco.

“Vemos o banco como um grande ativo da Itaúsa, porque acreditamos que ele continuará sendo importante e sairemos fortalecidos e com uma posição muito relevante no mercado. Não temos interesse em diminuir a relevância do banco, mas sim ter um portfólio maior de empresas importantes e relevantes”, disse o executivo.

Recuperação

Assim como tantas outras empresas ao redor do mundo, a Itaúsa não passou ilesa da crise causada pela pandemia do novo coronavírus. No segundo semestre de 2020, a holding registrou uma queda de 75,4% no seu lucro líquido contábil, na comparação anual.

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Para Setubal, passados os piores meses da pandemia (março e abril), as empresas do portfólio já começam a esboçar uma leve recuperação. No entanto, o seu ativo mais relevante, o Itaú Unibanco, sofre com uma incógnita sobre o nível de inadimplência – algo que pode afetar negativamente o desempenho financeiro do banco e da holding em si.

“Já vimos algumas pessoas voltando a pagar, mas o número real só vamos ver quando as prorrogações [de prestações] voltarem a ser pagas”, disse. “O banco teve que fazer provisões para enfrentar a crise, mas está muito sólido. Temos certeza de que vamos recuperar o crescimento e voltar aos níveis normais de atividade no Itaú”, conclui o executivo.

Setubal lembrou que o banco prorrogou o pagamento de parcelas das dívidas para dar mais prazo a clientes pessoa física e jurídica se organizarem na crise, e o Banco Central (BC) flexibilizou regras de provisionamento e capital para facilitar esse processo.

Diversidade, inclusão e responsabilidade

Durante o evento, Setubal explicou que as chamadas práticas ESG (sigla para meio ambiente, social e governança, na tradução para o português) estão no pilar central da empresa, já que são valores de longo prazo da Itaúsa.

Embora não tenha divulgados dados e percentuais concretos, Setubal reconheceu que a diversidade de gênero e raça nos cargos de liderança da holding é muito baixa e que a empresa planeja, nos próximos anos, reverter esse cenário.

O executivo defendeu que a Itaúsa, seja através de projetos próprios ou das iniciativas de suas empresas, sempre esteve comprometida com o apoio à cultura, às artes e às causas sociais e que esse apoio é legitimo e não “mercadológico”.

“A Itaúsa tem valores fortes, com foco nas pessoas e compromisso com a sustentabilidade, Queremos ajudar a sociedade brasileira e fazer do Brasil um país com mais oportunidades para todos”, disse.

Setubal destacou a doação que a holding fez de R$ 1,5 bilhão destinados a ações sociais para minimizar os impactos da pandemia na sociedade brasileira e disse se orgulhar do pioneirismo da empresa em realizar essa doação, que acabou servindo de “gatilho” para outras empresas.

“Essa doação foi para ajudar o Brasil a enfrentar esse desafio. E isso acabou servindo de gatilho para outras empresas, já que depois da nossa doação, o Brasil acabou arrecadando cerca de R$ 7 bilhões em doações de empresas privadas”, complementa o executivo.

Allan Gavioli

Estagiário de finanças do InfoMoney, totalmente apaixonado por tecnologia, inovação e comunicação.