Investidores europeus buscam oportunidades em eólicas e infraestrutura no Brasil

Graziano Messana assume a Eurocâmaras Brasil em junho e defende venda de terras a estrangeiros e regulamentação sobre créditos de carbono

Rikardy Tooge

Graziano Messana, presidente da Câmara de Comércio Italiana de São Paulo (Divulgação)
Graziano Messana, presidente da Câmara de Comércio Italiana de São Paulo (Divulgação)

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O investidor europeu está mais otimista com o Brasil para 2023 do que em anos anteriores, na avaliação do presidente da Câmara de Comércio Italiana de São Paulo, Graziano Messana.

O fim das polêmicas em torno da Amazônia, a rápida reação à inflação com um Banco Central independente e o melhor momento frente a outros emergentes coloca o país como um dos destinos prioritários para as empresas da União Europeia, afirma Messana, que no próximo mês assume o comando da Eurocâmaras Brasil, entidade que congrega cerca de cinco mil companhias do bloco.

“O Brasil tem chamado a atenção dos investidores europeus por ser um país que reage muito rápido às crises. Vimos isso em 2008, 2015, na pandemia de covid e, mais recentemente, na subida rápida dos juros para conter a inflação”, afirmou o dirigente em conversa com jornalistas.

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Em outra frente, o empresário afirmou que as recuperações judiciais de Americanas (AMER3) e Light (LIGT3) chegaram a ligar um sinal de alerta nos investidores europeus. “Muitos perguntavam ‘então não é só nos Estados Unidos?’”, diz. No entanto, acrescenta, o pessimismo vem arrefecendo diante da resiliência da economia.

Messana lembrou ainda que algumas agendas regulatórias precisam avançar do ponto de vista europeu, em especial a que trata de venda de terra a estrangeiros. Atualmente, o país não autoriza esse tipo de comércio. Caso um estrangeiro queira investir em terras, terá que ser minoritário em uma sociedade com um brasileiro.

“Não é um modelo atrativo. Por mais cordial que a sociedade possa ser, não é quem de fato que está investindo que tem o controle”, argumenta. “Que se autorize a compra e coloquem as condições, não somos contra isso. Pode-se comprar imóveis urbanos e empresas, mas não podemos comprar terras por qual motivo?”, questiona Messana.

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Descarbonização e infraestrutura

O presidente da Câmara Italiana diz que o objetivo não é tomar terras produtivas dos produtores brasileiros, mas encontrar áreas onde seja possível fomentar a preservação e, assim, obter os cobiçados créditos de carbono,  essenciais para que as empresas europeias cumpram suas metas de descarbonização. O dirigente vê ainda a necessidade de que o Banco Central regulamente o envio desses créditos emitidos no Brasil para o exterior.

Ainda na pauta de descarbonização, Graziano Messana destacou o interesse de empresas europeias na produção de energias renováveis.

A italiana Enel vem expandindo sua geração de energia eólica em um plano de investir cerca de R$ 31 bilhões até 2024. Em outra frente, a francesa Total fez uma joint venture de R$ 12 bilhões com a brasileira Casa dos Ventos no ano passado. Uma outra gigante italiana que não atua no Brasil também estaria estudando formas de investir em energia eólica no país, segundo Messana.

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Há ainda o interesse de empresas do bloco em participar do leilão da concessão do trecho da BR-040 que liga Minas Gerais e o Rio de Janeiro, previsto para este semestre, bem como nos certames da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que ocorrerão no próximo mês.

Acordo UE-Mercosul

O dirigente da Câmara Italiana reforça que o empresariado da União Europeia, em sua maioria, apoia os termos do acordo com o Mercosul, assinado em 2019 e que ainda aguarda aval dos dois blocos. “Nós estivemos recentemente com o Josué [Gomes, presidente da Fiesp], que também demonstrou disposição pelo acordo”, argumentou.

Para o dirigente, a discussão política acabou contaminando o debate comercial e, em último caso, o acordo poderia ser “fatiado” entre as duas frentes.

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“A União Europeia possui competência comercial e poderia assinar o acordo sob o aspecto comercial, caso o Parlamento Europeu aprove. No entanto, os termos políticos ficariam de fora”, explicou.

Para o empresário, o atraso apenas estimula que ocorram mais acordos bilaterais. “Enquanto seguramos este acordo, poderemos ver os países se acertando entre eles. Não faz muito sentido”, ponderou.

O dirigente comentou ainda que as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre o papel do Ocidente na guerra na Ucrânia não foram bem vistas pela comunidade europeia. “O presidente se meteu em uma situação complicada”.

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Legislação e câmbio

O futuro presidente da Eurocâmaras Brasil defendeu a manutenção de legislações consideradas importantes para os empresários do bloco, como a reforma trabalhista e a lei de arbitragem, e reforça que a reforma trabalhista trouxe mais conforto ao investidor europeu, diante de uma percepção de que havia muita judicialização no país. No âmbito da arbitragem, a visão é de uma proteção maior contra possíveis interferências do judiciário em questões entre empresas.

Em um momento em que o Brasil discute mudar a moeda de negociação com China e Argentina, Messana disse que esta não é uma prioridade dos empresários europeus. Atualmente, as transações são em dólar e tendem a seguir assim, segundo o dirigente.

Rikardy Tooge

Repórter de Negócios do InfoMoney, já passou por g1, Valor Econômico e Exame. Jornalista com pós-graduação em Ciência Política (FESPSP) e extensão em Economia (FAAP). Para sugestões e dicas: rikardy.tooge@infomoney.com.br