IRB Brasil Re: a ex-estatal que triplicou de valor

A companhia foi a ganhadora do prêmio revelação, no ranking feito pelo InfoMoney em parceria com Ibmec e Economatica

Letícia Toledo

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SÃO PAULO – O que uma companhia que tem 80 anos e durante 70 deles foi um monopólio estatal precisa fazer para continuar dominando o setor? A resposta está sendo dada na prática pela resseguradora IRB Brasil Re (IRBR3).

Com investimento em tecnologia e uma bem-sucedida expansão internacional, a empresa conquistou o título de maior resseguradora da América Latina em prêmios emitidos (foram R$ 7 bilhões em 2018). Além disso, vem chamando a atenção do mercado por sua rentabilidade e pelo desempenho de suas ações. 

Desde a abertura de capital, em julho de 2017, o IRB mais do que triplicou de valor de mercado — atualmente próximo dos R$ 30 bilhões. A companhia detém o título de resseguradora mais eficiente e com o maior retorno do mundo, segundo a consultoria internacional Wills Re.

O retorno sobre o patrimônio líquido subiu de 32,1% no ano passado para 37,6% no primeiro trimestre de 2019 — ante a média de 5,9% entre as principais resseguradoras do mundo em 2018. 

Foram números como esses que tornaram o IRB o vencedor do ranking Melhores Empresas da Bolsa, na categoria revelação. Criado pelo InfoMoney em parceria com o Ibmec e a Economatica, o ranking avaliou empresas que abriram capital nos últimos três anos com base em três critérios: rentabilidade, desempenho das ações e práticas de governança corporativa (confira as demais vencedoras e a metodologia completa da pesquisa).

“Investimos muito para aumentar a nossa eficiência. Com isso, conseguimos oferecer preços mais competitivos para os clientes e gerar um retorno diferenciado para os acionistas”, afirma Fernando Passos, deputy CEO do IRB.

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Fim do monopólio

Criado em 1939, o IRB perdeu em 2007 o monopólio do mercado de resseguros, e foi privatizado em 2013. Na época, a companhia continuou tendo a União como seu maior acionista, mas BB Seguridade, alguns fundos estatais, Bradesco e Itaú entraram no bloco de controle. 

Com os novos sócios, o IRB Brasil Re definiu novas estratégias. Uma delas foi a integração das áreas em que atua. O objetivo é usar sua base de dados para oferecer pacotes de resseguros com preços mais atrativos. Para isso, investiu em tecnologia e bons profissionais na gestão.

Em vez de perder espaço com o aumento da concorrência, o IRB cresceu nos últimos anos. Sua participação de mercado no país subiu de 31% em 2014 para 37% em 2018. A segunda colocada, a alemã Munich RE, tem hoje 6% do mercado de resseguro no país.  

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Além disso, a empresa vem investindo também na expansão internacional. Em 2018, as operações no exterior foram responsáveis por 39,4% dos prêmios emitidos. No primeiro trimestre deste ano esse percentual chegou a 45,5%.

“Temos uma estratégia de crescimento no exterior baseada em dois pilares: desenvolver nosso crescimento na América do Sul e estabelecer parcerias estratégicas em outros mercados”, afirma José Carlos Cardoso, CEO do IRB Brasil Re. “Se pegarmos uma fábrica de papel aqui e outra na Argentina, por exemplo, elas são muito parecidas. Então temos uma expertise muito grande para atuar na América do Sul”, completa.

“O processo de reestruturação da companhia após a privatização foi bem-sucedido, e o IRB se tornou uma empresa moderna, com uma boa gestão e liderança isolada no setor”, afirma André Martins, analista da XP Investimentos.  

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Uma empresa sem controlador

Apesar do IPO feito em 2017, o IRB Brasil Re ainda era controlado pelos grandes bancos e pela União. O cenário mudou em meados de julho deste ano, quando Banco do Brasil e União venderam suas participações, de 15,2% e 11,7%, respectivamente, por meio de ofertas de ações.

Com a venda, que totalizou mais de R$ 7,4 bilhões, o bloco de controle até então vigente foi desfeito e a empresa se tornou uma corporation — companhia sem controle definido.

Ainda integram o bloco de controle Itaú (11,1%), Bradesco (15,2%) e FIP Caixa Barcelona (3%). Em fevereiro o fundo Caixa Fgeduc Multimercado, gerido pela Caixa Econômica Federal, já havia vendido sua participação, levantando R$ 2,52 bilhões. 

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“A saída desses acionistas deve ser benéfica para o IRB. A tomada de decisões se torna mais ágil, já que não há tantos sócios com interesses difusos”, afirma Carlos Daltozo, head de renda variável da Eleven Financial. 

Ainda há espaço para mais?

A abertura do mercado de resseguros no país começou aos poucos. Até 2016, 40% do risco das seguradoras devia obrigatoriamente ser contratado com uma resseguradora local. Esse patamar está caindo ano a ano e deve chegar a 15% em 2020 — o que aumenta a concorrência no mercado. Mesmo assim, os analistas não parecem preocupados com o futuro do IRB.

“O investimento que uma empresa estrangeira teria que fazer para desenvolver uma estrutura grande como a da IRB no Brasil seria muito alto. Para essas empresas há mercados mais vantajosos para se explorar”, afirma Martins, da XP. 

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Apesar da disparada das ações da companhia desde o IPO, analistas acreditam que os papéis devem subir ainda mais. “A retomada da economia vai favorecer todo o mercado de seguros e o IRB  em especial, por ser líder no setor”, diz Daltozo.  

Dados compilados da plataforma Bloomberg revelam o preço-alvo médio da ação entre os 11 analistas que atualmente acompanham a empresa fica em torno de R$ 106,00. A ação atualmente é negociada na casa dos R$ 95,00. 

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Letícia Toledo

Repórter especial do InfoMoney, cobre grandes empresas de capital aberto e fechado. É apresentadora e roteirista do podcast Do Zero ao Topo.