Quebradas, grandes livrarias brasileiras lutam para se reerguer

Juntas, a livraria Saraiva e livraria Cultura respondem por 40% das vendas de livros de todo o país, mas dívidas estão cada vez maiores 

Júlia Miozzo

Mega store da Saraiva (Foto: Divulgação)
Mega store da Saraiva (Foto: Divulgação)

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SÃO PAULO – A Livraria Saraiva divulgou na última segunda-feira (12) os resultados do terceiro trimestre e confirmou que a crise do mercado editorial a atingiu em cheio. A varejista dobrou seu prejuízo no período, que chegou a R$ 66,6 milhões no trimestre. Em 2017, ele era de 33,4 milhões.

Seu lucro líquido caiu 33,5% na comparação ano a ano – foi de R$ 81,2 milhões no último trimestre e de R$ 122 milhões no mesmo período do ano passado.

Um “prólogo” dessa situação já vinha sendo desenhado desde o início do ano. Ela não compareceu à Bienal do Livro de São Paulo deste ano, maior evento do setor no país e onde tinha um dos maiores estandes. No último mês, ela anunciou o fechamento de 20 das 84 lojas abertas no Brasil; no ano passado, eram 111 unidades em funcionamento.

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O grande problema que enfrenta é o endividamento, de R$ 164 milhões líquidos no terceiro trimestre. É um saldo devedor 34% mais baixo do que o apresentado no trimestre anterior, de R$ 249 milhões, mas que segue sem perspectivas de ser quitado considerando que o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) da varejista ficou em R$ 49 milhões negativo, 90% maior do que o apresentado um ano antes.

A grande concorrente da Saraiva no país, Livraria Cultura, também está em mais lençóis e entrou com pedido de recuperação judicial depois de fechar todas as lojas da Fnac no Brasil, com dívida na casa dos R$ 285 milhões.

Ambas as redes de livrarias começaram a ter problemas também com editoras por falta de pagamento. Como contamos no início de agosto, as editoras Mythos, especializada em histórias em quadrinhos, e a Bookwire, a maior de livros digitais, deixaram de distribuir seus títulos às gigantes por conta de calote.

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É uma situação preocupante também para as editoras já que, juntas, a Saraiva e Cultura respondem por 40% da venda de livros no país.

Elas tentam reverter a situação para seguirem ladeira abaixo: no último dia 6, o Snel (Sindicato Nacional das Editoras de Livros) convocou uma reunião com a Saraiva para tentar renegociar as dívidas, mas acabou recusando o acordo proposto, de que 45% da dívida fosse convertida em ações e debêntures, que o restante fosse quitado em 120 parcelas e que cada credor recebesse R$ 15 mil.

A tendência, com a recusa do acordo, é de que a Saraiva também acabe entrando em recuperação judicial, tal como a Cultura.

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O que explica?
Investimentos que não deram certo, promoções exageradas, a crise econômica e o fortalecimento da Amazon no mercado brasileiro são alguns dos fatores que, juntos,  fizeram com que as empresas chegassem à “beira do abismo”.

A abertura de megastores e a inclusão de eletrônicos no catálogo, que exigiram um grande montante investido, não trouxeram retorno. A estratégia de oferecer grandes descontos, de até 20%, em livros recém-lançados e best-sellers para “enfrentar” a Amazon no mercado, somado ao encolhimento da receita com venda de livros – de 20% entre 2015 e 2017 – impossibilitaram que a contas ficassem no azul.

As empresas são as duas maiores players do mercado editorial brasileiro, mas dizer que existe uma crise no “mercado de livros”, entretanto, é errado: neste ano, ele cresceu 5,7% e teve aumento de 9,3% no faturamento, segundo o Snel. A perspectiva é de que se veja um “bom fechamento de ano”.

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Tentativas
No terceiro trimestre, a Saraiva teve queda de 11,7% nos custos operacionais – e deve continuar se esforçando para diminuir ainda mais. Junto com os resultados e fechamento de lojas, ela anunciou um corte de 700 funcionários e que deixará de vender eletrônicos, como smartphones e notebooks. Eles passarão a ser oferecidos em um “marketplace próprio”.

A estratégia da empresa continua sendo de investir e focar na transformação digital da companhia, expandindo seu marketplace próprio, e também na venda omnicanal, integrando as vendas digitais e físicas.

Essa segunda é uma tendência do varejo no geral e, neste ano, já tem dado bons resultados para a Saraiva: o serviço Click & Collect, em que o cliente compra no e-commerce e retira os produtos em uma loja física da Saraiva, já corresponde a 18,4% dos pedidos do site; além disso, dos clientes que o escolhem, 2% realizam uma compra adicional nas lojas ao retira-los.

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A Cultura, por sua vez, pretende se transformar em uma “companhia digital”. Em agosto, executivos da empresa comentaram sobre a criação de um centro de inovações que tem trabalhado no desenvolvimento de aplicativos, B.I. e mudanças para o marketplace; a expectativa é de que até 2020 80% da receita venha de canais digitais.

Junto das editoras, as livrarias agora pretendem limitar em 10% o desconto oferecido em lançamentos de livros durante seu primeiro ano de venda, tal como o faz mercado editorial francês. Um pleito das associações já está na Presidência. Dados os números recentes, entretanto, é necessário que os esforços sejam ainda maiores.

Nesta quarta-feira (14), as ações da Saraiva (SLED4) acumulam queda de 0,96%. No acumulado do ano, ela apresenta baixa de 49,13%. 

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