Banco Inter chega a um milhão de clientes e pincela planos agressivos para o futuro

No fim do semestre, banco tinha 740 mil correntistas; hoje, já "cabem" 2 milhões de pessoas na estrutura

Paula Zogbi

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BELO HORIZONTE* – O Banco Inter realizou um evento em sua sede nesta segunda-feira (24) para acompanhar a amplamente aguardada chegada à marca de 1 milhão de correntistas em mais de 5.100 municípios. No último balanço, apresentado no segundo trimestre deste ano, o número estava em 740 mil. 

Em contas para Pessoa Jurídica, onde o banco começou mais tarde (julho de 2017), o número de correntistas é bem inferior: atualmente em 30 mil. A tendência, segundo os executivos da empresa, é atingir em breve cerca de 10% do número de correntistas pessoa física – ou seja, cerca de 100 mil por ora. 

Mas o patamar do banco digital sem tarifas está longe de se estabilizar, na visão dos executivos. “Com a estrutura que a gente tem hoje, a gente está confortável para atingir 2 milhões de correntista”, diz o CEO da empresa, João Vitor Menin, citando estrutura de capital, humana e física.

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Histórico de “foguete”

Com foco desde cedo em crédito, especialmente o imobiliário, frente na qual possui 50 pontos de atendimento atualmente, o banco nasceu há mais de duas décadas como Intermedium. Em 2014, iniciou a mudança para se tornar um banco de varejo totalmente digital, e hoje tem todas as operações de um banco tradicional, inclusive poupança, e é o único banco no Brasil que baseia toda a operação em nuvem. 

“No início do ano, a gente tinha a pretensão de chegar a um milhão de clientes até o final de 2018”, lembra Menin, ao mencionar que pouco antes, em 2014, a ambição era de ter 100 mil clientes em 2020. Não à toa, a empresa usou a metáfora da decolagem de um foguete para ilustrar o crescimento dos últimos meses.

“A velocidade de crescimento é bem legal. No final do ano passado a gente abria 2 mil contas por dia, mas fechamos o primeiro semestre abrindo 4 mil contas por dia”, lembra Alexandre Riccio de Oliveira, vice-presidente. Agora, este número é de cerca de 6 mil.

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“Esse crescimento diário é um grande indicador de que quem entra [no banco], gosta. O grande direcionador do aumento de clientes são os próprios clientes”, diz, lembrando que 80% das novas aberturas são orgânicas. “Na hora que você tem um produto que é bom: digital, gratuito e completo; as pessoas são atraídas, usam, gostam e naturalmente recomendam”, completa Menin.

Ainda assim, o banco não exclui a importância do marketing ativo, caso do patrocínio ao São Paulo Futebol Clube e do próprio evento realizado nesta segunda, para o qual o banco convidou um grupo de correntistas. 

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Segundo o VP, os gestores pensam no banco como se fosse um supermercado – e essa é a chave para garantir o lucro mesmo sem cobrar anuidades e tarifas. A maioria dos clientes entra para os serviços básicos, e a remuneração da empresa ocorre à medida que os produtos são consumidos, caso do uso do débito ou da própria manutenção do dinheiro na conta. Mas produtos mais robustos, como seguros, investimentos e o próprio financiamento, remuneram valores mais altos. 

Crédito imobiliário e com lastro em imóvel

Atualmente, cerca de 60% das receitas de crédito do Inter vêm do imobiliário. Segundo os executivos, uma das grandes apostas para o futuro vem de empréstimos com garantia de imóvel, um mercado que ocupa 30% da carteira imobiliária nos EUA e que barateia expressivamente a tomada de crédito. 

As taxas de crédito para compra de imóveis também devem baixar para ficar cada vez mais competitivas com grandes bancos. Foi para ajudar no funding e garantir estas taxas, aliás, que criou-se a Poupança do banco. Junto a ela, possibilitou-se a chegada de um novo produto de crédito imobiliário aos clientes Inter, que já oferece taxas de juros mais baixas para competir mais agressivamente (a partir de 9,5% + TR, semelhante ao praticado pela Caixa).

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Crescimento, eficiência e bolsa de valores

Para crescer com eficiência, é necessário ter lastro. Em uma empresa cujo mote é atendimento ao cliente, crescer mais que o suportado poderia ser um tiro no pé. “Por isso que a gente buscou o mercado de capitais. E se a gente precisar de mais capitalização, a gente vai buscar o mercado de novo”, diz Menin, referenciando o crescimento acima dos 2 milhões de clientes já plausíveis. 

Sucesso absoluto na bolsa nos últimos dois meses, a ação do banco decolou desde o IPO em maio (de R$ 18,25 na estreia para R$ 28,85 nesta segunda, alta de 158%). No fechamento de mercado imediatamente posterior à marca do 1 milhão, subiu mais 2,60% ante queda de 1,84% do Ibovespa. 

Menin garante que o banco busca operar sem se importar ao extremo com essa movimentação. “A gente tem que tocar o nosso negócio independentemente do crescimento da ação”, diz. 

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Mas ele tem um palpite para o fenômeno. “Nós conseguimos fazer a abertura de capital do banco inter porque o mercado queria comprar a ação de um banco diferente. O que eu acho que o mercado comprou foi a questão do banco digital e o growth, crescimento. Quando eles enxergam que a tese deles, que era de uma empresa de grande crescimento, se materializa, isso é positivo”, opina.  

Expansão

Menin assume que existe a possibilidade de crescimento para outros países da América Latina. “Esse é um movimento natural para negócios digitais. A gente está estudando, sim, isso, mas a gente não vai fazer isso de maneira abatalhoada”, diz o CEO. Segundo ele, não estão definidos os locais para esta expansão e nem as datas, há apenas conversas. 

Novos meios de pagamento

O pagamento com QR Code é uma grande aposta de corte de custos para quando sair de casa sem cartão de plástico realmente for uma tendencia. Segundo Menin, um dos principais custos para o banco é justamente a fabricação do cartão. Neste sentido, ele acredita em uma cooperação entre bancos digitais e clientes (pequenos varejistas, por exemplo) na criação de novos meios de pagamento para diminuir o impacto das taxas cobradas pelas adquirentes.

Próximos passos

Ainda para este ano, o foco em novos produtos para a empresa está principalmente em serviços financeiros – como novos produtos de investimento.

Enquanto o crescimento do banco e o próprio IPO permitem a tomada de crédito sem a necessidade de pagar altos juros, Riccio garante que existe uma busca pela remuneração justa para o cliente.

No passado, após solicitado, o Banco Inter chegou a aumentar simbolicamente a remuneração de um CDB de 99% para 100% do CDI. “A gente tem conseguido entregar uma redução de custo de funding relevante para oferecer a taxa de forma competitiva na parte de crédito. Mas acho que a gente vai estar sempre trabalhando nesse equilíbrio”, diz o VP. 

*A jornalista viajou a convite do banco

Paula Zogbi

Analista de conteúdo da Rico Investimentos, ex-editora de finanças do InfoMoney