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SÃO PAULO – Enquanto minoritários da Smiles (SMLS3) estão decepcionados pela troca, literalmente da noite para o dia, de um negócio rentável e promissor para ser acionista de uma companhia aérea, que carrega todos os “poréns” históricos do setor, os investidores da Gol (GOLL4) comemoram.
O valor de mercado da companhia saltou 20% em três pregões, passando de R$ 3,614 bilhões na quinta-feira (11) para R$ 4,337 bilhões contando a alta de 2,20% dos papéis nesta quarta-feira (17) com a forte valorização das ações da Gol após a companhia anunciar que não renovará seu contrato com a Smiles, companhia de programa de fidelidade da empresa.
A queda expressiva do dólar, negociado abaixo de R$ 3,70 de olho no cenário eleitoral, também contribui positivamente para a ação, uma vez que ajuda a reduzir os custos da companhia – majoritariamente querosene de aviação, precificado na moeda norte-americana – e reduzir sua dívida, mas o grande destaque ficou mesmo para o anúncio do início da semana.
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Para a Gol a notícia é “economicamente positiva”, segundo os analistas do BTG Pactual. Se o acordo avançar conforme a aérea pretende, a empresa deve se beneficiar de maior flexibilidade nas transações relacionadas a Smiles e sobre o funcionamento da conversão de milhas por passagens, sem ter que levar isso à discussão com os minoritários da empresa do programa de fidelidade. Além disso, a aérea deve se beneficiar de significativas sinergias relacionadas a impostos.
“Inicialmente, estimamos que o VPL [valor presente líquido] das eficiências fiscais poderia estar em R$ 1,5 bilhão para a Gol (mais de 30% de seu valor de mercado)”, disse o BTG. Vale ressaltar que o valor dos papéis da Gol saiu de R$ 13,54 antes do anúncio para R$ 15,90 no último pregão.
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Além disso, a empresa aérea tem planos de ser listada no Novo Mercado, com a conversão dos papéis preferenciais em ordinários. A Gol fará um grupamento das ordinárias na proporção de 35 para 1, de forma a manter a base de precificação de suas ações no mercado. Os acionistas preferenciais dissidentes terão o direito de retirar-se, pelo seu valor patrimonial.
Quem paga o preço do melhor desempenho e expectativas para Gol é a Smiles, que acumula queda de 33,8% desde o anúncio das mudanças. “O controlador [Gol] deliberadamente destruiu as perspectivas futuras,
passando sobre o management da Smiles visando abrir caminho para incorporação em condições substancialmente mais favoráveis, em detrimento do respeito aos minoritários”, avaliam os analistas da Eleven Research. (veja aqui reportagem completa sobre impactos na Smiles)
Os termos – ainda nebulosos – da reestruturação societária chamou a atenção da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), que abriu um processo administrativo para analisar se há irregularidades na operação.
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O presidente da Gol, Paulo Kakinoff, disse a analistas de mercado em teleconferência que a proposta não altera os direitos dos acionistas da Smiles. No entanto, fontes próximas ao assunto informaram à Reuters que a transação forçará os minoritários da Smiles a ter votos menos abrangentes do que tinham na empresa de programa de fidelidade.
Boa opção antes da Smiles
O mercado foi pego de surpresa com o anúncio da Gol na noite de domingo (14), mas quem já estava de olho no “case não muito óbvio” era a Moat Capital, que mantém a ação em seu portfólio há cerca de dois anos. “A Gol tem uma dinâmica perversa em um ambiente de contração da economia, com dólar e petróleo em alta”, conta Adriano Leite, sócio da Moat Capital e responsável pelo relacionamento com investidores.
No entanto, ele avalia que a empresa reverteu esse cenário após o impeachment de Dilma Rousseff, com a melhora das expectativas econômicas. Leite observa ainda que a administração da companhia também melhorou desde então e, por isso, sinalizou ser uma boa tese de investimento para a Moat.
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“Houve uma mudança de ciclo e começamos a olhar a Gol de maneira inversa, como uma empresa mais enxuta e preço [da ação] extremamente amassado”, diz Leite, que revela que a posição comprada em Gol gira em torno de 5% do Moat Capital FIA. “Atravessamos a eleição comprado em Gol. O ciclo é favorável à companhia”, acrescenta. Assim, com ou sem o anúncio sobre a Smiles, a perspectiva da gestora já era positiva.
Vale destacar que, em 2015, os papéis da Gol chegaram à sua mínima histórica e, segundo apontou relatório do UBS da época, precificavam uma chance de quase 40% da falência da companhia, com o mercado de olho na grande dívida da empresa em dólar, o cenário de ruim para a venda de passagens aéreas em meio à crise econômica daquele ano e a pressão dos preços de combustíveis. Muitas dessas questões foram endereçadas – e o anúncio sobre a Smiles acaba por coroar a fase mais positiva da empresa na Bolsa, mas em detrimento aos acionistas da companhia de fidelidade.
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