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O fim do ciclo de liquidez exagerada da pandemia trouxe um novo cenário para os fundos de venture capital e private equity em 2022.
Se, no decorrer da pandemia, era comum o anúncio de vultuosos cheques para empresas e startups nos mais diversos níveis de maturação, neste ano o valution encontrou a gravidade dos juros reais e os critérios gerenciais ganharam mais força no radar dos gestores.
À exemplo do que ocorre no mundo, no Brasil também ficou mais difícil para as companhias conseguirem ganhar novos “Pix”, mas não impossível. A KPTL, gestora de venture capital que administra dez fundos de investimento, totalizando cerca de R$ 937 milhões em ativos, seguiu com os aportes apesar do cenário mais desafiador.
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O Criatec 3, por exemplo, que tem o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) como principal investidor, destacou R$ 40,8 milhões para realizar 13 novos aportes em empresas que já eram investidas pelo fundo, dos mais diversos segmentos.
Iniciado em 2016, o fundo possui 95% dos seus R$ 217 milhões já alocados em 30 startups em fase de crescimento. Para 2023, a meta da KPTL é reduzir parte do portfólio. A expectativa é de que pelo menos dez participações sejam negociadas ou desinvestidas, diminuindo a cesta para cerca de 20 companhias.
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Eduardo Sperling, sócio da gestora e responsável pelo Criatec3, reforça que os fundos estão mais criteriosos, o que gera rodadas mais demoradas, mas que isso não é exatamente ruim. “O venture capital tem um risco muito maior e, durante o excesso de liquidez, vimos o preço se descolar muito [da realidade] diante da euforia”, diz ao InfoMoney.
“As rodadas de investimento [nos últimos anos] foram muito rápidas, com busca exagerada por crescimento. Isso trouxe a sensação entre os empreendedores de que sempre teriam novas rodadas”, acrescenta.
Dinheiro estratégico
O investidor lembra que os fundos não podem ser utilizados como “boias de salvação” pelas startups. Para ele, o dinheiro aportado tem que ter uso estratégico, dentro das premissas de crescimento acordadas entre startup e VC. Sperling assume que há um dilema entre os gestores sobre investir mais para não perder o que já foi aplicado, mas ressalta que a disciplina com o recurso, especialmente porque é majoritariamente de terceiros, evita que o dinheiro seja mal utilizado.
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“O primeiro investidor institucional de uma startup sabe dos riscos e tem ciência de que algumas investidas podem não dar certo. Então, nosso primeiro aporte é estratégico, divido em tranches, justamente para proteger nosso capital e estimular um crescimento sustentável na empresa”, prossegue. “Tanto que 50% ou mais do que pretendemos investir na companhia costuma vir na segunda rodada, que é quando já temos maior conhecimento do negócio”.
Foi o caso da Mereo, empresa mineira de softwares de gestão de RH e performance fundada em 2012. Criada pelos executivos Ivan Cruz, Athila Machado e Marconi Rocha, o negócio atualmente atende 23 empresas brasileiras listada na bolsa – como Magalu (MGLU3), Banco Inter (INBR31) e MRV (MRVE3) – de 30 segmentos diferentes, totalizando 149 clientes.
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Athila Machado conta que a tese do negócio foi ganhando tração ao longo de uma década de atuação. Antes, a Mereo era uma plataforma voltada para a gestão de performance de executivos, com foco na renda variável destes profissionais. Mas o avanço das metodologias de recursos humanos nas companhias abriu possibilidades maiores ao serviço.
“O RH era uma coisa mais burocrática, tratava apenas da contratação e da demissão. Atualmente, não, ele lida com diversas interações entre os funcionários, a análise de desempenho, pesquisa de clima. Há uma preocupação com o ‘salário emocional’ dos colaboradores e nossa solução ajuda as empresas neste caminho”.
Cumprindo as expectativas
Cruz explica que, diante da solidez que a operação apresentou em tão pouco tempo – já no terceiro ano o negócio havia alcançado o “breakeven” (ponto de equilíbrio) –, começava a hora de buscar um investidor. “Nosso negócio sempre foi bancado pela geração de recursos vinda dos clientes, mas sentimos a necessidade do ‘smart money’ para acelerar, pois esses fundos possuem visões de outras empresas e saberiam nos trazer provocações válidas para o crescimento”, argumenta.
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As primeiras conversas com a KPTL ocorreram no começo de 2020, antes da pandemia, mas o aporte foi fechado apenas no final do ano passado. Diante dos bons resultados observados, gestora e empresa negociaram um novo investimento, que foi fechado há dois meses. A nova rodada foi realizada em tempo considerado recorde para o fundo, que costuma assinar novos cheques depois de 18 meses, em média.
No primeiro aporte, KPTL e a Cedro Capital fizeram investimento de R$ 5 milhões, conforme notícias da época, em duas tranches. Nesta rodada, apenas a KPTL entrou com os recursos, em montante não revelado, mas a Cedro poderá acompanhar a rodada até o ano que vem. O aporte foi feito em tranche única.
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