General Atlantic e SoftBank mostram como encontrar boas startups e setores para investimento

Fundos de growth equity, segmento do private equity voltada a negócios em crescimento, também falaram sobre tendências tecnológicas trazidas pela pandemia

Mariana Fonseca

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SÃO PAULO – Empresas de tecnologia têm se destacado na Bolsa de Valores. No Brasil, temos casos como Enjoei (ENJU3) e Méliuz (CASH3). Esses negócios eram startups — organizações temporárias para criar empreendimentos escaláveis, inovadores e tecnológicos.

Antes de abrirem capital, as startups costumam passar por captações privadas com fundos de venture capital e private equity. Esses fundos filtram negócios que eventual chegarão ao mercado acionário aberto — e dois dos mais conhecidos no ramo são o General Atlantic e o SoftBank.

Esses fundos atuam com growth equity, segmento do private equity voltado a negócios em crescimento. O General Atlantic aportou em startups brasileira como Gympass, Hotmart, Kavak, Pague Menos, Quinto Andar e XP. Já o SoftBank Latin America Fund tem no portfólio negócios como Contabilizei, Creditas, Gympass, Kavak, Loft, Loggi, MadeiraMadeira, Olist, Petlove, Quinto Andar, Rappi, Volanty e VTEX.

Martín Escobari, copresidente do General Atlantic, e Paulo Passoni, responsável pela alocação de US$ 5 bilhões do SoftBank na América Latina, conversaram durante o painel “Investindo no Brasil do Futuro”, promovido pela conferência Brazil at Silicon Valley 2021. A conversa foi mediada por Alex Behring, sócio-diretor do grupo 3G Capital.

Escobari e Passoni conversaram sobre como achar boas oportunidades nas startups; quais setores foram aquecidos pela pandemia; e como está o cenário para startups captarem investimentos e para investidores aportarem em empresas de tecnologia.

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Como achar boas oportunidades nas startups?

Passoni elencou alguns passos usados pelo SoftBank Latin America Fund para analisar startups. “Começamos pelo time, dos fundadores até a cultura da empresa. Nos primeiros dez minutos de conversa, você já sente se os fundadores e a equipe são especiais. Eles precisam explicar sua visão, conseguir convencer outras pessoas dela, saber os obstáculos que enfrentarão e ter as respostas para as grandes perguntas sobre o negócio”, diz o sócio do SoftBank.

O próximo ponto de análise é o tamanho do mercado relacionado ao problema que será resolvido pela startup. “Não dá para construir uma grande empresa com um mercado potencial minúsculo. Pode ser bacana na pessoa física, mas não é o tipo de empresa em que investimentos”, diz Passoni.

O terceiro ponto é pensar em como a empresa ganha dinheiro usando tecnologia, e quanto ela pode ser replicada por um concorrente. Ou seja, qual a barreira de entrada do negócio. O quarto ponto é a tração, ou quão rápido a startup está crescendo. “Se ela está fazendo tudo certo e criando valor aos seus clientes, deveria estar dobrando todos os anos no começo.”

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O quinto ponto é ressaltado tanto por Passoni quanto por Escobari: o modelo de negócios da startup. “O sucesso do negócio depende do seu modelo: ele deve gera valor, tanto em termos de margem bruta quanto em um valor percebido pelo cliente e facilmente mensurável. O modelo de negócio também deve ter um moat [fosso], aquela dificuldade de outra empresa copiar e montar algo igual no dia seguinte. É preciso ter durabilidade no valor do modelo de negócio”, diz Escobari.

“O especialista em modelo de negócios ganha em longo prazo, é o que vemos em mercados maduros”, completa Passoni. “Olhamos modelos de negócio que deram sucesso pelo mundo e tentamos aplicar na América Latina. Mas claro que existem movimentos reversos, de empresas que foram do Brasil para o mundo, como Gympass e XP.”

Quais setores foram aquecidos pela pandemia?

Uma das grandes teses do SoftBank está no comércio eletrônico – MadeiraMadeira e VTEX são os exemplos mais recentes em terras brasileiras. As duas startups se tornaram unicórnios, ou startups avaliadas em ao menos US$ 1 bilhão, durante esta pandemia.

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O fundo de growth equity é conhecido por sua estratégia de apostar em “grandes líderes” de cada nicho. “Apostamos em MadeiraMadeira e Petlove, por exemplo, porque achamos que dá para competir com Mercado Livre e Magazine Luiza tendo uma aposta mais verticalizada”, defende Passoni. “O e-commerce na América Latina ainda está atrás do resto do mundo em termos de participação sobre o total das compras. Teremos 10 a 20 anos com potencial de crescimento. Desde que a empresa tenha uma boa execução, claro.”

No General Atlantic, uma tese frequente é a digitalização dos serviços financeiros. “20 anos atrás, apostamos que os grandes bancos iam perder participação de mercado na distribuição de produtos financeiros. Cheque especial e hipoteca não seriam feitos no mesmo espaço da recomendação de investimentos. Tinha espaço para um player independente, com ferramentas digitais”, diz Escobari.

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O vice-presidente afirma que a participação dos grandes bancos nesse universo caiu de 80% para 10%, com a entrada de negócios como Etrade, Fidelity, Vanguard, Schwab e Robinhood.

No Brasil, essa concentração teria caído de 99% para 92% na última década. “Daquele 1% há dez anos, boa parte estava com a XP. Investimos, e a XP cresce cerca de 50% ao ano atualmente. Ou seja, ainda com escala, apesar do seu porte. Usamos esse mesmo playbook de tecnologia para distribuir produtos financeiros na Índia e em Hong Kong. Cada vez que você recicla uma ideia, repete um erro diferente.”

Escobari cita outros setores que se digitalizaram recentemente. Assim como Passoni, ressalta o comércio eletrônico. Mas também menciona entrega de alimentos e educação. “Todas as pessoas e os setores foram forçados a usar a tecnologia pela pandemia. Vale ressaltar que parte dessa mudança é temporária. Tem quem esteja pedindo supermercado por delivery e, na verdade, adora escolher suas frutas e voltará ao supermercado assim que puder”, diz.

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Outra boa parte das pessoas e dos setores não tem esse perfil, e adotará a tecnologia de maneira duradoura. Escobari destaca os serviços regulatórios e a telemedicina. “Filas e formulários não voltarão”.

A Covid-19 também colocou os holofotes no setores de biotecnologia, para o vice-presidente do General Atlantic. “Estamos só no começo, mas a pandemia virou um estudo de caso espetacular e incentivará investimentos nessas empresas. Por exemplo, nos negócios que estimulem rapidamente a produção de anticorpos.”

Valuations altos em um mercado líquido

Pensando na relação entre avaliação de mercado (valuation) e vendas, Passoni admite que você pode pagar o dobro por uma startup em relação a uma empresa do mesmo setor já consolidada na Bolsa de Valores. Porém, a startup pode crescer muito mais rápido do que uma companhia listada.

“A margem de segurança no valuation de uma startup vem do seu crescimento, do quão rápido você pode ser dono por um múltiplo muito mais baixo”, diz Passoni. “Consideramos um horizonte de cinco anos, que é até onde nossa imaginação consegue ir. Fica difícil imaginar muito além desse período, porque uma startup pode até entrar em outros segmentos.”

“O desafio na análise das startups é saber qual o momento em que ela virará lucrativa, quão lucrativa ela será e como você traz essa projeção ao valor presente, levando em conta todos os riscos de um negócio não comprovado. Fazemos múltiplos de Ebitda pensando daqui a 15 anos, então temos uma futurologia mais subjetiva”, explica Escobari.

A pandemia provocou incertezas em diversas aplicações financeiras. Para Passoni, o momento é bom para startups procurando aportes de venture capital e private equity. “Estamos perdendo startups para fundos que oferecem o dobro ou o triplo do valuation que estaríamos dispostos a considerar, avaliações muito superiores do que essas empresas conseguiriam em ofertas públicas.”

As ações de tecnologia foram valorizadas durante a pandemia, diante da necessidade de isolamento social. Segundo Passoni, esses fundos consideram que essa “exuberância da tecnologia” continuará por pelo menos dois ou três anos. O contexto econômico também favorece captações de investimento para as startups, que podem então reduzir o pagamento de prêmios pelo risco.

“Temos uma política fiscal e monetária global extremamente expansionista. Isso faz o custo real de capital se aproximar de zero, traduzindo-se em retornos menores do que antes por conta dos riscos do equity. Eu comecei vendo um cost of equity de 10%. Hoje, está entre 6% e 7%.”

Escobari afirma que essa euforia com o segmento de tecnologia tem histórico. “Na oferta pública inicial do Submarino [B2W, 2007], apenas um milhão de pessoas comprava online. Hoje temos amplo acesso à banda larga, cartões de crédito e inteligência artificial. Existe base e infraestrutura para uma revolução tecnológica e de produtividade. (…) Quem ganhou dinheiro nos últimos anos é quem tomou muitos riscos, em mercados como criptomoedas”, diz.

Porém, o copresidente do General Atlantic afirma também que estamos em um momento delicado, após grandes valorizações. “É o momento de respirar e entrar em modo de observação”, aconselha.

Conheça o modelo de gestão que fez a XP crescer exponencialmente na última década, e como aplicá-lo no seu negócio. Assista à série Jornada Rumo ao Topo.

Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.