Fundo que conecta brasileiros a startups nos Estados Unidos e em Israel capta US$ 52 milhões

A Mindset Ventures já aportou em quase 50 startups. Foco está em softwares que atendam empresas em áreas como agricultura, cibersegurança e finanças

Mariana Fonseca

Daniel Ibri, da Mindset Ventures (Divulgação)
Daniel Ibri, da Mindset Ventures (Divulgação)

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SÃO PAULO – A pandemia do novo coronavírus colocou holofotes sobre o setor de tecnologia – e aumentou o interesse dos investidores em negócios ligados à inovação. Esse movimentou se estendeu aos fundos de capital de risco (venture capital), que administram carteiras de startup em troca de taxas de administração.

A Mindset Ventures foi uma das beneficiadas, especialmente por conta de sua tese em ativos globais de venture capital. O fundo anunciou o fechamento de seu terceiro fundo. A captação foi de US$ 52 milhões, valor muito superior aos US$ 20 milhões captados no segundo fundo e aos US$ 3 milhões captados no primeiro fundo.

O InfoMoney conversou com Daniel Ibri, cofundador e sócio operador da Mindset Ventures, para entender mais sobre a tese do fundo. Ibri também falou sobre como foi coordenar a captação com investidores e o aporte nas startups em tempos de pandemia. Por fim, descreveu qual o perfil de quem coloca recursos na Mindset Ventures.

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Investimento em softwares B2B e internacionais

A Mindset Ventures foi criada em 2016. O fundo já tinha como tese conectar brasileiros a ecossistemas internacionais de inovação. A equipe da Mindset Ventures está espalhada por São Paulo, pelos Estados Unidos e por Israel.

“90% dos nossos investidores são brasileiros. Damos acesso para que eles aportem em empreendedores maduros, enquanto esses fundadores podem expandir sua operação ao mercado brasileiro”, explica Ibri.

A Mindset Ventures investe em startups no estágio inicial, entre as rodadas semente e série B (conheça os estágios de crescimento de uma startup, da ideia ao IPO). “São empresas pequenas, mas devem comprovar que os negócios saíram do papel. Precisam ter equipe montado e algum número de cliente e faturamento. A média das investidas fatura US$ 1 milhão por ano no momento da captação”, diz Ibri.

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A Mindset Ventures aposta em um nicho específico: softwares que atendem empresas (modelo B2B). O fundo olha para cinco verticais: agricultura, cibersegurança, finanças, saúde e soluções de gestão empresarial.

O cheque do fundo em cada startup vai de US$ 1 milhão a US$ 2 milhões. A Mindset Ventures costuma coinvestir, dividindo o valor da rodada com fundos de venture capital americanos ou israelenses. Ibri cita como exemplos fundos conhecidos no mercado de capital de risco, como Andreessen Horowitz (investidora em negócios como Airbnb, Coinbase, Facebook, Instagram e Rappi) e Sequoia Capital (Airbnb, Apple, Decolar, Google, LinkedIn e Rappi).

Além do dinheiro, a Mindset Ventures coloca a entrada no mercado brasileiro como diferencial para as startups investidas. 10 empresas do portfólio atuam no Brasil. “É a parte mais difícil. Temos de explicar como funciona a cultura nacional, ajudar nas contratações, fazer a apresentação para clientes relevantes e assessorarmos em termos de regulação. Mas provamos que dá para fazer esse esforço com qualidade e de forma escalável”, diz Ibri.

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A Mindset Ventures investiu em quase 50 startups desde 2016. Os exemplos mais conhecidos são o Brex, fintech americana fundada pelos brasileiros Henrique Dubugras e Pedro Franceschi; a Taranis, startup israelense que oferece inteligência artificial a agricultores; e a PayJoy, fintech americana de crédito que recentemente expandiu ao Brasil.

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Houve dois eventos de liquidez, ou exits. A startup de inteligência artificial Voicea foi vendida para a Cisco, enquanto a provedora de software para varejistas no setor automotivo Prodigy foi vendida para a Upstart. A Prodigy foi uma das investidas deste terceiro fundo da Mindset Ventures, oferecendo uma saída apenas seis meses depois do aporte.

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“Essas saídas mostram que temos acertado o estágio e perfil de empresas investidas. O B2B tem um ciclo mais rápido de retorno por conta dos M&As. As compras estratégicas de negócios concorrentes ou complementares são mais recorrentes do que no B2C”, diz Ibri.

Investir em startups durante a pandemia

Este é o terceiro fundo da Mindset Ventures. O primeiro fundo foi captado na criação da Mindset Ventures. Foi um piloto de US$ 3 milhões, para testar a tese de investimentos em ecossistemas internacionais de inovação. O segundo fundo foi captado no meio de 2017, totalizando US$ 20 milhões.

Este terceiro fundo abriu sua captação em setembro de 2019, com um alvo de US$ 50 milhões. US$ 30 milhões já tinham sido captados quando a pandemia do novo coronavírus chegou ao Brasil. A Mindset Ventures suspendeu a captação entre março e agosto de 2020 – mas começou a usar o dinheiro já captado para realizar aportes em startups.

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“Muitos fundos internacionais pararam de investir. Fizemos sete aportes muito bons no ano passado, com valuations razoáveis. Agora, as avaliações das startups voltaram a subir”, diz Ibri. Os sete aportes vieram a partir de um funil com mais de 2,7 mil startups.

A procura por investidores foi reaberta em setembro do último ano. A captação foi encerrada de vez em março de 2021, com US$ 52 milhões obtidos com investidores. O fundo III deve investir em cerca de 20 startups até dezembro de 2022. Nove aportes já foram fechados.

Perfil do investidor na Mindset Ventures

Ibri explica que existem três perfis de investidores na Mindset Ventures. O primeiro é formado por family offices, single (uma família) ou multi (duas ou mais famílias). O segundo perfil é de indivíduos qualificados que não estão em family offices, como CEOs ou membros de conselhos de administração.

O terceiro perfil é de corporações. Quatro empresas investiram no terceiro fundo da Mindset Ventures, como o Banco Votorantim (BV) e UVC Investimentos/Grupo Ultra. “Todas têm fundos de corporate venture capital com foco em inovações no país. Elas investem conosco para observar o que está acontecendo no mundo e abrir as portas dos investimentos em startups internacionais.”

Para o cofundador da Mindset Ventures, a procura desses investidores estava mais na tecnologia e menos na dolarização do patrimônio.

“A grande maioria dos nossos investidores já tinha capital fora do Brasil. Parte dessa parcela foi direcionada para nosso fundo, então não houve uma dolarização ainda maior do patrimônio. Muitos têm cestas de venture capital brasileiro e internacional, de olho em diversificação”, diz Ibri. “O interesse na tecnologia aumentou porque ferramentas como delivery e home office se tornaram parte fundamental na rotina. Esse impacto não vai parar de crescer: vemos transferência de investimentos para a área de tecnologia mesmo nas empresas abertas.”

Além da rentabilidade do portfólio, a Mindset Ventures busca oferecer uma conexão desses investidores com ecossistemas internacionais de inovação. O fundo organiza reuniões com empreendedores, produz estudos e costumava organizar viagens anuais para Estados Unidos e Israel antes da pandemia de Covid-19. “Nós entendemos que o investidor não está lá só para ganhar dinheiro, mas para acompanhar o mundo das startups. Entender tendências e tecnologias.”

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Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.