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SÃO PAULO – Na semana passada, uma funcionária do Google postou na rede interna da companhia um relato de suposta discriminação que sofreu dos seus superiores por engravidar. A carta foi obtida pelo site Motherboard.
O relato viralizou rapidamente na rede interna da empresa e cerca de 10 mil pessoas, de diferentes setores, já visualizaram a mensagem.
O texto, batizado de “I’m not returning to Google after maternity leave, and here is why” (“Eu não voltarei para o Google depois da licença maternidade e este é o motivo”, em tradução livre), possui seis páginas e mais de 2.000 palavras acusando a gerência da companhia de comportamento abusivo e mostrando o RH como uma área completamente despreparada e ineficiente.
O relato da funcionária anônima diz que o problema na empresa começou há cerca de um ano e meio, depois que ela foi promovida a uma posição em que era gestora de outros cinco funcionários.
Após a promoção, seu gerente começou a fazer “comentários inapropriados” sobre a gravidez de uma outra pessoa de sua equipe. O gerente especulou que a mulher era “excessivamente emocional e difícil de trabalhar quando estava grávida” e discutiu “a provável saúde mental relacionada à gravidez”, diz o texto. Indignada com os comentários e a postura do chefe, a autora da carta, antes de engravidar, procurou o RH da companhia.
Esse contato com a área de recursos humanos não obteve solução. “Quase imediatamente depois de minhas discussões com o RH, os comentários do meu gerente sobre mim mudaram de forma drástica. Eu recebi por meses chats e e-mails raivosos, tive projetos vetados, ele me ignorando em encontros ao vivo. Até humilhações públicas cheguei a vivenciar”, relata a ex-funcionária, no texto.
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Após o desgaste com o antigo gerente, a autora relata que foi transferida de área pelo RH. Depois, ela mesma engravidou – e, então, passou a sofrer na própria pele as discriminações.
Em outro cargo e agora grávida, a ex-funcionária afirma que sua nova gerente lhe disse abertamente que ela não assumiria as funções enquanto estivesse grávida, porque a “gravidez poderia estressar a equipe”. A nova gerente a excluiu de certas comunicações e reuniões, de acordo com o texto.
“Eu me sentia completamente sem suporte. Eu estava sozinha. Decidi ser mãe e isso me mandou para um caminho que destruiu minha carreira no Google”, relata a ex-funcionária na mensagem. “A gota d’ água foi quando descobri as mentiras que ela contava sobre mim para outros gerentes.”
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O relato publicado pela ex-funcionária não foi apenas para que sua história fosse conhecida, mas também para que esse caso de discriminação servisse como exemplo para que o Google repense suas políticas internas e o tratamento com os funcionários.
“Estou compartilhando esta declaração porque espero que ela mostre como o Google lida com discriminação, assédio e retaliação e que isso deve mudar”, escreveu a mulher. “Os detalhes são importantes para entender a experiência muitas vezes prolongada, isolada e dolorosa das vítimas de discriminação, assédio e retaliação. Além disso, se algo semelhante aconteceu com você, saiba que você não está sozinho.”
Essa não é a primeira vez que o Google é denunciado por supostas práticas abusivas da empresa.
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Em novembro, funcionários realizaram uma paralisação mundial, na qual milhares de funcionários protestaram contra acordos de saída no valor de milhões de dólares dados a executivos que haviam sido acusados de assédio sexual, enquanto permaneciam em silêncio absoluto sobre o assédio em si. Em janeiro, acionistas alegaram que a empresa tentou encobrir a má conduta do alto escalão de funcionários da empresa e abafar os casos de assédio sexual.
Procurada pela Motherboard para comentar a situação, a empresa se negou a responder perguntas e, por meio de um porta-voz oficial, declarou que a companhia “proíbe retaliação nos ambientes de trabalho” e que todas as suas “políticas são compartilhadas publicamente”.
“Para garantir que todas as reclamações sejam ouvidas aqui na Google, nossos funcionários têm à disposição múltiplos canais para reportarem indecentes e problemas. Garantimos o anonimato e investigamos todas as denúncias de retaliação”, diz o comunicado da companhia para a Motherboard.
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