Flixbus avança no Brasil e vai atender 13 estados em 2023, diz CEO

Apesar de primeiro ano favorável, Flixbus está atenta às discussões judiciais no país, que podem atrapalhar o modelo de negócio

Wesley Santana

Somando os 39 países em que atua, Flixbus tem 1.600 rotas ativas. Foto: Divulgação
Somando os 39 países em que atua, Flixbus tem 1.600 rotas ativas. Foto: Divulgação

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De origem alemã, a Flixbus chegou ao Brasil em dezembro de 2021, com o objetivo de adaptar seu modelo de negócio europeu ao padrão brasileiro. De início, a marca fez uma promoção agressiva de passagens a R$ 1,00 para a até então as duas únicas rotas -de São Paulo para o Rio de Janeiro ou Belo Horizonte- quando vendeu mais de 40 mil bilhetes de viagens.

Passado um ano, a empresa de tecnologia para mobilidade avalia como positivo o desembarque no primeiro país latino, onde investiu mais de US$ 100 milhões. Neste meio tempo inaugurou outras rotas diretas em Goiás e Brasília, além de atender parte do sul, nordeste e centro-oeste com parcerias.

Dado o sucesso, a companhia continua expandindo sua atuação no sudeste, e deve estrear outras três rotas já no primeiro trimestre de 2023, conforme antecipou Edson Lopes, CEO da Flixbus, em entrevista exclusiva ao InfoMoney. Em razão de questões contratuais, os trajetos ainda não foram divulgados, mas vão complementar a rota Campinas (SP)-Angra dos Reis (RJ), que entrou em operação no começo deste mês.

“De um parceiro, em dezembro do ano passado, agora estamos com oito rotas assinadas, sendo que cinco delas já estão à venda. É um balanço positivo, pois vamos terminar o ano em mais de 300 mil passageiros transportados. A partir do próximo trimestre, já temos a expectativa de atender 13 estados e mais de 50 cidades, apesar das dificuldades regulatórias e pressão do setor tradicional. ”, pontua Lopes.

A empresa agora investe na divulgação dos serviços não apenas no ambiente online, onde é mais conhecida, mas também no offline. Lopes avalia que, embora a digitalização seja alta no país, é importante a presença de guichês em rodoviárias, por exemplo, para servir o público que se dirige ao local para fazer as reservas.

“É claro que há um trabalho para tentar migrar quem tem o hábito de compra offline, mas, especialmente em cidades menores, onde a rodoviária é perto de casa, as pessoas costumam ir lá para comprar”, destaca. “Hoje, nós estamos presentes em terminais de ônibus e fechando parceria com agências de viagens para atacar esse público”, esclarece.

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No cenário global, a Flixbus hoje atua em 39 países, operando mais de 1.600 rotas que ligam 3 mil destinos, especialmente no hemisfério norte. No acumulado de 2022, foram emitidos mais de 130 milhões de bilhetes, um número maior que o dobro do registrado no mesmo período do ano passado.

Dificuldades regulatórias

A Flixbus opera no Brasil em um modelo diferente das viações tradicionais, que gerenciam todo o processo das viagens, da operação à venda de passagens. A empresa, porém, fica mais com questões burocráticas, como precificação, marketing e vendas, enquanto as parceiras ficam responsáveis pelo serviço de transporte propriamente.

Seguindo essa estratégia, os esforços ficam direcionados na expansão da marca e da tecnologia pelo país, além de ser uma forma de fugir de embates diretos com os grupos econômicos que dominam o mercado rodoviário.

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Embora tenha logrado êxito neste primeiro ano, de tempos em tempos, discussões judiciais colocam em xeque o futuro deste modelo de negócio no país. Alguns juristas alegam que essa forma de operar, regulamentada pela ANTT (Agência Nacional dos Transportes Terrestres) em 2015, não é legal, pois elimina a necessidade de licitação prévia para linhas interestaduais, diferente do que acontecia, e define o regime de autorização especial.

Na última semana, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) julgou uma ação sobre o tema que alegava que este regime era inconstitucional. Por 14 votos a 1, a Corte Especial do tribunal de segunda instância decidiu pela constitucionalidade da regulamentação, mas há outras ações com o mesmo objetivo em tramitação no Supremo Tribunal Federal (STF).

A Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Mobitec) celebrou a decisão e disse que esse é um passo importante para dar segurança jurídica ao setor, especialmente aos aplicativos que vendem passagens, como Flixbus e Buser. A entidade destacou que, em razão deste modelo de autorização, só em 2020, surgiram novas 6,7 mil novas conexões entre cidades, além da inclusão de 128 municípios que não eram atendidos pelo transporte rodoviário.

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Já Lopes frisa que, ao contrário de outros países que têm malha aérea suficiente e competitiva, o transporte de ônibus tem relevância e papel social no Brasil. “O tamanho do mercado é enorme e aconteceram mudanças que seguiram no caminho de democratizar esse serviço no país, como a chegada do regime de autorizações especiais e algumas resoluções da ANTT que viabilizaram a entrada de novos players no transporte interestadual”, finaliza o responsável pela Flixbus no Brasil.