Estrangeiros aumentam participação em follow-ons, de olho em melhora da perspectiva das empresas

Investidores do exterior colocaram 39,2% do capital levantado nas ofertas subsequentes, no maior patamar para um primeiro semestre desde 2019

Rikardy Tooge

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A nova onda de follow-ons, sustentada pela perspectiva de que a queda dos juros que se avizinha dará fôlego para as companhias, conta com a participação expressiva dos investidores estrangeiros. Segundo dados da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e B3 compilados pelo InfoMoney, os não-residentes aportaram quase 40% dos recursos levantados, a maior participação desse tipo de investidor em um primeiro semestre desde 2019.

Desde o começo do ano, houve dez ofertas subsequentes de ações, que somaram R$ 15,4 bilhões, no menor volume financeiro para o período dos últimos quatro anos. Mas a participação do gringo, que já vem exibindo uma visão mais positiva com o mercado brasileiro desde o começo do ano, deu impulso a esse mercado. Até aqui, os estrangeiros ingressaram com o equivalente a R$ 6,04 bilhões nos follow-ons até 30 de junho, ou 39,2% do total emitido, segundo informa a plataforma TradeMap. É o maior percentual desde o primeiro semestre de 2019, quando os estrangeiros participaram de 48%, ou R$ 13,1 bilhões de um total de R$ 27,1 bilhões.

André Leite, CIO da TAG Investimentos, pondera que o capital estrangeiro ganhou tração muito mais atrelado aos movimentos da Bolsa americana durante o ano e cita como exemplo que os altos e baixos do fluxo do exterior tiveram mais relação com as movimentações do S&P 500. “Os estrangeiros olham para os emergentes de uma maneira muito mais pragmática. Quando eles recebem o sinal verde para aumentarem o risco, eles vão”, diz. “Assim como eles entram rápido, a qualquer mudança de humor no exterior, saem em um clique”.

Para Marcelo Audi, sócio da Cardinal Partners, a entrada de recursos dos investidores estrangeiros ainda nem começou. O gestor lembra que, no último semestre, a entrada de dólares do exterior foi positiva em US$ 3,4 bilhões, ante pouco mais de US$ 10 bilhões no mesmo intervalo do ano passado.

“O fluxo voltou a ser consistente nas últimas semanas, e o melhor é que o dinheiro [de verdade] ainda vai entrar”, projeta Audi. O gestor reforça que há uma avaliação do mercado de que o afrouxamento monetário virá a partir de agosto fez muitos agentes se anteciparem, tendo como reflexo os rallys vistos na Bolsa em maio e junho.

Prova disso é o fato de que os follow-ons ganharam tração na reta final do semestre. Das 10 operações realizadas até o momento, seis ocorreram desde o fim de maio. “Tivemos dois momentos do rally, um em maio, em que muitos fundos locais estavam com caixa e começaram a recompor suas carteiras. Já em junho, os estrangeiros voltaram”, afirma Marcelo Audi.

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Sede da B3: follow-ons ganham fôlego e abrem a perspectiva para uma reabertura para IPOs (Divulgação)

Vítor Saraiva, sócio do Banco XP para o mercado de capitais, relata que a maior procura até o momento vem de investidores dos Estados Unidos e da Europa. “Nós tivemos uma presença consistente dos locais nas ofertas, mas estamos vendo um interesse crescente dos estrangeiros”, reforça. Saraiva também aposta na tese de inflexão do mercado de equity, que está andando de lado desde meados de 2021.

Para o executivo, a tendência é de que o segundo semestre registre mais follow-ons do que na primeira metade do ano. Neste sentido, julho já tem duas operações a caminho: um aporte de até R$ 5,35 bilhões na BRF (BRFS3) e outro que está em modelagem pela construtora MRV (MRVE3). Por fim, Vítor Saraiva tem a expectativa de que a reabertura da janela de ofertas públicas iniciais (IPO, em inglês) ocorra no último trimestre do ano para ganhar tração em 2024.

Os follow-ons em 2023

Duas operações em especial atraíram boa parte do capital estrangeiro neste primeiro semestre. Praticamente metade do follow-on da Assaí (ASAI3) foi puxado pelos gringos, que movimentaram R$ 2,02 bilhões na operação. Na emissão de R$ 4,5 bilhões da Localiza (RENT3), 58%, ou R$ 2,61 bilhões, vieram do exterior, assim como na Oncoclínicas, em que os estrangeiros aportaram R$ 583,4 milhões de um total de R$ 896,9 milhões (65%).

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No apanhando do primeiro semestre deste ano, uma característica predominante nas operações de follow-on foi a busca de empresas por capital para desalavancarem seus balanços ou uma forma de captar recursos diante de um cenário mais restritivo ao crédito e pressão de juros.

As primeiras ofertas de 2023, iniciadas somente em março, reforçam essa percepção, como no caso do Casino na operação envolvendo papéis da Assaí, em Hapvida (HAPV3), Dasa (DASA3) e CVC (CVCB3), em que os controladores tiveram que ancorar a operação. Na outra ponta, Localiza Vamos (VAMO3) e Direcional (DIRR3), empresas de capital intensivo, buscaram recursos para ampliar seu capex. Já as operações envolvendo Oncoclínicas, Smart Fit (SMFT3) e Orizon (ORVR3) foram feitas para dar saída a acionistas relevantes.

Rikardy Tooge

Repórter de Negócios do InfoMoney, já passou por g1, Valor Econômico e Exame. Jornalista com pós-graduação em Ciência Política (FESPSP) e extensão em Economia (FAAP). Para sugestões e dicas: rikardy.tooge@infomoney.com.br