ENTREVISTA: O que quer a nova conselheira independente da Vale

Em entrevista ao InfoMoney, Sandra Guerra diz que já tem traçado os 3 pontos que irá focar assim que assumir o cargo na semana que vem

Paula Barra

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SÃO PAULO – Especialista em governança corporativa, Sandra Guerra, uma das fundadoras do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa) e eleita ontem ao cargo como conselheira independente da Vale (VALE3), já tem traçado os pontos que irá focar assim que assumir o cargo na mineradora, no dia 26 de outubro. 

Essa é a primeira vez que a companhia terá nomes independentes em seu conselho de administração. Juntamente com Sandra, Isabella Saboya foi eleita, em AGE (Assembleia Geral Extraordinária) na última quarta-feira, ao conselho da mineradora. Ambas foram indicadas pela gestora britânica de recursos Aberdeen. 

Em entrevista ao InfoMoney, Sandra comenta que sua atenção estará direcionada neste primeiro momento a 3 pontos principais. São eles: 

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1) Entender para onde vai a Vale, as oportunidades que a mineradora tem pela frente, tendo em vista que está em uma fase avançada de eficiência e deve entrar em um cenário de excedente de caixa.

“É muito importante entender como a companhia vai aplicar esse excedente de forma a investir em iniciativas com resultados para todos os acionistas”. 

2) No tema sustentabilidade, que vê como “completamente interconectado” com a estratégia da empresa.

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“Não é uma coisa que se reporta, tem que estar absolutamente conectada com a estratégia da empresa. É importante a companhia considerar de que forma pode acelerar as soluções e remediações do caso Samarco e, em um segundo momento, cuidar da sua reputação”. 

3) Na questão da governança corporativa: como trabalhar para transformar a Vale em uma referência “true corporation”, ou seja, uma empresa sem acionista controlador. 

“Como costumo dizer, o conselho é o motor da governança de uma companhia. Em uma empresa que migra para uma estrutura sem controlador, o conselho de reveste de um papel ainda mais importante nesse sentido. Portanto, a composição do conselho de administração em linha com a estratégia da companhia com o grau de diversidade adequado e independência são elementos fundamentais e que não tenho dúvidas de que o mercado apreciaria muito rapidamente quando observasse isso na Vale”, explica.  

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Ida ao Novo Mercado 
Além da eleição dos primeiros membros independentes, os acionistas da mineradora aprovaram ontem da conversão das ações PNs em ONs, condição indispensável para a mineradora avançar em um plano ainda maior: migrar para o Novo Mercado, nível máximo de governança corporativa da B3 – um movimento que pode ocorrer ainda este ano, conforme comentou o presidente da empresa, Fabio Schvartsman, após o resultado da Assembleia Especial na quarta-feira. 

“Será um esforço grande, mas a fala dele é uma demonstração da intenção da companhia. Tomei o conhecimento disso com muito entusiasmo”, disse Sandra quando questionada sobre se haveria tempo para tal migração ainda em 2017. 

Segundo ela, esse passo ampliará ainda mais a confiança que os acionistas depositam na empresa e, consequentemente, deverá se refletir em valorização da ação. “Temos constatado historicamente que a diminuição de incertezas em relação à governança precifica melhor as empresas. Comparando a Vale com outros pares internacionais, percebemos que há uma oportunidade de criação de valor através dessa melhoria da governança da empresa”, disse.

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“Agora, há caminhos e caminhos de se fazer isso: há o caminho em que você pode ir atrás da conformidade das regras do Novo Mercado; e o caminho que você pode criar valor, em que as regras do Novo Mercado são uma orientação mas não necessariamente a destinação final”. Questionada sobre qual caminho a Vale iria trilhar, ela disse que vai saber na semana que vem, “quando sentar lá para ver”.

Sandra apontou ainda sobre os avanços da Vale em termos de diversidade no conselho de administração, lembrando que até o ano passado não havia nenhuma mulher. Hoje, são três mulheres entre 12 membros, sendo que Sandra e Isabella Saboya foram eleitas ontem como conselheiras independentes; antes, havia apenas a diretora do Bradesco Denise Pavarina. “Dado a relevância que a empresa tem – não apenas no País, mas internacionalmente -, isso pode passar a ser uma referência no nosso mercado”, comentou.